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Fatos e curiosidades sobre nomes nikkeis brasileiros

Seu nome é composto? Pode soletrar? Você só tem um sobrenome? Essas são algumas das perguntas que já ouvi em relação ao meu nome e que, ao longo dos anos, me deixaram intrigada. Eis que chega o momento em que venho fazer observações sobre os nomes nikkeis brasileiros, com suas características particulares que merecem ser explicadas.

Aviso que este texto não tem o objetivo de fazer um estudo científico, senão de abordar o tópico de uma maneira curiosa e bem-humorada. Assim, espero que quem vier a ler se identifique ou, ao menos, consiga obter alguns esclarecimentos.

Nome composto?

Uma dúvida muito comum entre não descendentes de japoneses é se o meu nome Tatiana Akemi, assim como o de muitos outros nikkeis, é composto, como, por exemplo, os nomes brasileiros Maria Alice e João Pedro.

Na verdade, trata-se apenas de um costume de os pais escolherem para seus filhos um nome não japonês e outro japonês. E me parece que acaba passando de geração para geração – dos avós aos pais e dos pais aos netos – naturalmente. Ou seja, meus pais e eu temos nomes assim, e meus filhos também serão chamados por dois nomes.


Apenas um nome e sobrenome

Apesar de existir essa tradição do nome “duplo”, muitos descendentes têm apenas um nome e o sobrenome que geralmente é o nome de família da parte de pai. Seria o caso de se eu me chamasse apenas Tatiana Maebuchi.


Muitos nomes!

Outro “fenômeno” que pode ser observado é os nikkeis brasileiros terem quatro nomes. Sim, quatro! Minha mãe, por exemplo, tem o primeiro nome de origem hebraica, um nome japonês, o sobrenome do meu avô materno (que era nissei) e o sobrenome da família do meu pai, Maebuchi, que ela adicionou quando se casou.


Dois sobrenomes

Frequentemente, aqueles que em parte são descendentes de japoneses e, em outra parte, de outras nacionalidades têm dois sobrenomes: o materno e o paterno. Um exemplo seria se, hipoteticamente, eu tivesse outra ascendência além da japonesa e acrescentasse esse sobrenome depois de Akemi.


Pode soletrar?

Uma situação por qual provavelmente a grande maioria dos nikkeis brasileiros deve ter passado é a de precisar soletrar o sobrenome, seja em uma ligação telefônica para agendar uma consulta médica ou ao banco. E, ainda assim, era uma decepção descobrir que quem cadastrou seu nome se atrapalhou todo e errou algumas letras.

Para evitar confusões, criei o hábito de falar meu nome e, em seguida, “vou soletrar”, antes mesmo que me perguntassem. “M de Maria, A... E de escola, B de bola, U de urso, C de cachorro... H, I de igreja.” A frase de soletração (ou “ato de soletrar”) está mais do que na ponta da língua há tempos. Mas quase sempre, ao confirmar, o atendente ou fala com várias pausas, hesitante (“Ma... e... bu... chi?”) – aí comemoramos – ou pronuncia de forma errada (“Maiebuchi”) – aí corrigimos, na esperança de acerto na próxima vez.

Isso acontecia quando não existia o atendimento eletrônico por chat ou WhatsApp. Imagino que, não somente eu, mas também essas pessoas que lidam com o público, somos imensamente gratos pela criação e pelo uso das tecnologias a nosso favor! [risos]


Posso te chamar assim?

Já fui chamada de Tati, Tá, Tatiana, Akemi, Tatiana-san e Maebuchi-san (foto: arquivo pessoal/Tatiana Maebuchi)

Já fui chamada de Tati, Tá, Tatiana, Tatiane, Tati Quebra Barraco (cantora de funk que fez sucesso no início dos anos 2000) e de outros apelidos. Dentro da comunidade de descendentes e nas aulas que fiz no nihongakkou, me chamavam de Tatiana-san (que soava estranho), Maebuchi-san (que, por ser extremamente formal, soava ainda mais estranho), Akemi ou Akemi-chan (me acostumei com o tempo).

Na vida profissional, uso meu primeiro nome e meu sobrenome. Não fica extenso e me identifica. Já na vida pessoal, me autodenomino Tati Akemi, porque sou aquela Tati, a descendente de japoneses. Para mim, meu nome Akemi representa minha identidade nikkei e, por isso, não é necessário usar meu nome de família, que é um pouco mais complicado de ser lido e pronunciado pelos brasileiros não descendentes.

Embora os nomes Tatiana e Akemi tenham um contraste em termos de origem (Tatiana é russo), seu uso conjunto no Brasil é relativamente comum. A primeira vez em que me dei conta disso foi na época do vestibular, quando vi que havia diversas outras mulheres na lista de aprovados que também se chamavam assim. Hoje em dia, por vezes, encontro essa combinação de nomes em perfis nas redes sociais.
 

Sopa de letrinhas

Por fim, vale destacar que considero a capacidade de adaptação uma característica importante dos imigrantes e de seus descendentes, porque foi graças a isso que se estabeleceram no país.

Poderíamos dizer, então, que nos adaptamos às circunstâncias e aos nomes pelos quais somos chamados. Ainda que uma palavra vire uma salada, ou melhor, uma sopa de letrinhas. Cabe a nós tirarmos o melhor dessas ocasiões e, claro, transformá-las em boas histórias.

 

© 2023 Tatiana Maebuchi

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About the Author

Nascida na cidade de São Paulo, é brasileira descendente de japoneses de terceira geração por parte de mãe e de quarta geração por parte de pai. É jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e blogueira de viagens. Trabalhou em redação de revistas, sites e assessoria de imprensa. Fez parte da equipe de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo), contribuindo para a divulgação da cultura japonesa.

Atualizado em julho de 2015

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