Meu nome é Jhonny Zenjy Kobayashi. Dentro dele, há uma mistura que reflete as culturas que me moldaram – a tradição japonesa dos meus avós e a vivência brasileira onde cresci. Sou sansei, com raízes em Shizuoka e Kumamoto, de onde vieram meus avós nas décadas de 1920 e 1930. O Brasil foi o destino que escolheram para construir uma nova vida, e essa travessia acabou definindo, de forma única, minha identidade e a de toda minha família.
Meu primeiro nome, Jhonny, foi escolhido pelo meu pai, um apaixonado por motos. Ele o escolheu em homenagem a Johnny Cecotto, piloto venezuelano que marcou o motociclismo mundial nas décadas de 1970 e 80. Cecotto foi um dos mais jovens campeões do esporte e sua vitória nas 200 Milhas de Daytona, em 1976, o consagrou como um ícone. Esse nome é uma lembrança direta da paixão que uniu meus pais – viajando juntos sobre duas rodas na juventude – e que eu também herdei. Com uma variação na grafia, nascia o Jhonny, carregando não apenas a admiração pelo piloto, mas também o espírito de liberdade e aventura.
Zenjy surgiu de uma forma curiosa. Na época do meu nascimento, uma prima jovem se ofereceu para escolher meu nome japonês. Junto com algumas amigas, decidiu que seria Zenjy. Embora esse não seja um nome comum, ele acabou se tornando parte de quem sou. Mais tarde, na fase adulta, busquei um kanji que ressoasse comigo e encontrei 善士, que pode ser traduzido como “homem virtuoso”. Embora eu sempre tenha sido chamado de Jhonny, e Zenjy raramente seja usado, esse nome carrega algo profundo. Ele representa uma intenção: a de cultivar virtude e integridade, valores que sigo na vida.
O sobrenome Kobayashi (小林) significa “pequena floresta” ou “bosque”. Para mim, essa imagem sempre teve uma beleza simbólica. Um bosque é um lugar onde diferentes árvores crescem lado a lado, convivendo e se fortalecendo mutuamente. Assim como em um bosque, vejo minha identidade como uma fusão de culturas: as tradições japonesas e brasileiras se entrelaçam e crescem juntas dentro de mim, formando a base da minha história.
Ter um nome como Jhonny Zenjy Kobayashi desperta curiosidade nas pessoas. A combinação de um nome ocidental com um sobrenome japonês sempre gerou perguntas e olhares intrigados. “Como você recebeu esse nome?” é uma das perguntas que mais escuto. Porém, a maior dificuldade com meu nome sempre foi a grafia. Letras como “K” e “Y” não são comuns em nomes brasileiros, e aprendi desde cedo a soletrá-lo, repetidas vezes, em vários contextos.
Essa mistura de culturas inspirou a criação do movimento cultural Gohan com Feijão. Assim como o arroz japonês e o feijão brasileiro se encontram na mesa para formar uma combinação perfeita, minha identidade também é uma fusão da mistura Brasil e Japão. Tradições aparentemente diferentes, mas que convivem em harmonia.
Hoje, aos 44 anos, casado e pai de duas filhas, vejo meu nome como uma ponte que conecta passado, presente e futuro. Jhonny é a lembrança do espírito de liberdade e aventura que herdei dos meus pais. Zenjy é a virtude que escolhi para guiar minhas ações e minhas escolhas. E Kobayashi é o bosque onde essas histórias se entrelaçam e crescem.
Nunca considerei mudar meu nome, porque ele carrega tudo o que sou. Cada parte dele – Jhonny, Zenjy e Kobayashi – é um pedaço da minha trajetória e do legado que recebi. Assim como um bosque leva anos para crescer e se tornar robusto, meu nome reflete o crescimento e a maturidade que fui alcançando ao longo da vida.
© 2024 Jhonny Kobayashi
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