Não deixa de ser curioso o interesse que brasileiros, jovens em sua maioria e, em grande parte, sem ascendência japonesa, têm pela denominada cultura “Otaku”, que tem conquistado seus corações e mentes em todo o país. A cultura “Otaku” é uma manifestação rica e multifacetada que inclui não apenas animes e mangás, mas também práticas como cosplay, jogos eletrônicos e um estilo de vida que valoriza a estética japonesa. O fenômeno é, na verdade, um reflexo de um desejo mais amplo de exploração e escapismo em um mundo cada vez mais complexo e desafiador.
Nesse contexto, os jovens encontram um universo rico que aborda desde questões de amizade e amor até dilemas existenciais, despertando o interesse e a empatia por meio de narrativas que, mutas vezes, embora vividas em um universo fantástico, ressoam com suas experiências cotidianas. Por exemplo, séries como Naruto e One Piece exploram temas universais de amizade, amor, heroísmo, que encontram eco nas experiências de vida desses jovens. Além disso, as histórias retratadas em animes frequentemente incluem jornadas de superação e desenvolvimento pessoal, o que ressoa com os desafios enfrentados pelos jovens na sociedade contemporânea.
Outro aspecto importante é a estética aprimorada que caracteriza os animes e mangás. As ilustrações vibrantes, os traços detalhados e os enredos imersivos atraem uma vasta audiência. Além disso, a variedade de gêneros – que vai do romance ao horror, passando por comédia e drama – permite que cada jovem encontre algo que se alinhe com suas preferências pessoais. Nos eventos e convenções de cultura pop como as conhecidas “Anime Friends”, os jovens se reúnem não apenas para consumir, mas para celebrar e compartilhar suas paixões, criando uma comunidade vibrante e engajada. A união por meio dessas experiências coletivas fortalece laços entre os participantes e reforça a identidade como parte de um mesmo grupo.
A busca pelo Japão por esses jovens é quase uma consequência e vai além do simples consumo dos produtos culturais. O Japão, com sua história milenar e inovações tecnológicas, exerce um fascínio natural sobre esses jovens brasileiros. Para muitos. essa viagem representa não apenas um sonho, mas uma forma de materializar a paixão que nutrem por essa cultura. Conhecer “in loco” as paisagens, a arquitetura e a grandeza daqueles que foram seus ídolos em série animada é uma experiência que transcende o entretenimento, transformando-se em uma jornada de autoconhecimento. A ideia de visitar o Japão se torna, assim, um sonho palpável.
Festivais de anime eventos de cosplay e festivais que ocorrem no Brasil ajudam a cultivar esse interesse, criando uma comunidade vibrante onde jovens se reúnem para compartilhar sua paixão. Nesses encontros, eles não apenas discutem suas séries e personagens favoritos, mas também fazem amigos que compartilham o mesmo amor pela cultura japonesa.
Apesar do alto custo para a concretização do sonho, muitos jovens brasileiros se dedicam arduamente para realizar essa viagem. Isso inclui economizar dinheiro, trabalhando em empregos temporários ou realizando bicos, tudo em nome do sonho de conhecer de perto o que apenas viam em telas ou páginas.
As redes sociais, que permitem a troca de experiências e dicas sobre viagens, também contribuem para que esses jovens se sintam mais preparados e motivados a visitar o país. O Japão, não é só um destino turístico para eles, mas um espaço onde a fantasia e a realidade se entrelaçam de uma forma que elas parecem ser únicas.
Essa determinação é um reflexo não apenas da paixão pela cultura, mas também da esperança de que, ao vivenciar o Japão, possam encontrar novas oportunidades pessoais e profissionais. Inúmeros são os exemplos de jovens que, por razões diversas, lá permaneceram até hoje e alguns já constituíram família. Assim, a cultura “Otaku” torna-se um dos muitos caminhos que os jovens brasileiros trilham para buscar pertencimento, identidade e, sobretudo, um futuro cheio de possibilidades.
Exemplos como o do jovem Caíque Carlos de Campos que, com esse objetivo, dá um duro danado como caixa de um supermercado, fazendo horas extras com o intuito de obter a necessária poupança para a viagem. Ao mesmo tempo, participa de cursos on-line de língua japonesa na busca de um conhecimento básico do idioma que irá facilitar a sua adaptação. “Se Deus permitir, vou conseguir viajar ainda este ano!”, diz ele.
Luana Moreira é outra brasileira, jovem e bonita, que persegue com afinco o seu sonho, enquanto conclui o terceiro ano do ensino médio. Trabalhando como promoter ela se desdobra incansavelmente em atividades promocionais, inclusive em fins de semana, para obter o necessário recurso financeiro. Paralelamente, é figura carimbada nas festas e festivais da colônia japonesa, onde atua como cosplay das mais animadas. Luana tem muitos amigos nikkeis, espalhados pelas associações de províncias (Kenjinkais), que a ajudam a familiarizar-se com a cultura japonesa.
Merece ser citado o jovem Pablo, um argentino, filho de ilustre escritora que desde criança nutria uma paixão inexplicável pela cultura japonesa. Com 6 apenas, já dizia que quando crescer iria viver no Japão. Um dia, após a conclusão do ensino médio, surpreendeu sua atônita mamá ao confessar que havia obtido uma bolsa de estudos do governo japonês para cursar uma universidade na cidade de Tóquio.
Já quase concluindo o curso, o jovem recebeu pela primeira vez a visita de sua mamá, recepcionando-a com um japonês quase fluente, como bem demonstrou quando a levou para conhecer os principais pontos turísticos de Tóquio. Parecia um nativo, tamanha a desenvoltura. Naquele momento, “la mamá, escritora” constatou que aquele menino, tímido e fechado, que deixara a Argentina pouco tempo atrás, era uma outra pessoa. “Ahora, era un adulto independiente que ha armado su vida en otra dimensión”.
São os fascínios, quase inexplicáveis, que a milenar cultura japonesa, com as suas tradições e modernidade, tem encantado muitos jovens, brasileiros e de outros países.
© 2025 Katsuo Higuchi