Olá, meu nome é Mayumi Sakugawa, mas meu verdadeiro nome é Emilly Mayumi Goto. Nascida em 2002 na cidade de Yachiyo-Shi, no Japão, carrego em meu nome um significado profundo e especial. Mayumi, que significa “Bela e Verdadeira Razão”, foi escolhido pela minha mãe, e sinto um carinho enorme por esse nome. Ele representa minha identidade e conexão com a minha herança cultural.
Minha família possui uma tradição interessante que remonta a 1918, quando meus tataravós deixaram o Japão em busca de uma vida melhor no Brasil. Desde então, temos seguido a tradição de dar aos filhos um primeiro nome brasileiro e um segundo nome japonês, uma prática que ajuda a evitar preconceitos associados aos nomes em nossa sociedade. Enquanto meu nome verdadeiro reflete essa herança, prefiro ser chamada de Mayumi, especialmente no meu dia a dia e no trabalho. Embora meu primeiro nome não ressoe tão bem comigo, não pretendo mudá-lo. Acredito que os nomes carregam histórias e significados importantes.
Cresci ouvindo histórias sobre a luta e os desafios enfrentados pelos meus antepassados na busca de um futuro mais promissor. Essa tradição familiar é muito significativa para mim, e o apelido que carrego entre meus familiares, “Mi”, é uma forma carinhosa de conexão com eles. Por outro lado, meu nome também me expôs a situações difíceis. Já enfrentei discriminações devido ao meu nome e à minha aparência, algo que me deixou triste, mas, ao mesmo tempo, fortaleceu minha determinação de me aceitar e abraçar minha identidade.A minha mãe é uma mulher forte e aventureira, que sempre amou viajar e explorar o mundo. Ela conheceu meu pai em Chiba, Japão, nos anos 90, enquanto trabalhavam na mesma empresa. Seu amor floresceu em meio às dificuldades e culturas distintas, levando-os a construir uma vida juntos por 12 anos. No entanto, em 2009, após a separação dos meus pais, minha mãe e eu nos mudamos para São Paulo, Brasil. Essa transição foi um momento marcante na minha vida e trouxe novos desafios e oportunidades.
Embora tenha deixado o Japão, mantenho viva a tradição da minha família. Celebramos datas comemorativas como Matsuri e outros festivais japoneses, e em casa adoramos cultivar a cultura nipônica, enfeitando nosso espaço com figuras de Neko Chan e outros elementos do folclore japonês. Através dessas celebrações, sinto uma forte conexão com minhas raízes e aprendi a valorizar cada aspecto da cultura que meus antepassados trouxeram para o Brasil. E a minha mãe sempre me apoiou e, mesmo separada do meu pai, ela respeita minha origem e ela ama o Japão!
Além do carinho pelo sobrenome Sakugawa, que vem da minha “batchan”, avó paterna, (meu avô não quis colocar Sakugawa na família e preferiu o Goto), mas o Goto é do meu avô paterno. O sobrenome Sakugawa sempre me chamou a atenção, pois representa a mulher forte que foi minha “batchan”. Ela faz o melhor yakisoba do mundo!
Enquanto crescia, fiz muitas amizades, mas nem sempre foi fácil. As dificuldades para me adaptar a um novo país e ainda lidar com a pressão da sociedade em relação ao meu nome e aparência deixaram marcas. Por outro lado, aprendi a ser resiliente. Através da educação e da busca por autoconhecimento, procurei maneiras de celebrar minha identidade, em vez de escondê-la.
No Brasil, sempre procurei conhecer mais sobre a cultura local, fazendo amigos e entendendo as diferentes tradições. Envolvi-me em comunidades de descendentes de japoneses e participei de eventos que promoviam a união e a celebração das culturas. Meu coração se enche de alegria ao ver pessoas como eu, que honram suas origens e compartilham suas histórias.
Hoje, tenho um grande respeito pelos desafios que vieram com minha herança híbrida. Aprendi que ser bicultural é um presente, que me fornece diferentes perspectivas e oportunidades únicas. Estou comprometida em levar minha história adiante, mostrando que os diferentes lados de quem somos podem coexistir e enriquecer nossas vidas.
Meu relacionamento com minha mãe é uma grande parte da minha vida. Ela sempre me apoiou em minhas decisões e sonhou alto por mim. Juntas, exploramos tanto a cultura brasileira quanto a japonesa, e ela me encorajou a ser a melhor versão de mim mesma. Conversamos muito sobre nossos ancestrais, e suas histórias são uma fonte constante de inspiração para mim.
Espero um dia visitar o Japão novamente, para reconectar-me com as raízes que deixei para trás. Poder explorar os lugares onde minha família viveu e reviver as tradições mais queridas seria um sonho realizado. E poder reencontrar o meu pai.
Além disso, tenho um amor genuíno pelo folclore japonês. As histórias de yokai, deuses e as tradições que envolvem esses personagens encantados sempre me fascinaram. Aprendi na pré-escola em Chiba.
Atualmente, enquanto navego pelas complexidades da vida, carrego comigo todos os ensinamentos que minha família me deu. A paciência e a sabedoria da minha avó, a força da minha mãe e o acolhimento de meus amigos sustentam meu caminho. Mayumi Sakugawa é mais do que um nome – é um legado de coragens e tradições que continuarei honrando.
Ao compartilhar minha história, espero inspirar outros a abraçar quem são e a valorizar suas origens, não importa de onde venham. A diversidade é o que torna o mundo belo, e cada um de nós carrega um pedaço de história que merece ser contado. Com amor e carinho, agradeço por me ouvir e desejo que cada um encontre sua própria voz e identidade no que quer que escolha seguir.
© 2024 Mayumi Sakugawa
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