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Kenyon Mayeda: Trazendo um legado multigeracional e multicultural para o JANM

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Kenyon Mayeda é o novo Diretor de Operações do Museu Nacional Japonês Americano (JANM), cargo que, entre outras coisas, envolve o funcionamento diário do museu. Ele ainda se lembra das suas primeiras visitas ao campo de concentração de Manzanar [na Califórnia] com o seu pai, Mark Mayeda. Isso foi antes de existir um museu no campo, quando ainda havia algumas áreas cobertas de louça quebrada e lixo.

Sangoro Mayeda (primeira fila, segundo a partir da esquerda) no campo de concentração de Manzanar em 1943.

Durante a infância, quando Kenyon retornava a Manzanar o seu pai achava cartuchos de espingarda vazios e caixas de munição para tiro ao alvo que haviam sido deixadas para trás. Apesar do seu pai ter sido apenas um bebê quando foi embora de Manzanar, ele dizia: “Eu nasci aqui. Eu tenho um sentimento conectado com esse lugar, com essa área”.

Seu pai não compartilhava abertamente histórias de família relacionadas a Manzanar, mas Kenyon conseguiu juntar informações ao fazer muitas perguntas. Kenyon e a sua esposa têm duas filhas, de 2 e 5 anos de idade. Ser pai fez com que ele entendesse como deve ter sido difícil cuidar de uma família naquele ambiente desolado e hostil. Ele planeja levar as filhas até Manzanar quando ficarem mais velhas.

Sangoro Mayeda (na frente, à esquerda) no Japão em 1906.

Kenyon tem ascendência mista do leste asiático: o pai é nipo-americano, a mãe é sino-americana. E ele tem ainda duas irmãs mais velhas. Seu avô japonês, Sangoro Mayeda, emigrou para os EUA em 1915. Sua avó japonesa, Emily Mayeda, nasceu e cresceu em Oakland [na área de São Francisco]. Seus avós foram transferidos à força da região da Baía de São Francisco para Manzanar. Naquela época, Sangoro trabalhava numa fazenda em Florin, na Califórnia. Antes de deixarem Manzanar, o pastor local pediu a Sangoro para retornar anualmente para realizar rituais religiosos no cemitério. Foi uma responsabilidade que ele cumpriu todos os anos até o seu falecimento.

Depois de Manzanar, a família Mayeda se mudou para Los Angeles com os seus dois filhos: uma filha pequena e um filho bebê, Mark. Eles moravam onde for que tivessem condições de pagar, às vezes até nas garagens das pessoas. E a família continuou aumentando, chegando a cinco filhos: duas filhas e três filhos. Sangoro trabalhou como jardineiro para os artistas Charles e Ray Eames no seu estúdio em Venice [no Condado de Los Angeles]. Charles e a sua esposa, Ray, não apenas eram artistas mas também pioneiros no design de móveis e edifícios modernos; as cadeiras Eames são exemplos emblemáticos do modernismo americano do século XX. Emily trabalhou como governanta e posteriormente como cozinheira em tempo integral. Como um presente para Sangoro e Emily, foi dada à família Mayeda uma cadeira Eames após o falecimento de Ray Eames.

Sangoro, Emily, Fumio e Mark Mayeda em 1945.

Eventualmente, eles economizaram o suficiente para comprar uma casa numa área de Venice de custo mais acessível, onde também moravam funcionários de um resort e hotel à beira-mar que se ficava nas cercanias. O bairro era predominantemente afro-americano, contando com poucos residentes nipo-americanos. A família Mayeda frequentava o Templo Budista de Gardena [cidade localizada na área centro-sul do Condado de Los Angeles]. Sangoro faleceu antes de Kenyon nascer, mas ele passou a conhecê-lo através das histórias do seu pai. Ele se lembra de Emily nos seus anos de infância, apesar dela ter começado a sofrer de Alzheimer.

Ele disse: “Não importando a distância me separando daquele lugar, eu tenho plena consciência de que todos os privilégios que eu tive na minha vida foram resultados dos seus esforços, da sua ética profissional, da sua dedicação à comunidade para garantir não apenas que Manzanar não caísse no esquecimento, mas também para sustentar a sua família. Aquilo tudo permitiu que o meu pai me proporcionasse a vida que eu tenho. Eu vejo essa conexão apesar do fato do meu avô ter falecido antes de eu nascer.”

O avô chinês de Kenyon, George T.M. Ching, nasceu em Berkeley [na área de São Francisco] em 1914. O pai de George era estudante de Ciências Políticas em Berkeley. Ele acabou voltando para a China, onde George foi criado. George retornou aos EUA quando já adulto para estudar na Universidade de Stanford de 1937 a 1939, obtendo um mestrado em Economia com ênfase no setor bancário. Ele se casou com Tsui Lin Ching e foi bancário em Hong Kong após a Segunda Guerra Mundial. Em 1951, a família fugiu dos comunistas e se mudou para Los Angeles. A princípio, Ching teve que trabalhar em três empregos para sustentar a família.

George Ching obteve o mestrado em Economia pela Universidade de Stanford em 1939.

Mais tarde, ele foi um dos fundadores do Cathay Bank, inaugurado em Los Angeles em 1962, e atuou como o primeiro presidente e CEO do banco. Este foi o primeiro banco pertencente e operado por sino-americanos no sul da Califórnia. Deborah Ching, que era filha do George, disse que o seu pai percebeu que muitos dos imigrantes chineses da primeira geração não conseguiam obter empréstimos dos bancos mais importantes. Ela disse, “e isso impactava a possibilidade de abrir um negócio, formar um lar, comprar um carro, ou até mesmo mandar os filhos para a escola. E ele quis ajudar nisso.”

