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Memórias da Associação Centro Social Ibaraki do Brasil na Minha Vida

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Primeira parte: Infância

Meu nome é Janina Tiemi Enomoto, sou descendente de japoneses da terceira geração por ambos os lados. Nasci em uma região de conurbação da cidade de São Paulo. Meus familiares são da grande região de São Paulo e frequentei uma escola brasileira na qual os únicos descendentes japoneses eram meus primos.

Quando eu era pequena, meus avós frequentavam a região da Liberdade, em São Paulo, para comprar alimentos como tofu, missô e hondashi, usados no preparo do almoço ou do jantar. Lembro-me de, várias vezes, comer onigiri e omelete com um pouco de açúcar, preparados por minha bachan. Meus avós também visitavam frequentemente as lojas da Liberdade, o templo budista em São Paulo e o Ibaraki Kenjinkai, que é o que irei descrever hoje.

O Ibaraki Kenjinkai de São Paulo

Minhas idas ao Kenjinkai sempre foram acompanhadas por meus pais e avós, geralmente nos finais de semana. Como era pequena, não lembro exatamente quais eventos eram comemorados, mas, pela placa na entrada do local, havia workshops de ikebana, karaokê, shodô, bon odori e outras atividades voltadas para os idosos. A Associação Centro Social Ibaraki do Brasil foi criada em 1961. Sua sede fica em São Paulo, na região da Aclimação, com duas unidades regionais em Guatapará e Mogi das Cruzes. Meu tio-avô, Hideo Enomoto, foi um dos primeiros presidentes. No entanto, lembro-me mais do meu avô, Minoru Enomoto, que, junto com meu pai, Nelson Takeshi Enomoto, me levava ao local. Talvez fossem festividades como bonenkai, shinnenkai ou um final de semana com atividades de shodô e sumiê.

As idas ao Kenjinkai eram um evento familiar. Meus amigos frequentavam igrejas ou clubes, e houve um período em que tive dificuldades para entender que naquele espaço se falava japonês. Com o tempo, compreendi que meu avô falava comigo nessa língua para me ensinar. Quando pequena, não havia muitas crianças para brincar comigo no salão grande. No final, eu costumava ficar sentada ao lado da minha família ou ajudando a levar chá, refrigerante e comida da cozinha para o salão principal, onde, na maioria das vezes, a comida era preparada pelas mulheres.

Artefatos culturais no kenjinkai
           

Segunda parte: Vida adulta

Quando eu tinha sete anos, minha família mudou de cidade e paramos de frequentar a associação. Comecei a estudar língua japonesa no Nippo de Campinas e, anos depois, entrei na Universidade de Campinas. Mesmo assim, ouvi falar sobre bolsas de estudo para o Japão e decidi cursar japonês como matéria extra. Meu pai foi bolsista do programa Kempi e dizia que na época dele era fácil ir ao Japão, mas eu não sabia se ainda havia bolsas disponíveis.

Em 2019, consegui a bolsa MEXT de Língua e Cultura Japonesa para descendentes e estudei na Hokkaido Kyōiku Daigaku. Infelizmente, em 2020, a pandemia de COVID-19 afetou o mundo e, consequentemente, meus planos de viajar para a cidade de origem dos meus antepassados. Assim, passei praticamente todo o intercâmbio em Hokkaido.

A autora em um evento do kenjinkai
Quando voltei ao Brasil, decidi me reconectar e retribuir o que aprendi no Japão, tanto na área acadêmica quanto no trabalho voluntário. Entrei em contato com o Ibaraki Kenjinkai e me juntei à ABMON (Associação dos Bolsistas do governo japonês). Participei do Festival do Japão, ajudando na produção de dorayaki com kuri.

Em 2022, o Ibaraki Kenjinkai celebrou seus 60 anos de existência. O governador de Ibaraki e sua comitiva vieram ao Brasil para a comemoração. Foi um evento marcante, pois há tempos não via o Kenjinkai tão cheio. Tanto o andar inferior quanto o superior do prédio estavam repletos de pessoas. No entanto, diferente da minha infância, havia poucas crianças correndo pelo saguão, e os presentes em sua maioria eram idosos recebendo condecorações.

De 2022 a 2024, fui a segunda secretária do Ibaraki Kenjinkai e organizei diversas atividades para o grupo de jovens, como estudo para a prova de proficiência em língua japonesa e a criação do Instagram da associação.

Como ainda morava longe, minhas contribuições foram principalmente online. Em 2023-2024, graças à indicação da então presidente Izumi Honda, recebi a bolsa Kempi-Trainee do programa de formação de líderes nikkeis, voltado para descendentes latino-americanos (Brasil e Argentina). Uma das perguntas que ela me fez foi se eu moraria em São Paulo novamente no futuro. Na época, minha resposta era incerta. No entanto, continuei ativa na divulgação das atividades da associação nas redes sociais. Durante essa experiência, pude me aprofundar na pesquisa acadêmica sobre sociologia da educação na Universidade de Tsukuba.

Diferente da primeira vez no Japão, dessa vez consegui visitar a região de Ibaraki, onde meu bisavô nasceu. Também aproveitei a oportunidade para conhecer Tochigi e Niigata, locais de origem dos meus outros avós. Foram visitas breves, mas me ajudaram a compreender melhor as dificuldades da agricultura em climas frios e a realidade das famílias numerosas da época. De volta ao Brasil, continuo enfrentando dificuldades para participar presencialmente das atividades do Kenjinkai, pois ainda moro longe. Além disso, sinto um distanciamento dos jovens da associação devido à diferença de idade e ao fato de não fazer mais parte da diretoria. Atualmente, as atividades mais populares são as práticas de shodô, sumiê e tênis de mesa.

 

© 2025 Janina Tiemi Enomoto

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About the Author

Janina Tiemi Enomoto, nikkei de terceira geração brasileira. Formada em Filosofia pela Unicamp, é pesquisadora de mestrado na Universidade de Tsukuba na área de Educação Internacional. Seus interesses incluem os estudos sobre educação nikkei no Japão e a estética filosófica da cerimônia do chá. Ex-bolsista do MEXT (Língua e Cultura, Hokkaido University of Education, 2019-2020) e do Ibaraki Kenpi Ryūgaku (Universidade de Tsukuba, 2023-2024), é atualmente bolsista da Nippon Zaidan (2025-2030).

Última atualização em abril de 2025

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