Quando vamos ter a chance de ver o filme aqui no Canadá?
Espero que neste outono no Festival Internacional de Cinema de Vancouver. Nós vamos inscrever o nosso filme no festival de cinema e esperamos que ele venha a ser selecionado na sua programação. O plano é que esta seja a estreia canadense em 2016.
A realidade é a seguinte: muitos filmes bons estão sendo feitos hoje em dia em todo o mundo, e não há garantia de que um filme vá chamar a atenção. O festival de Sundance teve 12,793 inscrições este ano, mas apenas 122 filmes foram selecionados e exibidos. A competição fica extremamente difícil com números desse nível. Mas vamos fazer o máximo possível e espero que a gente tenha sorte. O filme é bom; ele só precisa ser visto.
Quais são as características particulares que distinguem este filme dos outros? Por que deveria ser selecionado?
Não, eu não posso responder essa pergunta. É uma obra de arte de uma cineasta independente ... ou seja, é o meu coração unido àqueles de Tohoku. Pois então, eu não posso dizer porque este filme deveria ser selecionado ao invés de outros. Cada obra de arte tem seus méritos. Cabe ao público responder esta pergunta.
Você já o apresentou em Sendai. Como foi recebido lá?
Eu apresentei “prévias” do filme ainda inacabado, como um “trabalho em andamento” para uma plateia específica em Sendai e na sala de exibição da embaixada do Canadá em Tóquio. Essas apresentações foram incrivelmente comoventes.

Fiquei surpreendida com a forte reação das plateias japonesas e de Tohoku. Quando a sessão acabou e as luzes se acenderam ... uma pessoa na platéia começou a cantar Furusato (uma canção cantada em Tohoku no Shingetsu). Aquela única voz inspirou outras vozes a cantarem também ... até que todo mundo ficou de pé, cantando para os sobreviventes de Tohoku no filme, que estavam comigo em frente à plateia.
Nem precisa dizer que não sobrou nem um olho seco na sala. Que bela, belíssima recepçãopara o nosso filme. O filme já está dando no que falar ... as pessoas que já assistiram, acham que é um filme importante, especialmente no Japão.
Pois então, muitos filmes e projetos são iniciados, mas nunca alcançam a linha de chegada. Por isso eu me sinto muito grata por termos alcançado a linha de chegada desta maratona. E agora fica por parte do público.
Você pode nos dizer quem esteve envolvido no documentário, tanto aqui como no Japão? Tem algum ator japonês famoso que poderíamos conhecer?
A atriz Tamiyo Kusakari de Dança Comigo?, vencedora do Prêmio da Academia Japonesa de Cinema, se ofereceu para fazer a narração em japonês do Tohoku no Shingetsu, a qual foi feita num estúdio de gravação em Onomichi. Apesar da Tamiyo morar em Tóquio, ela atenciosamente viajou até Onomichi para gravar uma narração maravilhosa. Eu tive muita sorte de poder contar com o seu talento e apoio neste filme.
O marido de Tamiyo é o respeitado diretor japonês Masayuki Suo. Ele nos tem oferecido apoio e dicas por trás das câmeras, coisa que dinheiro realmente não pode comprar.
No geral, eu fui muito sortuda de ter tido tantas pessoas generosas e talentosas envolvidas neste projeto. Estou muito agradecida a todas elas.

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Sobrevivendo Cinco Anos Depois ...
Você pode nos dar uma atualização sobre o que está acontecendo com os sobreviventes de 03/11? Eles estão lidando bem ou não com a situação? As coisas lá estão melhores do que há um ano atrás?
Em setembro, depois de terminar a parte visual da montagem do filme, eu fui ao Japão para fazer uma série de palestras (para começar a promover o filme e para ganhar algum dinheiro para continuar trabalhando nesse filme!). Enquanto eu estava por lá, eu viajei até Tohoku, passando pelas prefeituras de Iwate, Miyagi e Fukushima para contar – para dar um “alô” às pessoas e para ver como estavam indo os amigos que fiz desde 2011. E também para mostrar a eles a sua participação no filme antes da exibição pública.
Eu tinha ficado longe do Japão por quase dois anos, ocupada editando a parte visual do filme em Vancouver e me mantendo em contato com as pessoas de Tohoku apenas através de e-mails. Depois dessa ausência de dois anos, eu estava esperando encontrar várias grandes mudanças nas suas vidas e condições. Mas fiquei um pouco chocada e entristecida de ver o quão lento tem sido o progresso em algumas áreas.
Quase todas as pessoas que entrevistei (mais de 80 pessoas) que estavam morando em kasetsu (alojamentos temporários) em 2011 ainda estão morando neles hoje. Apenas umas poucas (duas ou três famílias) tiveram sorte o suficiente para deixar para trás a “vida em kasetsu” e voltar a morar numa casa. O restante está vivendo em pequenos e muitas vezes remotos grupos de “acampamentos kasetsu”. A lei japonesa com respeito aos kasetsu afirma que habitações temporárias para as vítimas de desastres são construídas para serem utilizadas por dois anos. Eles agora já estão nessa há mais de cinco anos.
Se eu me sinto desapontada, eu mal posso imaginar o que eles devem estar sentindo.
Dependendo de onde você for, o progresso ou falta de progresso é diferente, desde a parte norte, na aldeia de pescadores de Otsuchi, em Iwate, até as cidades fantasmas abandonadas como Odaka, perto da usina nuclear em Fukushima ... O progresso é diferente.

