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Yoshiki Nagahama e One Okinawa – a mídia que une os uchinanchu do mundo

Yoshiki Nagahama (à dir.) Entrevista no Havaí na primavera de 2019

Colônia Okinawa 

No dia 30 de outubro de 2019 (lembrando que 30 de outubro é o “Dia Mundial dos uchinanchu1), foi lançada a revista na web One Okinawa, que traz nessa edição entrevistas com uchinanchu do Havaí, além de uma reportagem sobre o Castelo de Shuri que foi destruído por incêndio. O fundador da revista é Yoshiki Nagahama, que foi jornalista do Ryukyu Shimpo e reside na província de Okinawa.

Ele diz: “A ideia de lançar este meio de comunicação já estava na minha cabeça há alguns anos, mas foi mais ou menos no final de abril deste ano (2019) quando começaram a vender passagens custando cerca de 10 mil ienes saindo do Aeroporto Internacional de Kansai e chegando no Havaí e eu aproveitei por ser uma oportunidade imperdível. Chegando lá fiz entrevistas com pessoas ligadas a Okinawa e foi assim que as coisas começaram a andar. Cerca de meio ano antes de viajar para o Havaí, reuni o meu pessoal: um colega da mesma época em que trabalhei no Ryukyu Shimpo, que tinha tido experiência de ser bolsista no Havaí para ser o administrador; outro colega do Ryukyu Shimpo que foi bolsista no México e domina o espanhol para redator e uma colega dos tempos de escola primária que é a encarregada do Web Design. Esta é a nossa equipe.”

Nagahama veio a saber sobre os imigrantes originários de Okinawa 10 anos atrás. Ele não tinha nenhum parente que tivesse imigrado e os uchinanchu que haviam saído para o exterior não eram pessoas próximas, mas logo que se formou na universidade ele virou mochileiro e andou por muitos países do mundo. Foi nessa ocasião que, por alguma razão, ele soube dos imigrantes oriundos de Okinawa na Bolívia.

“Enquanto estava no México, pensei em Okinawa de alguma forma e digitei Okinawa no Google Maps. Foi então que apareceu “Colônia Okinawa” e a cena de uma terra colonizada por imigrantes de Okinawa. E visitando a Colônia Okinawa na Bolívia, notei que a cultura de Okinawa da época que eles imigraram (durante e pós guerra) ainda se mantém e eu que moro atualmente em Okinawa fiquei muito surpreso, pois tive a impressão que estava entrando na máquina do tempo. Outra coisa surpreendente foi o grande número de pessoas que conversa no dialeto uchinaaguchi2. Até que eu entendo esse dialeto, mas entre uchinaaguchi e o inglês, sou melhor no inglês (risos). As pessoas da Colônia Okinawa, além do dialeto e da língua japonesa formal, usam também o espanhol, são trilíngues pois”.

Nagahama passou um mês na Colônia Okinawa, observando de que forma os vestígios dos uchinanchu de antigamente se mantém no meio dos descendentes dos pioneiros.

Colônia Okinawa em 2010

A atuação dos uchinanchu

Foi em 2016 que Nagahama voltou a se sentir fortemente impressionado com o assunto imigração, ao participar como jornalista de uma caravana cujo intuito era divulgar o “Sekai no Uchinanchu Taikai” (Festival Mundial Uchinanchu) entre as associações de província do exterior.

“Eu andei por 4 países da América do Sul: Peru, Bolívia, Argentina e Brasil e constatei que há um número muito grande de uchinanchu que obteve êxito na carreira. Por seu lado, no Japão, apesar de haver muitas pessoas originárias de Okinawa com atuação notável nas artes e cultura, não são poucos os habitantes da ilha que têm complexo de inferioridade pela renda baixa, padrão inferior de educação e altas taxas de divórcio. Na América do Sul, porém, acontece um fenômeno reverso, pois os descendentes de Okinawa têm uma alta posição social e para mim isto foi surpreendente e ao mesmo tempo inovador. Divulgando a atuação dos uchinanchu do exterior, o conceito da One Okinawa em primeiro lugar é de encorajar o povo de Okinawa a ter mais confiança em suas raízes. Não somente o povo de Okinawa, mas gostaria que um grande número de pessoas venha a conhecer a nossa revista na Web”.

