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O Caminho do Busshi entre o Passado e Presente, Oriente e Ocidente

Fazer minha primeira longa-metragem quando eu tinha 18 anos mudou drasticamente o curso da minha vida. Para melhor ou pior, me atrevi a pensar que eu poderia vir ao Estados Unidos, me tornar cineasta e fazer filmes que poderiam inspirar pessoas.

Yujiro Seki

Por mais que soe tão ingênuo, eu acreditei em meu sonho, não importa quantas vezes eu senti que estava falhando. Não ser capaz de falar inglês muito bem, foi um enorme desafio para mim. Mas por um longo tempo eu também sofri discriminação por ser um homem asiático com um sotaque forte. E além disso, foi muito difícil para mim deixar de lado meus hábitos e princípios que adquiri na sociedade japonesa e assimilar a cultura americana completamente diferente.

Mais tarde, me moldei ao individualismo Americano e fui ficando mais confortável vivendo nos Estados Unidos. Comecei a ter dificuldade em compreender meu lugar na sociedade japonesa, com suas convenções e coletividade. Experimentei uma crise de identidade. Eu não era americano e nem japonês. Eu senti que não era bem-vindo em nenhum dos dois lugares.

Por anos eu senti que não tinha lugar para ir, e fiquei cada dia mais depressivo. Mas em algum ponto percebi que algo cresceu dentro de mim. Se eu iria inspirar as pessoas com meus filmes, tinha que abraçar quem eu era. Pensei sobre meu presente e passado, me dividi entre continentes e culturas, e decidi confrontar essa divisão no filme. Além dessa decisão veio um esforço de seis anos que se tornou Carving the Divine: Buddhist Sculptors of Japan (Esculpindo o Divino: Escultores Budistas do Japão)—um documentário que se baseia e fala nas partes mais profundas da minha herança e identidade.

Eu sou filho de um fabricante de butsudan (Altares/mobiliário budista). Quando eu era pequeno, eu estava cercado de objetos budistas, incluindo móveis, estátuas, incensos, santuários e assim por diante. Meu pai me levou junto com ele nos templos o tempo todo, já que alguns de seus clientes eram padres budistas. Não pensei nisso na época. Era apenas o negócio da família, e eu não tinha muito senso que aquilo era mais do que apenas um negócio familiar. Mas quando cheguei aos EUA, frequentei a Universidade da Califórnia em Berkeley, interagi com pessoas de diferentes culturas e vi artes de todo o mundo, percebi que o ambiente em que cresci era algo muito bonito, precioso e profundo.

Então, é disso que eu fiz um filme, com a intenção de compartilhar esse mundo com o mundo: Esculpindo o Divino, oferece um olhar raro e íntimo no processo artístico e de vida dos busshi modernospraticantes de uma linhagem de 1400 anos, esculpindo madeira que está no coração do japonês, o Budismo Mahayana.

Na minha opinião, a minha falta de apreciação juvenil de nossa cultura tradicional não era excepcional. Na verdade, essa falta de admiração e apreciação parece penetrante no Japão, especialmente entre os japoneses que nunca se afastam da sociedade japonesa. As estátuas budistas são onipresentes no Japão, tanto que a maioria dos japoneses não pensa nada delas, e muito menos dos artesãos que as esculpe.

Curiosamente, os japoneses têm a tendência de apreciar suas tradições pelas quais as pessoas do mundo ocidental têm mostrado grande apreço. Se as pessoas do mundo louvarem uma prática cultural japonesa, as pessoas do Japão farão tudo o que estiver ao seu alcance para preservá-la e protegê-la. Mas se eu apresentasse Esculpindo o Divino apenas no Japão, na maioria das vezes, os japoneses não levariam a tradição do busshi seriamente. E por causa dessa atitude, busshi é uma espécie ameaçada de extinção. A sua arte ainda se eleva a alturas incríveis de excelência, mas as condições para que sobrevivam no Japão moderno continuam ficando cada vez mais difíceis.

No entanto, ao mostrar este documentário para o mundo e conquistar o reconhecimento de busshi de pessoas fora do Japão, espero que os japoneses finalmente vejam o tesouro aos seus pés pelo que é e façam o esforço necessário para preservar e crescer essa tradição de 1400 anos . Essas esculturas criadas pelo busshi, não são apenas artesanato.Elas têm uma profunda conexão espiritual com a psique coletiva japonesa. Então, se eu posso usar habilidades, conquistadas por continentes e culturas, para atrair pessoas e preservar e enriquecer as conexões espirituais dessas esculturas, isso seria uma realização fantástica, e uma que chegará a consertar minha identidade dividida. Já tendo terminado este filme, sinto-me mais confiante de onde eu vim e o que eu me tornei: tanto japonês quanto americano – porém, humano, acima de tudo. E, ao atravessar o passado e o presente, a leste e a oeste, através de uma arte que as pessoas de culturas e tempos muito diferentes podem apreciar, esta é a minha maior esperança: dirigir nossa atenção para a nossa experiência humana coletiva e reconhecê-la como bela, preciosa e profunda.

Para mais informações sobre Carvig the Devine >>

 

© 2018 Yujiro Seki

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About the Author

Nascido e criado no Japão, Yujiro Seki descobriu sua paixão pelo cinema quando ele estava no colégio. Ao fazer seu primeiro longa-metragem, Sokonashi Deka (O Detetive Enigmático), ficou apaixonado pelas possibilidades imaginativas do cinema e prometeu dominar a arte através do estudo nos Estados Unidos. Apesar do fato de que começar uma nova vida em um novo país foi um desafio por si só, Yujiro obteve um Bacharelado em Filmes da Universidade da Califórnia em Berkeley e completou um curta-metragem, Sashimi Taco, para sua tese de honra. Após sua graduação, Yujiro mudou-se para Los Angeles para trabalhar como diretor do departamento de video para Design Intermarket e como instrutor de cinema no Montecito Fine Arts College of Design. Após a obtenção da residência estadual permanente, Yujiro começou a estudar em tempo integral no programa Cinematografia na extensão UCLA. E depois de se formar nesse programa, embarcou na jornada de seu documentário, Carving the Divine: Buddhist Sculptors of Japan (Esculpindo o Divino: Escultores Budistas do Japão).

Atualizado em março de 2018

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