Como assim?
As vítimas são muito pacientes e tolerantes e muitas delas encontraram contentamento de maneiras simples, mas profundas. As estatísticas mostram que o estresse emocional e a depressão são os principais problemas enfrentados pelos sobreviventes em 2016.
O que podemos fazer aqui no Canadá/EUA para ajudar os sobreviventes?
Não se esqueçam deles. Tentem compreendê-los. Aprender com eles. Vendo e vivendo as nossas próprias vidas de uma forma mais clara.
A assistência não é mais necessariamente ligada a doações financeiras. Tem mais a ver com se dar ao trabalho de escutar e expressar compaixão. Na verdade, muitas pessoas de Tohoku têm vergonha de receber “esmolas” e sentem que seu orgulho próprio foi reduzido. O povo de Tohoku é composto de pessoas que sabem como tirar proveito da natureza começando do zero. O povo de Tohoku sabe como compartilhar a metade do que eles têm com os outros. Estas características formam o núcleo do espírito de Tohoku.
Estas são as coisas que vi ao longo destes cinco anos convivendo com o povo de Tohoku e que aprendi a ver novamente na minha própria vida.
Você pode compartilhar algumas destas histórias no documentário?
Vou deixar isso para o público descobrir quando assistirem Tohoku no Shingetsu. É uma história humana, e não apenas uma história sobre o povo de Tohoku. É uma história sobre os costumes e tradições japonesas, tanto as partes boas quanto as ruins. É uma história sobre o amor e o companheirismo.

(Foto cortesia de Linda Ohama)
Como foi esta jornada pessoal?
Incrível. Um aprendizado incrível: o idioma, Tohoku, a cultura japonesa. Um desafio incrível, fisicamente, financeiramente e mentalmente. Incrivelmente gratificante: passando a conhecer e me conscientizando que existem tantos seres humanos maravilhosos. Um alívio incrível de ter terminado a parte do “trabalho” no projeto. Incrivelmente nervosa com respeito se vamos ou não conseguir um público para dar ouvidos às vozes de Tohoku. Tudo isso e muito mais. Mas tem uma frase que consegue descrever tudo: uma jornada incrível.
O que ainda precisa ser feito? Alguma necessidade a ser satisfeita?
Ainda tem muita coisa para se tentar e fazer.
A essa altura, quais são as suas esperanças para o documentário?
O primeiro festival de cinema. As apresentações em Tohoku. Encontrar um público. Assistência para as pessoas de Tohoku.
Por que ainda é importante lembrar 03/2011 em 2016?
Isso nos lembra que devemos apreciar a vida, a natureza e uns aos outros todos os dias.
“Shingetsu” quer dizer “uma lua nova” em japonês; a lua que não podemos ver no céu da noite, apesar de que ela está lá. É como Tohoku e a própria vida. Tem tantas coisas na vida que não podemos ver, mas podemos sentir se prestarmos atenção. Estas podem se tornar as coisas mais maravilhosas, alegres e puras do nosso dia, mas às vezes nós estamos muito ocupados ou preocupados para nos dar conta. Tem tanta coisa que podemos apreciar e tanto para sermos gratos, mesmo quando você acabe com o que parece não ser nada.

(Foto cortesia de Linda Ohama)
Para maiores informações, visite http://www.lindaohama.com/
© 2016 Norm Ibuki