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História e conquistas olímpicas: Atletas nikkeis das Américas

Quando a contribuição dos nikkeis é destacada no Peru, o foco geralmente cai sobre a arte ou a gastronomia. Tem motivos de sobra para isso. Para citar um nome, uma nissei, Tilsa Tsuchiya, é considerada a melhor artista (de ambos os sexos) da história do Peru.

Com respeito à gastronomia, o impacto da cozinha nikkei tem sido de tal magnitude que muitas pessoas que desconheciam a existência do termo "nikkei" hoje o conhecem graças à culinária resultante da imigração japonesa ao Peru.

No entanto, os nikkeis também têm contribuído para o país em outras esferas, como a do esporte.

PERU: NIKKEIS OLÍMPICOS

O Museu da Imigração Japonesa no Peru "Carlos Chiyoteru Hiraoka" [aspas no original] abriga desde julho uma mostra destacando as contribuições nikkeis ao esporte, tanto no país quanto no resto do continente americano, e com ênfase especial nos Jogos Olímpicos. A mostra originou no Museu Akane da Imigração Japonesa ao México e é fruto dos trabalhos de pesquisa, elaboração e composição de Alberto Teramoto.

No caso do Peru, a exposição salienta cinco nomes de atletas de origem japonesa que participaram dos Jogos Olímpicos.

Olga Asato tem destaque como integrante da seleção feminina de vôlei que competiu no México em 1968, alcançando a quarta colocação. Asato faz parte do panteão de atletas peruanos reconhecidos com a mais alta distinção que o Peru confere às suas estrelas: os Louros Esportivos.

O primeiro nikkei peruano a participar nos Jogos Olímpicos foi Tomás Iwasaki, integrante da seleção masculina de futebol em Roma 1960. Vestindo a camisa do time Universitario de Deportes, Iwasaki foi atacante e tetracampeão da liga profissional peruana de futebol.

O ciclista peruano Teófilo Toda competiu em Tóquio 1964. (Foto: revista Superación).

Em Tóquio 1964, competiu o ciclista Teófilo Toda, cuja presença nos Jogos realizados no Japão não teria sido possível sem as contribuições financeiras de um grupo de universitários nisseis membros de uma organização chamada Associação Universitária Nissei do Peru (AUNP).Toda tinha excelência esportiva para ser incluído nos Jogos, mas como não havia recursos suficientes para cobrir a sua participação, a AUNP assumiu o desafio de financiá-lo ao organizar atividades para arrecadar fundos.

O boxeador Luis Minami lutou no México em 1968. No ano anterior havia sido vice-campeão panamericano em Winnipeg.

Tivemos que esperar 16 anos até aparecer outro nikkei peruano nos Jogos. Em 1984, José Inagaki competiu na luta livre em Los Angeles. Segundo a pesquisa, aquela foi a última vez que um nikkei nascido no Peru participou nos Jogos Olímpicos.

Mas é preciso mencionar ainda o japonês Akira Kato, treinador da seleção peruana de vôlei que esteve perto de ganhar a medalha de bronze no México em 1968, e que chegou à quarta posição no Mundial de 1973.

Kato foi o responsável pela decolagem do vôlei feminino peruano, que na década de 80, sob o comando do sul-coreano Man Bok Park (o japonês havia se afastado da seleção por motivos de saúde), quase atingiu o topo duas vezes: como vice-campeão mundial em 1982 e medalhista de prata em Seul 1988.

NADADORES DE ÉPOCA

Entre os Jogos Olímpicos de Londres em 1948 e os Jogos Olímpicos de Sochi em 2014, o país que contribuiu com o maior número de atletas nikkeis foram os Estados Unidos (30), seguidos pelo Brasil (17), Peru (5) e México (3), de acordo com a pesquisa de Alberto Teramoto. Além disso, os Estados Unidos também são o país cujos nikkeis mais conquistaram medalhas olímpicas (25). Em seguida aparecem o Brasil (3) e o México (1).

Quatro das medalhas dos Estados Unidos foram para o nadador Ford Konno: ouro nos 4x200m e 1.500m livre, e prata nos 400m livre em Helsinque 1952; e prata nos 4x200m livre em Melbourne 1956.

Um acontecimento extraordinário teve lugar em Helsinque: os três medalhistas na prova de 1.500m livre foram nadadores de origem japonesa. Ao lado do campeão Konno estavam também no pódio o japonês Shiro Hashizune (prata) e o brasileiro Tetsuo Okamoto (bronze).

Pódio dos 1.500m livre em Helsinque 1952: o americano Ford Konno (ouro), o japonês Shiro Hashizune (prata) e o brasileiro Tetsuo Okamoto (bronze). (Foto Wikipedia).

Outro nadador nascido nos Estados Unidos, Yoshinobu Oyakawa, foi campeão olímpico nos 100m costas.

A nadadora americana Evelyn Kawamoto conquistou duas medalhas de bronze em Helsinque 1952. (Foto Wikipedia).

Nos Jogos realizados na Finlândia havia outra presença nikkei marcante: a nadadora americana Evelyn Kawamoto conquistou duas medalhas de bronze. Dando ainda mais cor a esta confluência de proezas excepcionais: Kawamoto e Konno se casaram.

A natação nos reserva mais surpresas. Vamos voltar três anos antes, até 1949, quando foram realizados os Jogos Aquáticos Nacionais nos Estados Unidos, com a participação como convidados de um grupo de nadadores japoneses, entre eles Hironoshin Furuhashi, conhecido como o “peixe-voador de Fujiyama”, que bateu vários recordes mundiais.