Loja OKINAWA em Santa Cruz, Bolívia

Perguntado que outras seções publica a revista, ele respondeu: “Quando eu ainda estava na escola fundamental, a TV de Okinawa transmitiu um documentário focalizando as atividades dos imigrantes de Okinawa no exterior”. Ele relembra que naquela época não assistia com muito interesse, mas se conseguir reunir tudo agora, serão dados certamente valiosos.

Que tipo de público leitor deseja para One Okinawa?”, perguntei. “Todo mundo. Não só quem é uchinanchu, mas todos que apreciam as coisas de Okinawa, no sentido amplo da palavra eu considero uchinanchu. Por exemplo, todos que ficaram tristes com o incêndio ocorrido no Castelo de Shuri há poucos dias, acho certo serem considerados uchinanchu. Não é questão de laços de sangue ou origem”.

Com postura flexível

Sobre o foco das entrevistas de agora em diante, Nagahama disse: “Se fosse mídia sobre economia seria uma pessoa de negócios, se fosse de artes seria um artista, mas as pessoas focalizadas pela One Okinawa não se enquadram em categorias específicas. Pode ser alguém de Okinawa que é interessante ou faz algo assim, alguém da terceira geração que veste cosplay... Gostaria que o leitor se sentisse próximo da pessoa entrevistada”. Ele pretende ampliar o leque e, depois do Havaí, pensa em ir a Los Angeles e entrevistar o maior número de pessoas.

“Meu objetivo é começar assim, com calma, e continuar o trabalho, esperando que a One Okinawa alcance um público cada vez maior e que apareçam empresas dando apoio. Espero prosseguir sem pressa. Ao longo do tempo, edições não somente em japonês, mas também em inglês e espanhol. Como a monetização apenas com a mídia é difícil, também penso em flexibilizar ajudando as pessoas do exterior que tenham herdado terrenos situados na província de Okinawa a como fazer procedimentos administrativos; no caso de pessoa que viaja ao exterior e queira importar algum produto que achou”.

Para finalizar, pedi que comentasse sobre o Castelo de Shuri destruído por incêndio: “Só depois de vê-lo destruído pelo fogo foi que, pela primeira vez, percebi como é importante a existência do castelo. Para ser sincero não pensava que ficasse abatido a esse ponto. Para nós, o incêndio do Castelo de Shuri é como se a casa de nossos avós pegasse fogo, e só agora sinto que foi um acontecimento muito sério. Daqui em diante, quero publicar o que as pessoas sentem com relação ao Castelo de Shuri através da One Okinawa”.

Assim, Nagahama contou que pretende administrar a One Okinawa, a mídia que une os uchinanchu do mundo inteiro, sem estresse e com uma postura flexível. E eu, que também fiquei abalada com o Castelo de Shuri destruído pelo fogo e me sentindo uchinanchu no sentido amplo da palavra, quero acompanhar com interesse a trajetória da One Okinawa pelas mãos de Nagahama e sua turma de colaboradores.


Notas da tradução:
1. Palavra do dialeto de Okinawa que significa “o nascido ou descendente de Okinawa”
2. Língua símbolo da cultura de Okinawa

*****


A revista na web One Okinawa

 

© 2020 Keiko Fukuda

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Sobre esta série

Esta série consiste de projetos que ajudam a preservar e compartilhar histórias nikkeis de maneiras diferentes – através de blogs, websites, mídias sociais, podcasts, trabalhos de arte, filmes, revistas, músicas, mercadorias e muito mais. Ao destacar estes projetos, desejamos demonstrar a importância da preservação e compartilhamento das histórias nikkeis, como também inspirar outras pessoas a criar as suas próprias histórias.

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About the Author

Keiko Fukuda nasceu na província de Oita, se formou na Universidade Católica Internacional e trabalhou num editorial de revistas informativas em Tókio. Em 1992 imigrou aos EUA e trabalhou como editora chefe numa revista dedicada a comunidade japonesa. Em 2003 decidiu trabalhar como ¨free-lance¨ e, atualmente, escreve artigos para revistas focalizando entrevistas a personalidades.  Publicou junto a outros escritores o “Nihon ni Umarete” (Nascido no Japão) da editora Hankyuu Comunicações. Website: https://angeleno.net 

Atualizado em julho de 2020 

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