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Oshogatsu tropical

Mais um ano novo chegou! Nesta época, normalmente fazemos reflexões de como foi o ano passado, de tudo que fizemos de bom ou de ruim, planejando novos planos, desejos e promessas para o ano novo. Creio que isso não deva ser diferente para qualquer pessoa em algum lugar do mundo, indiferentemente da cultura e religião.

Porém, a forma de comemorar a passagem de ano certamente é diferente em cada país, dependendo também da cultura e religião de cada família. E comigo também não é diferente de quando estava no Brasil e agora no Japão. 

No Brasil, dizem que comemorar o Natal é com a família e o Ano Novo é com os amigos. Porém, na minha família, tanto o Natal como o Ano Novo são comemorados em família. Família em sentido amplo que vai além dos pais, irmãos, esposa, filhas, cunhadas, sobrinhos e sobrinhas, também incluindo os avôs, avós, tios, tias, primos, primas e agregados. Acho que isso vem da influência da cultura latina e cristã que tudo vira uma reunião da Grande Família.

Com minha familia no brasil (2019)

Todos os anos, o oshogatsu de uma família nikkei já começa de manhã cedo, quando todos ficam ligados na NHK World para assistir ao Kohaku Utagassen. E no final da tarde, os parentes já começam a se reunir, trazendo os vários pratos e doces para a casa de meus pais e, por volta das 20hs, todos já estão reunidos.

Ceia de Ano Novo em Brasil

Em cima da mesa estão os pratos e doces que minhas tias trazem e, junto com o que o que minha mãe prepara, fica uma mistura de pratos da cozinha japonesa como sashimi, osekihan etc. e pratos tradicionais de Ano Novo como peru, pernil entre outros, com muitas cores e sabores. Não sei de onde vem esse costume, mas a abundância é para que nunca não falte comida na mesa.

Outro costume é todos se vestirem de branco, que significa a paz e com algum adereço de alguma cor que simboliza algum outro desejo, como amarelo para dinheiro, verde para a esperança etc. 

E na minha infância, lembro-me que assistíamos ao Kohaku Ukagassen no programa chamado “Imagens do Japão” no Ano Novo. Creio que para todo nikkeide meia idade, esse programa tem um espaço reservado com carinho na lembrança, pois todo domingo era dia de ficar com a Obaachan e Ojiichan assistindo o que se passava no Japão.

Osechi ryori (2017)

Próximo da meia-noite, começava a contagem regressiva e em meio aos brindes e abraços cada um pegava um fogo de artifício para comemorar a entrada do novo ano. E mesmo depois de toda a comilança, não poderia faltar o toshi koshi soba.

Depois, começava o jogo de cartas enquanto as tias arrumavam a louça. E isso ia até quase de manhã. E no dia seguinte, todos apareciam para comer o ozoni, almoçar o que tinha sobrado do dia anterior e assim ficava até a noite.

Fogos de Artifícios – Blumenau (2016)

Aqui no Japão, o oshogatsu é comemorado de uma forma diferente. Bem mais tranquilo e sossegado, com somente minha esposa, filhas, sogros, cunhados e filhos.

No meu caso, a comemoração do oshogatsu começa quando a família vai no dia 29 de dezembro para um onsen para relaxar, comer uma boa comida e beber, enquanto as crianças brincam com os primos. No dia 31, voltamos para casa, onde a avó de minha esposa já deixa preparado o osechi ryouri, além do ozoni para comemorar no dia primeiro.

Termas de Atami (2016)

Antigamente no Japão, as coisas ficavam fechadas até o dia 4 de janeiro e as pessoas ficavam 3 dias em casa descansando. Nós temos passeado com a família e, embora as lojas e restaurantes hoje em dia fiquem abertos, preferimos ir comprar o fukubukuro (sacola da sorte com vários produtos que a pessoa compra sem saber o que há dentro).

Uma coisa tradicional para muitas pessoas no Japão é ver os primeiros raios do sol, o hatsuhinode. Para muitos é como emendar desde a madrugada. Já fiz isso antes, mas hoje é difícil para mim.

Também muitas pessoas praticam o hatsumode que é ir rezar em algum jinja. Lembro-me que quando estava no ryugaku, saí com uns amigos e resolvemos andar de Ebisu para Harajuku. No caminho vimos um monte de gente indo para o Meiji Jingu e resolvemos seguir as pessoas. Mas quando vimos o mar de gente até poder chegar ao altar, resolvemos voltar, mas já estávamos no meio desse mar de gente, então, tivemos que continuar. Foi uma experiencia muito legal, mas não faria de novo. Prefiro ir no dia primeiro ou no dia 2, com mais calma a algum jinja perto.

Meiji Jingu

Para mim que gosto de maratonas, nos dias 2 e 3 de janeiro, fico ligado no Hakone Ekiden, que é a maratona de revezamento entre os estudantes universitários de ida e volta do percurso de 217km entre Tokyo e Hanoke.

Porém, as melhores lembranças de oshogatsu em família foram no ano 1999/2000 em New York na Times Square e em 2000/2001 em Paris na Champs- Élysées, ambos em meio a pessoas de diversos cantos do planeta num coro sonoro de contagem regressiva. Em especial em Paris, reencontrei minha amiga de infância com quem me casei.

O que mudou nesses anos todos?! Acredito que, embora as distâncias sejam grandes, graças ao avanço da internet, podemos sentir a família e os amigos próximos. Também podemos estar conectados para fazer a contagem regressiva com outros lugares do mundo e ter a mesma sensação de estar em New York e Paris novamente.

Se você for passar o ano novo com a grande família como no Brasil, sorte sua, aproveite! Se você for passar mais tranquilo e refletindo, também será sensacional.

Mas o que não mudou são as esperanças e as expectativas para o ano novo que todos desejam.

Feliz Ano Novo!

 

© 2022 Antonio Kotaro Hayata

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About the Author

Antonio Kotaro Hayata nasceu em São Paulo, capital, graduado em Direito pela PUC-SP com MBA em Finanças pela FIA/USP. Hoje está no Japão, trabalhando na Kyodai Remittance, responsável pelo mercado do Brasil e Nikkei Network e em paralelo como tradutor e intérprete legal. Advogado por formação, mas financista por opção, levou uma carreira quase totalmente voltada para instituições financeiras, sempre tendo o Japão como pano de fundo. Amante de esportes em geral, praticante de corrida de rua e futebol, com a pandemia da Covid-19, descobriu uma nova paixão que é o ciclismo de estrada.

Atualizado em outubro de 2021

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