Deborah Ching, a mãe de Kenyon, era a mais jovem das três filhas. Na sua infância, Kenyon conheceu os seus avós chineses, tendo passado bastante tempo na Chinatown de Los Angeles. Sua mãe era a Diretora Executiva do Centro de Atendimento de Chinatown. Kenyon também ia com frequência a Koreatown, onde o seu pai tinha uma posição de liderança no Centro Comunitário e Juvenil de Koreatown (KYCC). Seus pais davam muita ênfase à comunidade e à assistência aos outros. Kenyon se juntou ao grupo de estudantes KYCC e, apesar de ser o único não-coreano, se tornou presidente da Coalizão Coreana de Estudantes na Califórnia. Isso permitiu que ele encontrasse o seu lugar em outras comunidades de ascendência do leste asiático.

Deborah Ching foi Diretora Executiva do Centro de Atendimento de Chinatown durante a juventude de Kenyon.

Kenyon também guarda boas lembranças de mochisuki, obons, atividades para a angariação de fundos e eventos no Templo Budista de Venice, o qual a sua família frequentava. Ele se lembra da comida deliciosa, das crianças correndo, dos encontros com os amigos e da convivialidade de estar com tios, tias e familiares.

Como os seus pais haviam formado uma família de herança cultural mista, eles tiveram que fazer concessões com respeito à comida. “Quando a gente faz parte de uma família multicultural, pelo menos a minha, a gente tem que tomar algumas decisões porque o lado chinês come arroz de grão longo enquanto que o meu pai cresceu comendo arroz de grão curto”, Kenyon explica. Seus pais decidiram comer arroz de grão curto, e preparavam pratos japoneses e chineses. A mãe dele era vegetariana ou vegana, e por isso eles comiam muitas verduras. Além disso, havia uma grande variedade de estilos culinários em Los Angeles que eles podiam escolher, incluindo pratos americanos, mexicanos, coreanos e de outras cozinhas nacionais.

Kenyon e seu pai Mark Mayeda.

Enquanto cursava o ensino médio, ele viajou para Kaizuka, no Japão, em um intercâmbio entre cidades irmãs. Ele teve um “choque cultural,” já que era um nipo-americano hospedado com uma família tradicional japonesa. Ele só conseguia se comunicar em inglês com uma das filhas. Ele completou o ensino médio na Culver City High. Mais tarde, ele frequentou a Universidade de São Francisco de 2003 a 2006, e se formou em administração de empresas.

Em 2004, ele fez estágio de verão no JANM, onde teve a chance de conhecer líderes cívicos de outros bairros japoneses. O Diretor Executivo Jon Osaki o apresentou ao Conselho Juvenil da Comunidade Japonesa (JCYC). O JCYC é uma organização sem fins lucrativos de São Francisco que fornece atendimento a crianças, jovens e famílias. Kenyon trabalhou lá como professor de pré-escola e diretor de acampamentos de verão, como também nos programas comunitários.

Kenyon Mayeda, o novo Diretor de Operações do Museu Nacional Japonês Americano (JANM), fez estágio de verão no JANM em 2004.

Em 2012, Kenyon participou no Programa de Líderes Emergentes (ELP), o qual faz parte do Conselho EUA-Japão. Atualmente, ele é Presidente Regional do Sul da Califórnia do Conselho EUA-Japão. Durante o seu período como Diretor de Operações Regionais do Cathay Bank em Seattle, ele se manteve em contato com os líderes das comunidades de imigrantes e forjou laços para financiar organizações de bairro.

Ele considera o tempo que passou com a agência de publicidade multicultural e comunitária TDW+Co como “uma época muito marcante”. Seu trabalho incluiu divulgar a importância do Censo de 2020 para as comunidades locais de ascendência do leste asiático. Em seis anúncios em diferentes idiomas asiáticos, menininhas bonitinhas de ascendência do leste asiático convencem os seus pais a preencher os formulários do censo americano. A TDW+Co também apoiou uma campanha da Proctor & Gamble sobre a importância dos nomes, a qual enfatizava a importância de pertencer a uma comunidade ao passo que também abordava questões como o preconceito e a violência contra asiáticos. A campanha contou com a participação de celebridades como Michelle Yeoh e Daniel Dae Kim.

Kenyon espera que a próxima geração de nipo-americanos se sinta conectada ao JANM.
Seus pais ficaram “super felizes” quando ele conseguiu o emprego no museu. Kenyon disse que “eles não apenas são os meus torcedores mais fiéis, mas também são excelentes conselheiros no campo das organizações sem fins lucrativos”. Ele acha que fez um círculo completo ao retornar a uma organização sem fins lucrativos depois de ter trabalhado no mundo das corporações.

Kenyon diz: “O museu se encontra numa fase de transformação, com a reorganização da exposição central, com a renovação do próprio museu. É realmente um grande investimento preparar esta instituição para as gerações futuras.” Ele espera que o museu tenha relevância para as suas filhas quando crescerem. “Como é que a coleção do museu vai continuar a evoluir para refletir uma comunidade nipo-americana cada vez mais multicultural e multirracial?”

Ele acrescenta: “Eu penso no museu da forma que ele vai existir depois que eu não estiver mais aqui. Eu espero que as minhas filhas continuem a visitá-lo e que se sintam conectadas com esse lugar.” Quando o museu foi inaugurado, os seus pais incluíram os nomes de Kenyon e da sua irmã no Pátio Infantil. Agora, os nomes das suas próprias filhas também estão lá.

© 2024 Edna Horiuchi

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About the Author

Edna Horiuchi é professora aposentada residente em Los Angeles. Ela trabalha como voluntária na horta educativa de Florence Nishida no sul de Los Angeles e mantém participação ativa no Templo Budista Senshin. Ela gosta de ler, praticar tai chi e ir à ópera.

Atualizado em junho de 2023

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