Parte 1 >>
Três perspectivas: Japão, Brasil e América
Há uma descrição como esta em ``Burajirumaru''.
Ichiro Terada me contou com orgulho que seu neto havia passado recentemente no vestibular para a Faculdade de Agricultura da universidade. Ele se alegra com essa conquista como se fosse sua e diz: “Os japoneses são originalmente pessoas que vivem em harmonia com a terra. Quando os humanos se mudam para as terras virgens das florestas primitivas, eles se tornam responsáveis pela terra. Devemos fazer o nosso melhor pela terra através da agricultura.” Por outro lado, Terada também fala sobre seus sentimentos complicados em relação à neta. Ela se formou com louvor no Departamento de Arquitetura. No entanto, incapaz de encontrar um trabalho estável no Brasil, ela se tornou um dos mais de 150 mil nipo-brasileiros que migraram para o Japão como trabalhadores de classe baixa nos últimos anos. 〉(Traduzido por Takuo Asano)
Na última parte do livro, há uma menção à vinda de nipo-brasileiros ao Japão para trabalhar, e o ``Circle K Cycles'' de Yamashita foca nesta parte. A partir de março de 1997, cinco anos após a publicação de Burajirumaru, ela morou com sua família na cidade de Seto, província de Aichi, por seis meses. A experiência foi apresentada em tempo real num site chamado cafecreole e compilada em livro em 2001. Na cidade de Seto, onde ela morava, havia muitas lojas de conveniência Circle K e, quando ia para a casa de uma amiga, ela virava à direita ou à esquerda na Circle K, daí o título.
Neste livro, Yamashita relata abertamente como vivem os nipo-brasileiros que vêm para o Japão e trabalham lá e que tipo de problemas enfrentam. Está escrito em ordem cronológica de março a agosto, mas é uma mistura de ensaios e histórias, e está repleto de fotografias e ilustrações. É um livro horizontal, semelhante a um caderno de desenho.
Morar no Japão exige seguir diversas regras. Não fazer barulho, não ter animais de estimação, levar o lixo para fora em determinado dia, pagar taxas de associação, virar o quadro circular, fazer limpeza comunitária, etc. Yamashita explica as regras japonesas, as regras brasileiras e as regras americanas e prega a diversidade cultural. No caso dela, uma característica importante é que além das duas perspectivas do Japão e da América, ela também tem o Brasil, e o fato de olhar as coisas a partir dessas três perspectivas é o que torna seu trabalho tão atraente.
Ao confirmar minha conexão com meus avós
No prefácio de “Circle K Ga Meguru”, Yamashita inclui a frase “Purely Japanese”. Quando ela veio ao Japão pela primeira vez como estudante internacional, aos 20 anos, ela estava ostensivamente pesquisando a cultura japonesa, mas na realidade ela passava a maior parte do tempo viajando para Gifu e Nagano para encontrar suas raízes. Seu avô paterno nasceu em uma pequena vila perto de Nakatsugawa, na província de Gifu, e seus avós maternos eram da cidade de Matsumoto, província de Nagano. Os japoneses às vezes perguntavam a ela sobre seus ancestrais. Quando falo sobre meus avós em Gifu e Nagano, a resposta que recebo é: “Então você é verdadeiramente japonês”. Esses comentários dos japoneses a magoaram e irritaram. Tendo vivido na América, onde muitas pessoas lutam contra a discriminação racial, ela passou a acreditar que a pureza racial não tem valor. Porém, por outro lado, havia também um forte desejo de ser aceito e pertencer.
Mesmo quando ela estava no Brasil, a questão do que significa ser um japonês puro sempre esteve em sua mente. Um dia, um imigrante brasileiro de primeira geração me perguntou sobre minhas raízes. Quando falei sobre Gifu e Nagano, a pessoa ouviu com uma expressão de surpresa no rosto, como se fosse possível que os japoneses puro-sangue mudassem tanto em apenas três gerações.
Neste artigo, Yamashita diz que suas imagens do Japão incluem o recentemente falecido dançarino de butoh Kazuo Ohno, Mazda RX7 e o vocalista do Pizzicato Five, Maki Nomiya. Além disso, no ``Urashima Tamatebako Museum'' (incluído em ``The Promised Land/America''), ``Um dos meus livros favoritos escritos sobre o Japão é ``Eu perguntei aos idosos mais velhos em Tsuchiura, província de Ibaraki' '. A história foi transcrita e resumida por um médico chamado Junichi Saga. Uma tradução para o inglês foi publicada em 1987, com o título ``Seda e Palha: Um Auto-Retrato do Japão em uma Cidade Pequena'' (a versão japonesa era ``. `Campo Rural''). O Japão que Saga retrata neste livro é o Japão do final do século 19 e início do século 20, e Yamashita especula que provavelmente não é diferente do Japão que seus avós conheceram. Ela provavelmente sente que está ligada às memórias do Japão dos seus avós.
Verifique sua posição atual enquanto verifica seu passado. Ela deve estar repetindo esse ato o tempo todo, viajando de um lado para o outro entre a América, o Brasil e o Japão. Para ela, a questão do que é verdadeiramente japonês é uma questão simbólica que confirma quem ela é. O seu último livro, “I Hotel”, publicado este ano e com mais de 600 páginas, também pode ser considerado uma obra que nasceu desta questão.
*Este artigo faz parte da série de colunas ``Kaze'' publicada pela revista web ``Kaze'' da Association Publishing, que publica informações sobre novos livros, incluindo artigos que relacionam questões atuais e tópicos diários a novos livros, best-sellers mensais e colunas críticas sobre novos livros. Esta é uma reimpressão do 13º episódio de ``From the Point of View.''.
© 2010 Association Press and Tatsuya Sudo