“A obaachan da Laura mora bem longe daqui” – e me mostrando fotos, mamãe ia contando histórias sobre a minha avó. E quando eu estava com 12 anos de idade fui finalmente conhecê-la.
Era uma grande família: meu avô, minha avó, 4 tios solteiros, 2 primas que estavam aos cuidados da avó, um tio casado que morava com a esposa e 5 filhos na casa construída no mesmo terreno. Só os primos eram 7 no total.
Finalmente, depois de mais de 10 horas de viagem de São Paulo, chegamos mamãe e eu à casa. Na varanda, estava a minha avó que, ao me ver, veio correndo e me abraçou fortemente. E com lágrimas nos olhos disse o meu nome: “Laura!!!”
Não pude conter a ansiedade, a emoção e a surpresa do momento e gritei: “Obaachan!”
Imediatamente, todos os primos reunidos ali começaram a rir alto. Os adultos, então, mandaram todo mundo ir dormir porque era tarde da noite e assim eles foram para dentro.
No dia seguinte, os primos estavam sentados em volta da mesa e chamavam Batchan pra cá, Batchan pra lá. Dizendo que queriam mais pão, que não gostavam de leite. E ao ouvir todas aquelas vozes, pude entender por que tinham rido de mim na noite anterior.
Ao relembrar este episódio acontecido 60 anos atrás, chego à conclusão de que os nikkeis da época usavam “batchan” apenas no âmbito familiar. Lembro que até algum tempo atrás, as únicas palavras japonesas que os não descendentes sabiam eram arigato e sayonara, que alguns pronunciavam imitando japonês, por pilhéria.
À medida, porém, que a sociedade brasileira foi reconhecendo a presença e as atividades de japoneses e descendentes, as palavras japonesas foram ficando conhecidas e hoje a maioria dos não nikkeis até usa algumas palavras japonesas com naturalidade.
Dentre essas eu destaco a palavra “batchan”. Se fizessem um ranking de palavras preferidas, essa certamente ficaria em primeiro lugar. Mesmo os nikkeis de quarta ou quinta geração que não sabem japonês, essa eles conhecem e usam-na na conversação.
Não apenas as crianças, mas os adultos também chamam a avó por “Batchan”. O interessante é que além do uso como vocativo, a palavra é um substantivo em expressões como: a minha “batchan”.
“Batchan” é também usado para expressar familiaridade, simpatia. Outro dia, o caixa do supermercado, um jovem parecido com o Brad Pitt, ao me entregar a sacola com as compras disse: “Obrigado, Batchan”. Um cumprimento que me emocionou.
Por outro lado, quando eu estava espremida escolhendo legumes numa banca de feira lotada, uma senhora nikkei – idosa como eu – bateu no meu ombro dizendo “Batchan” e tentou entrar numa brecha para ter acesso aos produtos. Nessa hora, confesso, senti um mal-estar indescritível.
Estamos na era da velocidade em que as coisas mudam e se transformam rapidamente e a palavra “batchan” não escapou, pois ela foi abreviada.
Rafinha, o primeiro neto de uma grande amiga, adora a Bá e quando a Bá vai visitá-lo é uma alegria que só vendo: “A Bá chegou!”.
Esta nova palavra – Bá – é a expressão máxima de carinho e fofura, não acham?
© 2023 Laura Honda-Hasegawa