Tomomi é uma jovem de 19 anos, nascida no Japão, filha de pai japonês e mãe nikkei brasileira.
Quando a sua mãe trabalhava numa padaria em Nagoia, conheceu o dono de uma loja de conserto de bicicletas localizada nas proximidades, deixou o seu emprego e foi trabalhar nessa loja. Logo os dois se apaixonaram e foram morar junto. Nasceu-lhes a filha Tomomi e a vida seguiu seu rumo.
Porém, quatro anos atrás, o pai de Tomomi faleceu repentinamente vítima de câncer no pulmão e foi quando tudo mudou: como ele e a mãe de Tomomi não eram casados de papel passado, a loja de conserto de bicicletas passou a ser administrada pelo irmão mais velho de seu pai e, infelizmente, Tomomi e sua mãe tiveram que sair de lá.
O jeito foi voltar para o Brasil, onde morava a família da mãe, porém, a recepção não foi nada boa com muita gente palpitando: “Ela foi para o Japão porque quis”, “Não foi nada esperta se juntando com um sujeito 20 anos mais velho que nem pode chamar de marido”, “Foi castigo de Deus”, “Tenho dó da filha...”
Uma amiga de infância de sua mãe soube da situação e acolheu as duas dando acomodação e arrumando emprego para a mãe.
Como Tomomi mal falava o português, sentiu muita vergonha e como não se conformava com isso, procurou por ajuda e acabou encontrando uma entidade que dava suporte aos filhos de decasséguis recém-retornados. Começou a ter aulas de português e, um ano depois, ingressou na escola de ensino médio e se dedicou inteiramente aos estudos.
Logo, seus colegas de curso começaram a fazer-lhe perguntas sobre mangá, anime, cosplay e até sobre música do estilo J-POP e K-POP. Tomomi não conhecia bem as músicas em moda, mas fez uma pesquisa e, assim, começou a conversar com os colegas de turma o que a fez sentir-se feliz.
E como desde criança gostava de desenhar, ela procurou uma escola onde ensinavam a criar mangá. O professor era um jovem brasileiro que falou em japonês:
- Olá, eu sou Naruto.
- Não acredito! É seu nome de verdade? Perguntou em japonês.
Sorrindo, o professor continuou em português:
- Bem que eu gostaria que fosse Naruto, sabe? Porque eu sou fascinado por ninjas e vejo tudo sobre eles – de mangá a filmes e novelas da TV japonesa. Prazer, meu nome é Luís Afonso, mas queria tanto ser chamado por Naruto, por favor!
Naruto estava se formando em Literatura Japonesa na USP e seu sonho era ir para o Japão. Não somente para trabalhar lá, ele queria estudar mais sobre a cultura japonesa, se integrar na comunidade local e colaborar no estreitamento das relações entre Brasil e Japão.
Tomomi estudou mangá sob a orientação do professor Naruto e se aperfeiçoou a ponto de sonhar em se tornar mangaka, criando histórias em quadrinhos no estilo dos mangás japoneses. Depois que concluiu o ensino médio, ingressou na faculdade de Design Gráfico e seu objetivo de ser mangaka foi se definindo.
Quando entrou em férias da faculdade, ela foi ao Japão para trabalhar numa fábrica de vidro localizada em Tsurumi, Yokohama, um arubaito com duração de dois meses.
- Tomomi chan! Tudo bem?
Era hora do intervalo e ao sair para o pátio, à sua frente estava o professor Naruto.
- Professor Naruto! Aqui?! Por quê?
- Aqui não sou professor, não! Agora sou bolsista e como entrei de férias, vim fazer arubaito para poder ir esquiar. Mas me conta, quando você chegou? – Perguntou com o sorriso de sempre, olhando fixamente para Tomomi.
Terminado o intervalo, cada qual voltou ao seu serviço. Ambos, felizes, por reencontro tão oportuno.
Tenho a impressão de que esta história vai continuar e com perspectivas maravilhosas!