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Um Resumo Histórico do Taiko - parte 2

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Parte 1 >>

Como no Japão, a função do taiko nos Estados Unidos sofreu uma mudança radical quando foi tirada de seu contexto ritualístico. Depois de guardar o tambor após o Bon odori no verão de 1969, o Reverendo Masao Kodani do Templo Budista Senshin em Los Angeles e George Abe, um membro do templo, começaram a batucar. Horas mais tarde, com as mão feridas e ensanguentadas, os dois jovens Nikkei decidiram que aquilo “era divertido!” Pouco depois, juntaram-se a eles outros sansei que estavam em busca de atividades que os permitissem expressar tanto sua herança quanto seu hibridismo cultural. Eles então formaram o Kinnara Taiko, o primeiro conjunto de taiko criado por nipo-americanos para nipo-americanos.

Siichi Tanaka. San Francisco. Foto de San Francisco Taiko Dojo (2005.97.2)

No ano anterior, 1968, Seiichi Tanaka, um imigrante japonês do pós-guerra, havia começado a fazer apresentações de taiko nos festivais da comunidade japonesa de São Francisco. Tanaka treinou com os conjuntos Osuwa Taiko e O Edo Sukeroku Taiko, e sua mais importante contribuição para a história do taiko americano é o fato de ter trazido técnicas e formas percussionistas do Japão para os Estados Unidos. Ele começou a ensinar taiko em São Francisco, formando eventualmente o Taiko Dojo de São Francisco. O método de ensino rígido do Taiko Dojo era parecido com o do treinamento das artes marciais japonesas, o qual enfatizava disciplina e força mental e física. Por outro lado, o método mais relaxado e comunitário do Kinnara tinha como inspiração a filosofia do Reverendo Kodani que ensinava que o taiko poderia ser utilizado como prática budista e como um meio de ajudar as pessoas a transcenderem o seu ego. Estes dois grupos foram os pioneiros dos dois estilos contrastantes do taiko na América do Norte.

O terceiro grupo, Taiko de San Jose, organizado em 1973, combinou estes dois métodos distintos e desenvolveu seu próprio estilo de taiko, tanto como música de cunho artístico como organização. O Taiko de San Jose procurou criar estéticas rítmicas e visuais, e ao mesmo tempo insistiu em manter princípios organizacionais democráticos e comunitários, os quais os membros principais, Roy e PJ Hirabayashi, consideravam essenciais para a preservação dos laços originais do taiko com o ativismo da comunidade nipo-americana.

San Jose Taiko (2000) Foto de San Jose Taiko

Os três grupos pioneiros de taiko, Taiko Dojo de São Francisco, Kinnara Taiko e Taiko de San Jose, serviram como inspiração para muitos ativistas comunitários nipo-americanos. Isto aconteceu porque o taiko era um instrumento de auto-expressão forte e poderoso para os nipo-americanos, os quais até então haviam sido estereotipados como quietos, submissivos e bem assimilados à cultura e sociedade americanas. Os ativistas comunitários formaram grupos de taiko em Nova York, Denver, Mt. Shasta, Seattle, Vancouver, e em diversas outras cidades norte-americanas.

Como um instrumento de auto-expressão, o taiko nipo-americano desenvolveu os seus próprios estilos, canções e ritmos, sendo estes marcadamente distintos da tradição do taiko no Japão. Refletindo seu ambiente musical multicultural, os grupos americanos tocam ritmos que tendem a ser mais sincopados e influenciados pelo jazz. Além disso, eles dão mais ênfase a cadências rítmicas e estéticas visuais, ao contrário dos grupos japoneses de taiko, os quais tendem a enfatizar a pureza sonora.

Inicialmente, os nipo-americanos utilizaram o taiko como um movimento cultural com o intuito de criar uma imagem positiva e forte da sua herança cultural numa época quando as minorias étnicas e raciais nos Estados Unidos estavam engajadas em movimentos de direitos civis e orgulho étnico. No entanto, nos últimos anos o taiko se tornou uma atividade cultural popular entre americanos quer eles sejam ou não de descendência japonesa. Existem mais de 200 grupos de taiko nos Estados Unidos, e apesar da maioria deles ainda serem liderados por membros japoneses ou nipo-americanos, existem grupos sem um único membro japonês ou asiático. Além disso, existem grupos de taiko no Canadá e na América Latina – áreas geográficas onde existem comunidades de imigrantes japoneses. Existem ainda grupos de taiko em outros países com grande número de imigrantes japoneses, incluindo a Rússia, Alemanha, e o Reino Unido.

Ainda não sabemos se o taiko vai se tornar o próximo judô, karate e aikido – formas culturais japonesas cuja popularidade ultrapassou tão marcadamente os limites étnicos japoneses que a maioria de seus praticantes e estudantes não possuem nenhuma conexão com o Japão ou com as comunidades japonesas no exterior. Nem tampouco sabemos como o taiko irá se transformar caso isso aconteça. Será que o taiko passará a ser um dos diversos instrumentos de percussão que acompanham qualquer estilo musical? Será que a comunidade do taiko irá estabelecer um padrão mundial para regulamentar a definição do taiko como já é feito no judô? Será que o taiko vai se incorporar a vários estilos locais de música à medida que for migrando para diferentes partes do mundo, como o ocorrido com as diferentes formas de percussão originadas na África?

Historicamente, o taiko supriu várias necessidades humanas – religiosas, recreacionais, artísticas e políticas – unindo indivíduos em níveis físicos e espirituais. Atualmente, o taiko proporciona um meio pelo qual determinadas pessoas têm a chance de dar vazão a sua curiosidade por artes culturais e filosofias “exóticas”. Isto explica em parte o rápido aumento no número de percussionistas e fãs do taiko fora das comunidades japonesas. Em todo o caso, o poder do taiko – e seus profundos sons e vibrações que vão diretamente ao kokoro (coração) e hara (estômago) – sem dúvida possui um caráter universal, especialmente neste período histórico no qual as pessoas em todo o mundo estão cada vez mais abertas a diferentes tradições culturais.

Shasta Taiko, 1968. Collection of Jeanne Mercer and Russel Baba (2005.47.4).

© 2006 Masumi Izumi

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About the Author

Masumi Izumi é professor de Estudos Norte-Americanos no Departamento de Estudos Globais e Regionais da Universidade Doshisha, em Kyoto, Japão. Ela é uma historiadora de nipo-americanos e nipo-canadenses e escreveu extensivamente sobre sua remoção e encarceramento durante a guerra, bem como sobre seus esforços de construção de comunidade pós-internamento. Através dos estudos das populações da diáspora japonesa, Masumi tenta reinterpretar noções como “cidadania” e “nacionalismo” a partir de uma perspectiva transnacional. Seus trabalhos incluem A ascensão e queda da lei dos campos de concentração da América: debates sobre liberdades civis desde o internamento até o macarthismo e a década radical de 1960 (Temple University Press, 2019). Outstanding Academic Title, CHOICE, 2020, disponível em brochura. Ela também traduziu The Tule Lake Stockade Diary , um diário secreto da prisão escrito por Tatsuo Ryusei Inouye, um mestre de Judô Kibei Nisei, acessível no site do Projeto UCLA Suyama. Masumi atua como Diretor do Instituto Internacional de Estudos Americanos da Universidade Doshisha desde abril de 2024.

Atualizado em junho de 2024

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