Quando o Tribunal Arbitral du Sport (TAS) emitiu uma sanção de 14 meses que impediu o capitão da seleção peruana de futebol, Paolo Guerrero, de participar da Copa do Mundo da Rússia, o jornalista japonês Tasuku Okawa, cuja conta no Twitter (@tas) coincide com a sigla da entidade esportiva, recebeu uma avalanche de mensagens desagradáveis da indignada torcida peruana.
TUDO COMEÇOU COM UM TWEET
Depois de pedir que parassem de confundi-lo e esclarecer que ele não é o TAS, os internautas expressaram sua solidariedade no Twitter. O que se seguiu é história conhecida: a sanção foi suspensa e Guerrero pôde jogar na Rússia pela seleção peruana, que voltava a uma Copa do Mundo de Futebol após 36 anos.
Do Japão, Tasuku transformou o ataque em oportunidade de fazer parte da seleção peruana. “Eu senti que era o destino. Esta não foi a primeira vez, aconteceu a mesma coisa (a confusão) com o Atlético de Madrid na Espanha no ano passado. Agora muitos peruanos se interessaram por mim e eu também me interessei pelo Peru”, afirma.
Tasuku incentivou a seleção peruana durante a Copa do Mundo como apenas mais um peruano. Durante os três encontros ele foi a um restaurante peruano em Tóquio, onde se encontrou para assistir aos jogos com alguns compatriotas que moram no país asiático. Lá provou ceviche, lomo saltado e bebeu pisco sour pela primeira vez. “Tudo estava delicioso”, lembra ele.
A fé continuou intacta após o primeiro duelo contra os dinamarqueses, apesar da derrota. Mas em 21 de junho, o Peru ficou sem chance de avançar para as oitavas de final depois de perder para a França. “O sonho deste verão acabou, mas minha amizade perdura. Obrigado, Peru”, tuitou Tas do Japão.
Sobre a melhor recordação que tem da participação do Blanquirroja, o jornalista conta-nos: “Acho que o objetivo era ver um golo do Guerrero no Mundial e foi conseguido contra a Austrália. Embora o Peru não tenha se classificado para a próxima fase, tenho certeza que deixou sua marca. A presença de um torcedor apaixonado ficou na memória de todos.
“O entusiasmo da torcida da seleção peruana foi extraordinário. Também queria estar na arquibancada, apoiando o time junto com eles. Os torcedores da seleção peruana são apaixonados e afetuosos”, admite Tas com admiração.
O SURPREENDENTE JAPÃO
A Copa do Mundo manteve Tasuku, assim como muitos membros da comunidade Nikkei, torcendo pelo Peru e pelo Japão, o que virou notícia não só por sua torcida exemplar, mas também por seu bom futebol. “Nunca aconteceu de termos encurralado uma seleção campeã como a Bélgica por um momento até o 2-0. Estar entre os 16 melhores foi uma façanha.”
Ambas as equipes demonstraram uma base de fãs comprometida e leal. Tas reconhece que a fusão é enriquecida pela harmonia: “O positivo dos japoneses é a sua seriedade e precisão, embora possam ser muito rigorosos. O calor peruano marca um equilíbrio importante.”
A Copa do Mundo chegou ao fim, mas um desejo permaneceu pendente: visitar o Peru antes da próxima Copa do Mundo.
Influência britânica
O jornalista esportivo do portal Goal Japan é apaixonado por futebol. Nasceu na cidade de Kobe em 1981, e devido ao trabalho do pai mudou-se diversas vezes, mas foi na Inglaterra onde seu interesse pelo futebol cresceu.
“Joguei desde criança, mas a Copa do Mundo França 98 marcou meu gosto pelo futebol. Como morei na Inglaterra, sou influenciado pelos ingleses, mas sempre acompanhei a seleção japonesa. “Sou um grande fã de Hidetoshi Nakata”, diz ele.
“O fascinante do futebol é que as pessoas ao redor do mundo podem se entender com uma bola.”
* Este artigo foi publicado graças ao acordo entre a Associação Japonesa Peruana (APJ) e o Projeto Descubra Nikkei. Artigo publicado originalmente na revista Kaikan nº 115 e adaptado para o Descubra Nikkei.
© 2018 Texto y fotos: Asociación Peruano Japonesa