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Um Resumo Histórico do Taiko - parte 1

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Os instrumentos de percussão são provavelmente os mais antigos instrumentos musicais na história da humanidade. De fato, eles são ainda mais antigos que a linguagem escrita. Na terra dos iorubá na Nigéria, por exemplo, os tambores são usados como instrumentos de comunicação há milhares de anos. O dundun, ou tambor falante, pode ser ouvido até três quilômetros de distância. Munidos de um sistema de retransmissão, o povo iorubá utilizava tambores falantes como um importante meio de telecomunicação muito antes do aparecimento da tecnologia moderna.

Soh Daiko. New York City, ca. 1997. Foto por Michael Dames. Cortesia de Soh Daiko.

O taiko, ou “tambor grande” em japonês, também possui uma longa história. Junto com outros artefatos culturais, o taiko provavelmente foi levado da Ásia Continental para o Japão pelas migrações humanas. O taiko pode ser encontrado em sítios arqueológicos tão antigos quanto aqueles da Era Joumon (10.000 A.E.C. – 300 A.E.C.). Excavações revelaram tambores de cerâmica e figuras de barro representando percussionistas, o que sugere que os tambores eram utilizados em ocasiões religiosas e ceremoniais no Japão antigo. O uso do taiko como um instrumento espiritual continuou através do tempo.

Sendo basicamente um povo agrário, os japoneses usavam o taiko em festivais e rituais para rezar, agradecer pelas boas colheitas, e manter à distância os reveses do destino. O Obon, o festival de verão budista, era um evento especialmente importante para o uso do taiko. Durante a dança Obon, ou Bon odori, as pessoas dançavam fazendo um círculo ao redor de uma yagura (plataforma de madeira) onde um cantor, um percussionista e um tocador de fue (flauta de bambu) tocavam música de fundo para os dançarinos. Tradicionalmente, apenas determinadas pessoas especialmente escolhidas tinham permissão de tocar taiko em ocasiões específicas, usando cadências específicas. Cada vilarejo tinha suas próprias cadências rítmicas, as quais eram cuidadosamente protegidas e transmitidas através das gerações. Muitos vilarejos no Japão ainda preservam estas cadências rítmicas, apesar de que algumas cadências transcenderam as fronteiras dos vilarejos e se tornaram conhecidas nacionalmente, ou até mesmo internacionalmente. No entanto, isto não ocorreu até o período após a Segunda Guerra Mundial, quando a função social do taiko sofreu uma transformação radical.

Apesar de sua longa história como um instrumento musical, o taiko que conhecemos é um fenômeno do período após a Segunda Guerra Mundial. O taiko se transformou em música de performance depois que Daihachi Oguchi, um percussionista de jazz do Distrito de Nagano, teve a idéia de colocar lado a lado diversos tambores de tamanhos diferentes, tocando-os em conjunto. Osuwa Taiko, o grupo de Oguchi, começou a se apresentar em 1951.

Alguns anos mais tarde, Seido Kobayashi, o vencedor do Concurso Obon Taiko de Tóquio, criou o conjunto O Edo Sukeroku Taiko. Osuwa Taiko e O Edo Sukeroku Taiko se tornaram conjuntos musicais profissionais, e foram instrumentais no desenvolvimento do taiko como uma forma popular de música de performance. Assim teve início a apresentação do taiko em ambientes não-religiosos e não-ritualísticos, entre os quais salas de concerto, centros comunitários, lojas de departamento e bares.

O Edo Sukeroku Taiko (1960). Cortesia de O Edo Sukeroku Taiko .

Na América do Norte, o taiko já existe dentro da comunidade japonesa desde a virada do século XX. No Havaí e ao longo da costa do Pacífico, os Issei (primeira geração) costumavam organizar o Bon odori. Esta era uma das formas de entretenimento através da qual a comunidade de imigrantes, os quais em sua maioria pertenciam à classe trabalhadora, se recordavam da sua terra natal. O Obon e o Oshogatsu (o festival do Ano Novo) eram os dois únicos feriados que as pessoas da classe operária podiam desfrutar no Japão.

Nos Estados Unidos, a vida também era difícil para a classe trabalhadora Issei. O Bon Odori proporcionava aos Issei não apenas entretenimento, como também a chance de se unir e reforçar seus laços com sua comunidade étnica. Documentos, fotografias e até mesmo raros filmes caseiros comprovam que os nipo-americanos celebravam o Obon – incluindo tocadores de taiko, yagura e dançarinos – durante seu incarceramento em campos de concentração nos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.

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© 2006 Masumi Izumi

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About the Author

Masumi Izumi é professor de Estudos Norte-Americanos no Departamento de Estudos Globais e Regionais da Universidade Doshisha, em Kyoto, Japão. Ela é uma historiadora de nipo-americanos e nipo-canadenses e escreveu extensivamente sobre sua remoção e encarceramento durante a guerra, bem como sobre seus esforços de construção de comunidade pós-internamento. Através dos estudos das populações da diáspora japonesa, Masumi tenta reinterpretar noções como “cidadania” e “nacionalismo” a partir de uma perspectiva transnacional. Seus trabalhos incluem A ascensão e queda da lei dos campos de concentração da América: debates sobre liberdades civis desde o internamento até o macarthismo e a década radical de 1960 (Temple University Press, 2019). Outstanding Academic Title, CHOICE, 2020, disponível em brochura. Ela também traduziu The Tule Lake Stockade Diary , um diário secreto da prisão escrito por Tatsuo Ryusei Inouye, um mestre de Judô Kibei Nisei, acessível no site do Projeto UCLA Suyama. Masumi atua como Diretor do Instituto Internacional de Estudos Americanos da Universidade Doshisha desde abril de 2024.

Atualizado em junho de 2024

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