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História nº 49 (Parte II): Vida nova no Japão!

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Ler História nº 49 (Parte I)

Emily May tinha 6 anos de idade quando chegou ao Japão levada pela sua mãe, que tinha acabado de se separar do marido. A menina foi matriculada numa escola brasileira e a mãe foi trabalhar em uma fábrica de alimentos para lojas de conveniência.

Mas como a escola brasileira não tinha o ensino médio, ao concluir o 9º ano do ensino fundamental, Emily voltou para o Brasil, uma vez que seria muito difícil se adaptar em uma escola japonesa. Foi morar junto com a família de uma prima de sua mãe, cursou o ensino médio, fez aulas de inglês e computação e, ao fim de quatro anos, retornou ao Japão.

Muita coisa tinha acontecido em sua ausência. Sua mãe se casara de novo e agora Emily tinha um irmãozinho, além de ter de conviver com as duas filhas de seu padrasto. Ele era um nikkei brasileiro chamado Takao, que morava no Japão fazia 22 anos e dono de um supermercado de produtos brasileiros, além de um restaurante de comida brasileira.

Emily começou a trabalhar no restaurante e foi quando conheceu Koji, um frequentador assíduo que apreciava a feijoada de lá. Dizia que era tão boa como a que sua irmã Kaori fazia no Brasil.

Os dois tinham a mesma idade, gostavam de K-pop e dorama e estavam aprendendo japonês para entender melhor os animês que gostavam de assistir. Não demorou muito para eles decidirem se casar.

E foi numa sexta-feira, véspera do casamento, que Kaori chegou do Brasil e encontrou o restaurante de Takao todo ornamentado e pronto para a festa. Era uma surpresa que a mãe de Emily, Takao e os colegas de trabalho de Koji tinham preparado para os noivos.

Sábado à tarde, os colegas de trabalho de Koji, incluindo o seu kacho que nunca tinha estado numa festa de brasileiros, alguns frequentadores do restaurante e conhecidos da vizinhança lotaram o recinto do restaurante.

A mãe de Emily chegou às lagrimas ao ver a filha adentrar o recinto levada por Takao, imponente no terno azul que mandara fazer para a ocasião. Quem também não escondia a emoção era Kaori ao relembrar como Koji havia sofrido com a perda da Kaachan, ficando por horas sentado calado na cadeira predileta da mãe...

Mas hoje, graças ao trabalho no Japão, Koji se tornara um jovem decidido e esperançoso para formar uma família saudável e feliz! Kaori dava graças a Deus por tudo estar dando certo!

No domingo, a festa continuou, todos querendo conhecer a Kaori de quem o Koji sempre falava com carinho e admiração. E quando souberam que ela era solteira, houve quem quisesse arranjar um miai1 para que ela pudesse ficar morando no Japão.

Kaori agradeceu meio sem jeito, mas disse que seria impossível morar no Japão, pois tinha seu trabalho no Brasil e, principalmente, porque os irmãos ainda não tinham completado os estudos para se tornarem independentes. E ainda tinha o pai por quem se preocupava muito, pois se matava de trabalhar para sustentar a nova esposa.

De volta ao Brasil, Kaori continuou trabalhando e ajudando na casa como sempre.

Um dia, Koji ligou para ela: “Ô Ká, agora você não escapa. Tem um emprego te esperando aqui!”.

A proposta era de cuidar da contabilidade dos negócios do Takao que além do supermercado e do restaurante agora era dono de uma padaria – onde servia o melhor pão de queijo do mundo!

Kaori primeiro consultou a família, depois os donos do escritório de contabilidade onde trabalhava e todos foram unânimes: “Vá em frente, Kaori! Você tem tudo para vencer no Japão!”

Seus irmãos Kei e Kenji ficaram tão animados como se fossem junto com a irmã ao Japão, mas logo foram alertados pelo pai: “Primeiro tem que acabar os estudos no Brasil e quero que amanhã comecem o nihongo2, entenderam?”

Não tinha dúvidas, ela precisava ir trabalhar no Japão, ajudar Koji e Emily no que fosse possível (quem sabe, quando um bebê estiver a caminho...), ajudar a família que ficava no Brasil, mandar presentes para a avó etc.

Sempre procurando ser útil ajudando os outros, pois ver a alegria de outras pessoas era o seu desejo, era sua alegria de viver!

Deus abençoe a sua nova vida, Kaori!

Ler História nº 49 (Parte III)


Notas:

1. Oportunidade de encontro onde o pretendente é apresentado como possibilidade de casamento

2. Aula de japonês

© 2025 Laura Honda-Hasegawa

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Sobre esta série

Em 1988 li uma notícia sobre decasségui e logo pensei: “Isto pode dar uma boa história”. Mas nem imaginei que eu mesma pudesse ser a autora dessa história...

Em 1990 terminei meu primeiro livro e na cena final a personagem principal Kimiko parte para o Japão como decasségui. Onze anos depois me pediram para escrever um conto e acabei escolhendo o tema “Decasségui”. 

Em 2008 eu também passei pela experiência de ser decasségui, o que me fez indagar: O que é ser decasségui?Onde é o seu lugar?

Eu pude sentir na pele que o decasségui se situa num universo muito complicado.

Através desta série gostaria de, junto com você, refletir sobre estas questões.

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About the Author

Nasceu na Capital de São Paulo em 1947. Atuou na área da educação até 2009. Desde então, tem se dedicado exclusivamente à literatura, escrevendo ensaios, contos e romances, tudo sob o ponto de vista nikkei.

Passou a infância ouvindo as histórias infantis do Japão contadas por sua mãe. Na adolescência lia mensalmente a edição de Shojo Kurabu, revista juvenil para meninas importada do Japão. Assistiu a quase todos os filmes de Ozu, desenvolvendo, ao longo da vida, uma grande admiração pela cultura japonesa.

Atualizado em maio de 2023

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