A participação dos japoneses foi um êxito esportivo, mas a sua estada foi impactada pelo sombrio clima anti-japonês que ainda persistia nos EUA quatro anos após o término da Segunda Guerra Mundial. De acordo com a pesquisa, os hotéis locais se recusaram a acomodá-los, o que levou um empresário nissei a acolhê-los durante a sua presença no país.

É nesse ponto que a mostra ressalta a figura desse empresário nikkei que hospedou os nadadores japoneses, Fred Wada, destacando o seu papel crucial para que Tóquio sediasse os Jogos Olímpicos de 1964, assim como as suas intervenções para que a Cidade do México e Los Angeles se tornassem as sedes olímpicas em 1968 e 1984.

Voltando a Furuhashi: naquela mesma época, este lendário atleta japonês protagonizou um evento importante para a comunidade nikkei peruana.

Furuhashi e outros nadadores japoneses visitaram o Peru para fazer uma apresentação na piscina olímpica que os isseis haviam doado a Lima na ocasião dos seus 400 anos de fundação. Durante a performance dos atletas, o hino nacional japonês foi ouvido pela primeira vez no Peru desde o fim da guerra.

No entanto, o impacto da visita de Furuhashi e seus companheiros foi mais do que simbólico. Naquela época, os nikkeis careciam de representação institucional (a Sociedade Central Japonesa havia sido fechada durante a guerra) e não existia uma presença diplomática japonesa (como consequência do rompimento das relações bilaterais pelo mesmo motivo).

Como não havia nenhuma instituição nikkei para proporcionar apoio aos atletas japoneses, um grupo de isseis foi organizado para esse fim, servindo como base para a criação em 1950 do Club Pacífico, uma instituição hoje desaparecida que teve papel decisivo na reconstrução do meio social nikkei no período pós-guerra.

SUPREMACIA AMERICANA

O atleta Bryan Clay, ganhador da medalha de ouro no decatlo em Pequim 2008. (Foto: Erik van Leeuwen / Wikipedia).

Os EUA também são o país de origem de três outros atletas laureados nikkeis.

Bryan Tsumoru Clay, atleta de mãe japonesa que ganhou duas medalhas em decatlo, em Pequim 2008 (ouro) e Atenas 2004 (prata). Ainda mais impressionantes são as suas premiações em campeonatos mundiais de atletismo: três medalhas de ouro (2005, decatlo; 2008, heptatlo; e 2010, heptatlo).

Por sua vez, o halterofilista Tommy Kono foi campeão olímpico em Helsinque 1952 e Melbourne 1956, como também vice-campeão em Roma 1960. Como no caso de Clay, a sua trajetória foi ainda mais grandiosa em campeonatos mundiais: conquistou seis títulos consecutivos.

O patinador Apolo Anton Ohno, o nikkei que ganhou o maior número de medalhas olímpicas. (Foto: Noelle Neu / Wikipedia)

Todos aqueles mencionados até aqui são, sem dúvida, extraordinários, mas nenhum deles chegou tão longe quanto o americano Apolo Anton Ohno, um patinador de velocidade em pista curta que ostenta um quadro de medalhas olímpicas sem igual: duas de ouro, duas de prata e quatro de bronze. Nenhum outro atleta nikkei ganhou tantas medalhas na história dos Jogos Olímpicos e nenhum outro americano conquistou tantas medalhas na história dos Jogos Olímpicos de Inverno.

Do Brasil e do México vale destacar Chiaki Ishii, cuja medalha de bronze nos Jogos de Munique em 1972 foi a primeira do judô brasileiro na história olímpica, e o ciclista José Manuel Youshimatz Sotomayor, que conquistou a medalha de bronze em Los Angeles 1984.

Nos últimos Jogos Olímpicos, os de Tóquio 2020, dois judocas nikkeis competiram pelo Brasil: Eric Takabatake e Gabriela Chibana.

Um fato notável em Tóquio 2020: uma das integrantes da seleção japonesa de vôlei feminino, Aki Momii, é filha de decasséguis peruanos.

LAÇOS NIKKEIS CONTINENTAIS

A mostra está sendo apresentada no Peru graças a um acordo de colaboração firmado entre o Museu "Carlos Chiyoteru Hiraoka" e o Museu Akane em 2021.

O pesquisador mexicano elaborou a lista de atletas olímpicos nikkeis ao estudar os cadastros de cada país, usando como referência os sobrenomes. Por essa razão, é possível que alguns atletas não tenham sido incluídos, já que existem nikkeis sem sobrenomes que os identifiquem como tal.

Apesar disso, o ambicioso trabalho realizado pelos organizadores da exposição é mais um passo na construção da história dos nikkeis nas Américas e no fortalecimento dos laços entre as diversas comunidades de origem japonesa no continente.

Após a abertura da exposição no Peru, o Museu da Imigração Japonesa no Peru firmou convênios com os seus pares do Brasil e Paraguai. Novos frutos da colaboração nikkei. Que outros mais virem realidade.

 

© 2022 Enrique Higa Sakuda

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About the Author

Enrique Higa é peruano sansei (da terceira geração, ou neto de japoneses), jornalista e correspondente em Lima da International Press, semanário publicado em espanhol no Japão.

Atualizado em agosto de 2009

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