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Parte 1: Chute uma criança escada abaixo

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A realidade que vi enquanto viajava numa vida assolada pela pobreza

Poucas pessoas foram tão empáticas e dedicadas aos brasileiros comuns quanto ele. Toru Sadamori (40 anos, da província de Chiba) não é imigrante. Porém, ele é uma pessoa incomum que passou 17 anos no Brasil desde que se formou na universidade. Em Seiichi, ele mora nas favelas de Monti Azul, no estado do Ceará, e agora na cidade de Manicore, no estado do Amazonas, e com o apoio do escritório JICA Brasil, trabalha em um projeto para melhorar a vidas de pessoas que vivem em áreas remotas. Seguimos a trajetória de Sadamori, que se envolve consistentemente em atividades voluntárias relacionadas à melhoria de vida das pessoas comuns.

O ímpeto para que eu entrasse no trabalho voluntário internacional foi a realidade da desigualdade social que senti enquanto vagava pela América Central e do Sul quando era estudante.

Em 1989, quando eu era estudante universitário do terceiro ano, viajei do México para a Argentina em uma viagem de pobreza. Enquanto Sadamori comia bife em um restaurante de Buenos Aires, uma criança que morava na rua se aproximou dele e pediu um osso.

O Sr. Sadamori trabalha no escritório HANDS Brasil da Manicore.

Assim que ele o entregou e disse: “Tudo bem”, um funcionário da loja entrou voando, puxou a criança para fora da loja e o chutou escada abaixo.

“Isso é algo que você não faria com um cachorro”, disse Sadamori, atordoado e profundamente chocado. "Por que isso acontece?" Uma realidade completamente diferente da do Japão se desdobrou diante dos meus olhos. “Preciso saber mais sobre a pobreza”, ele refletiu.

Em 1992, veio para o Brasil como estagiário na Associação de Intercâmbio Japão-Brasil. Foi enviado para San Bernardo do Campo por cerca de um ano. “Eu queria trabalhar em uma favela há cerca de um ano, mas minha sorte acabou”, ele diz rindo. Ajudei moradores de favelas a colocar tijolos um por um para construir casas. Nessa época conheceu Daisuke Onuki, que fazia trabalho voluntário em Monti Azur, nos arredores de Seiichi, e sua vida mudou drasticamente.

Após completar o estágio em março de 1993, retornou ao Japão, mas o projeto que havia investido no Fundo Internacional de Poupança Voluntária do Ministério dos Correios e Telecomunicações foi bem-sucedido e ele retornou ao Brasil em julho. Desde então, tem estado consistentemente envolvido em atividades sociais nesta área.

Eles construíram uma clínica e uma creche em uma favela perto de Seiichi. Realizou uma campanha de sensibilização sobre a SIDA, uma doença cujos perigos e conhecimentos preventivos não eram suficientemente conhecidos do público em geral, e em 1997 construiu um orfanato contra a SIDA.

Depois disso, mudei-me para o estado do Ceará e passei quatro anos, até 2001, como coordenadora do “Projeto Brasileiro de Saúde Materno-Infantil de Planejamento Familiar”, que promove métodos humanitários de parto. Depois, ela voltou para Seiichi e ajudou a montar uma creche para filhos de pacientes com AIDS. “É mais fácil conversar com os pais se eles também forem pacientes”. Os medicamentos contra a SIDA estavam finalmente a generalizar-se e estavam a ocorrer mudanças, tais como menos órfãos da SIDA do que antes.

Em 2001, quando voltei temporariamente ao Japão após o término do projeto, fui abordada pela ONG japonesa HANDS, da qual pertenço atualmente, sobre manicure. Iniciamos um projeto para conscientizar e capacitar a Agência Comunitária de Saúde (agentes comunitários de saúde), responsáveis ​​pela prevenção de doenças e aconselhamento em saúde.

Sadamori ri e diz: “Sou o único japonês num raio de 200 km”. Mesmo no Brasil a situação é completamente diferente de Seiju, onde a maioria das cidades é composta por pessoas de ascendência japonesa. Existe apenas uma pessoa de ascendência japonesa, uma freira católica de Seiichi.

Em meio a tudo isso, o Sr. Sadamori trabalhou sozinho como gerente de projetos no escritório da HANDS Brasil com quatro funcionários locais, e há quatro anos ele se casou com uma mulher da mesma cidade que era nativa do Japão, e eles foram abençoados com dois filhos.

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*Este artigo foi publicado originalmente no Nikkei Shimbun em 22 de novembro de 2008 e reimpresso com permissão.

* Nikkei Shimbun ( www.nikkeyshimbun.com.br ) é um jornal japonês publicado na cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, Brasil, voltado para imigrantes, descendentes de japoneses e expatriados.

© 2008 Nikkey Shimbun

Região do Rio Amazonas Brasil Peru
Sobre esta série

Reimpresso do Nikkei Shimbun ( www.nikkeyshimbun.com.br ), jornal japonês publicado na cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, Brasil, voltado para japoneses e expatriados. Um relatório sobre a comunidade japonesa que vive na Amazônia, de Masayuki Fukazawa, editor-chefe do Nikkei Shimbun. 6ª série.

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About the Author

Nasceu na cidade de Numazu, província de Shizuoka, no dia 22 de novembro de 1965. Veio pela primeira vez ao Brasil em 1992 e estagiou no Jornal Paulista. Em 1995, voltou uma vez ao Japão e trabalhou junto com brasileiros numa fábrica em Oizumi, província de Gunma. Essa experiência resultou no livro “Parallel World”, detentor do Prêmio de melhor livro não ficção no Concurso Literário da Editora Ushio, em 1999. No mesmo ano, regressou ao Brasil. A partir de 2001, ele trabalhou na Nikkey Shimbun e tornou-se editor-chefe em 2004. É editor-chefe do Diário Brasil Nippou desde 2022.

Atualizado em janeiro de 2022

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