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Os caminhos para os Jogos Olímpicos

‘Não podemos desistir, sempre temos que acreditar e lutar muito’, diz Jessica Yamada. Foto: Arquivo pessoal.

Nunca desista: Jessica Yamada

No fim de julho de 2020, a atenção do mundo deverá estar concentrada nos Jogos Olímpicos de Tokyo. Turistas do mundo inteiro estão há meses planejando a viagem, reservando passagens e hotéis. Um grupo de pessoas está há mais tempo se preparando: por meses, muitos anos; talvez a vida inteira. São os atletas.

O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) estima que a delegação nacional contará com aproximadamente 250 atletas em Tokyo.

“Os Jogos Olímpicos são um evento que acontece apenas de quatro em quatro anos, com poucas vagas para muitos países e que proporciona grande visibilidade. É o sonho de muitos atletas, mas nem todos conseguem. Para um atleta profissional, a preparação não muda muito em relação aos treinamentos diários, somente a pressão que é maior”, afirma Jessica Yamada, 29 anos, yonsei, mesa-tenista.

Jessica é atleta profissional, com participações e títulos em competições nacionais e internacionais. Nos Jogos Panamericanos de Lima, disputados entre julho e agosto deste ano, ela obteve a medalha de bronze em duplas (com a atleta Bruna Takahashi), e a equipe brasileira feminina conquistou a medalha de prata.

Já no torneio Pré-Olímpico Latino de Equipes, disputado no fim de outubro, Jessica integrou o time com as atletas Bruna Takahashi e Caroline Kumahara para, enfim, garantir a vaga para Tokyo-2020.

“Para mim, a sensação é diferente em relação às outras meninas. Elas são mais novas e já foram para as Olimpíadas. Eu tive duas oportunidades, mas nunca fui. E sou a mais velha do time! Por alguns anos, eu já tinha desistido desse sonho, achava que já tinha feito todo o possível. De repente, essa oportunidade surgiu outra vez e estou aqui, nos classificamos para as Olimpíadas”, celebrou Jessica em depoimento logo após a classificação para a transmissão oficial da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF).

“Eu dediquei 10 a 12 anos da minha vida, parei de estudar, para me dedicar ao tênis de mesa, para correr atrás de um sonho que são as Olimpíadas. Acho que estou sendo a prova de que não podemos desistir, sempre temos que acreditar e lutar muito, que alguma hora o retorno virá. O meu retorno está sendo agora”, comemorou a atleta.

Em seus agradecimentos, Jessica destacou os pais. “Sempre tive influência familiar [para a prática de esportes], pois meu pai, Marcos Yamada, foi atleta e treinador desde 1975, amante do tênis de mesa, então eu o acompanhava quando ele ia dar treino. Minha mãe, Nanci Toshie, atleta de voleibol semiprofissional, atua até hoje no Corinthians”.

A viagem para Tokyo no ano que vem será a primeira vez de Jessica para uma Olimpíada. Porém, ela já esteve no país em outras ocasiões. “Minha primeira participação em um Mundial adulto foi em Yokohama em 2009. Em 2014, fomos campeãs mundiais por equipes da segunda divisão. Quando eu tinha 13 anos, fiz um estágio de três meses no dojo da Butterfly [fabricante de equipamentos para tênis de mesa] em Tokyo. Posso dizer que foi uma experiência que mudou a minha vida, pois aprendi muito com a cultura japonesa”, conta.

“No Japão, os atletas são muito esforçados, disciplinados, e possuem uma estrutura incrível. Já os brasileiros são mais ‘apaixonados’ pelo esporte, pois mesmo com tanta falta de apoio, todos lutam como podem para conseguir chegar em um bom nível.”

“Eu carrego bastante da cultura japonesa comigo. Houve aquele estágio quando eu era mais nova e, no Brasil, durante sete anos, tive um técnico japonês, o sr. Toshio Takeda, que era exigente ao ‘estilo japonês’. Disciplina, respeito, senpai e kohai [veterano e novato], horários, espírito de time, yakusoku [compromisso], sonkei [reverência], gaman [perseverança] foram palavras que faziam parte do meu cotidiano”, completa Jessica.

Na luta para a classificação: Alexandre Taniguchi

Os Jogos Paralímpicos de Tokyo acontecem de 25 de agosto a 6 de setembro de 2020. Alexandre Taniguchi, 33 anos, sansei, atleta de rugby em cadeira de rodas, está na luta para conseguir a classificação.

Alexandre busca a segunda participação nas Paralimpíadas. Foto: Thelma Vidales.

“São oito vagas em Tokyo, e o Brasil se encontra na décima posição do ranking mundial. Dos campeonatos regionais que aconteceram pelo mundo neste ano, seis países já conquistaram suas vagas diretas. Restam duas vagas que serão definidas em um torneio que ocorrerá no ano que vem”, explica. “Para nossa modalidade, a participação nos Jogos é definida apenas no ano anterior. Portanto, enquanto isso, costumamos participar de torneios internacionais para preparação, para enfrentar os outros países e ir nos preparando jogando mesmo.”

Alexandre é atleta do rugby há 10 anos. Em sua carreira, estão competições como os Jogos Paralímpicos Rio-2016 (8o lugar), Parapan-Americano Toronto-2015 e Lima-2019 (4o lugar), Pan-Americano de Rugby em Cadeira de Rodas Bogotá-2011 e Birmingham-2013 (medalha de bronze), Campeonato Brasileiro (tetracampeão) e três vezes Melhor Atleta Paralímpico do Ano da modalidade de Rugby em Cadeira de Rodas.

“Sempre gostei de esportes, tanto de assistir quanto de praticar. Antes de ser cadeirante, praticava a natação e, depois do acidente, em 2006 (mergulho em piscina que resultou na fratura na coluna na região cervical), conheci o rugby em cadeira de rodas”, conta.

“Em uma competição, normalmente programamos as nossas reuniões pré-jogo e as refeições conforme os horários dos jogos. Depois da reunião e depois de discutido o plano de jogo, nos preparamos nas cadeiras de jogo, que é um processo que demora um pouco também. Normalmente meia hora antes dos jogos, estamos prontos”, explica o atleta.

Sobre estilo de jogo entre brasileiros e japoneses, não há muita diferença em relação aos outros esportes. “Como é costume dizer, os japoneses são bem disciplinados, e os brasileiros são mais coração talvez, mais movidos pelas emoções. Acho que possuo um pouco dos dois, mas mais brasileiro que japonês”, afirma Alexandre.

A Seleção Brasileira de rugby em cadeira de rodas ficou em quarto lugar no Parapan-Americano disputado em Lima em agosto. Embora o caminho para a classificação para os Jogos Olímpicos de Tokyo seja complicado, ainda é possível. No começo de 2020, haverá o último torneio classificatório.

Em preparação para o futuro: Enzo Anzai

A participação em uma Olimpíada é um projeto que demanda tempo. Apesar de uma competição no Japão poder ter um significado especial para um nikkei, é importante seguir um planejamento.

Enzo, 17, considera Tokyo-2020 cedo demais; alvo é Paris-2024. Foto: Arquivo pessoal.

É o caso de Enzo Anzai, 17 anos, sansei, atleta de badminton. “Em meus objetivos, Tokyo-2020 está muito cedo, mas para Paris-2024, estarei buscando pontos para chegar entre os 34 do mundo para, assim, conseguir a sonhada classificação”.

Enzo pratica o badminton há seis anos e hoje é atleta profissional. “Na infância, comecei treinando ao ar livre, só com umas raquetes, petecas e rede. Sem saber direito como jogava. Sempre praticando junto com meu pai, que hoje é um dos meus técnicos. Com o tempo, fui evoluindo tanto na técnica como na questão de local e material de treino”.

O atleta, que mora em Presidente Prudente-SP, conquistou duas medalhas de bronze de duplas no Campeonato Sul-Americano Adulto e Juvenil disputado em Lima, Peru, em 2018, e tem participações de destaque em competições estaduais e regionais. Na ocasião dos jogos Rio-2016, foi um dos condutores da tocha olímpica.

O badminton é disputado em Olimpíadas desde Barcelona-1992. A condição para classificação é principalmente baseada no ranking mundial, em que os 34 mais bem colocados garantem a vaga. Há ainda mais três vagas para convidados e uma reservada a um atleta do país-sede.

“No mundo, existem vários campeonatos específicos que dão pontos para o atleta tentar se encaixar entre os 34. O trabalho é dobrado, pois são todos campeonatos importantes”, explica Enzo. “Nunca participei de um campeonato no Japão. Meu plano é competir lá no ano que vem, pois o nível é mais alto”, acrescenta. “Em geral, o jogo do brasileiro é com muita batida; no Japão, as pessoas jogam mais trabalhado. Acho que me encaixaria no estilo do Japão.”

 

© 2019 Henrique Minatogawa

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About the Author

Henrique Minatogawa é jornalista e fotógrafo, brasileiro, nipo-descendente de terceira geração. Sua família veio das províncias de Okinawa, Nagasaki e Nara. Em 2007, foi bolsista Kenpi Kenshu pela província de Nara. No Brasil, trabalha na cobertura de diversos eventos relacionados à cultura oriental. (Foto: Henrique Minatogawa)

Atualizado em julho de 2020

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