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O léxico issei

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Este Novo Dicionário Kenkyusha Japonês-Inglês (2ª edição, 1931) pertencia aos meus avós. É um recurso valioso para buscar palavras japonesas antigas e kanji.

 

Durante anos eu quis criar uma lista de palavras e frases nipo-americanas. Comecei a fazer uma lista para este artigo contendo palavras que, na maior parte, chegaram até nós através da geração issei. Não estou me referindo aos termos japoneses padrão, tais como shoyu (molho de soja) ou urusai (irritantemente barulhento), que a maioria dos nikkeisusam ou entendem porque eles têm o mesmo significado no Japão dos dias de hoje.O meu foco é em palavras ou expressões que se tornaram exclusivamente nipo-americanas pelas razões que explico abaixo.

Devo esclarecer que as palavras japonesas padrão estão em itálico, exceto aquelas com as quais a maioria dos leitores já está provavelmente familiarizada. Os meus termos nikkeis não estão em itálico [no texto original em inglês] e também não estou usando mácrons porque não acho que fazem parte da linguagem nipo-americana. Uma senhora kibei [nascida nos E.U.A. mas educada no Japão] me disse uma vez que ela podia distinguir entre um falante japonês nativo e um nikkei falando japonês pela pronúncia dos sons das vogais longas e curtas, e onde eles botavam o acento em palavras como ame (chuva) e ame (doce).

O que mais me interessa são as palavras japonesas que os nikkeis usam, mas que já não são usadas no Japão ou que tiveram o seu significado alterado. As línguas evoluem não importa onde, mas para os isseis algumas palavras e frases ficaram congeladas no tempo. É por isso que os japoneses nativosgeralmente dizem que a maneira como os nikkeis falam japonês é antiquada. Provavelmente, o melhor exemplo é benjo, querendo dizer banheiro. A palavra “benjo” não é mais usada no Japão; seria como dizer “dependência”. Na verdade, fui informado que a palavra nãoapenas é antiquada, mas também é considerada bem vulgar no Japão.

O léxico issei também reflete a sua mistura com os migrantes de outras prefeituras do Japão (com os seus dialetos distintos), assim como os imigrantes de outros países. Isto ocorreu especialmente no Havaí, onde palavras de culturas diferentes se misturaram e acabaram chegando aos Estados UnidosContinental.

A minha lista inclui palavras japonesas que osisseis usavam para identificar objetos que encontraram pela primeira vez depois de se estabelecerem nos Estados Unidos, além dealgumas palavras da língua inglesa que os isseis pronunciavam com sotaque japonês. Há também expressõescriadas através da combinação do japonês com o inglês.

Não incluí alguns termos e frases japonesas – mesmo que tenham um significado especial para os nipo-americanos –caso essas palavras continuem a ser usadas no Japão com aproximadamente a mesma definição. Entre estas palavras estão gaman (que para os nipo-americanos significa a força interior e a perseverança necessárias para suportar o fato de seruma minoria racial nos E.U.A.) e shikata ga nai (“não tem como evitar”, que entre os nipo-americanos é ligada quase que exclusivamente àexperiência de exclusão e encarceramento durante a Segunda Guerra Mundial).

Outra palavra que me vem à mente é koden (um presente monetário para pessoas em luto). A prática do koden pode não ser exatamente igual no Japão; pode até mesmo ser diferente entre os próprios nikkeis. Um assunto frequentemente mencionado entre os nipo-americanos é a doação de selos postais como um okaeshi (presente de agradecimento à pessoa que havia dado o koden), o que, na minha opinião, é uma prática relativamente comum no sul da Califórnia. Eu sei que não é como se faz no Japão, e me disseram que no Havaí eles não enviam selos para as pessoas que dão koden. Mas não sei como funciona em outros lugares.

Então, aqui está a minha lista. Não é longa e, curiosamente, metade das palavras é relacionada à alimentação. A maioria das palavras e frases eram usadas pelos meus avós isseis. As outras, eu aprendi através de amigos nikkeis ou li sobre elas. Para enfatizar a singularidade de uma palavra nipo-americana, sempre que possívelincluí a equivalente no idioma japonês moderno e padrão.

Abunai kusa
No seu livro Country Voices (1987), David Mas Masumoto explica como a sua avó issei usava a frase abunai kusa quando se referia ao capim massambará1. Na indústria agrícola, ocapim massambaráé classificado como uma erva daninha nociva;ou seja,é muito difícil de ser erradicada. Abunai é a palavra japonesa para “perigoso”, e kusa significa “grama/capim”. 

Bakatare
Bobo ou idiota. Japonês padrão: bakayarō. Eu li que bakatare vem do dialeto de Hiroshima. Como Hiroshima era a imin ken (prefeitura “produtora de imigrantes”) no. 1 no Havaí e em muitos outros lugares, os isseis de Hiroshima eram mais numerosos que os imigrantes japoneses de outras prefeituras. Por essa razão, algumas expressões idiomáticas de Hiroshima foram adotadas por comunidades nikkeis inteiras. O artigo de Ben Hamamoto “A Look at the Emigration of Identity from Japan to America” (Uma Olhada na Emigração de Identidade do Japão à América) ​​apóia essa afirmação.

Bambai
Os meus quatro avós (que emigraram de diferentes partes do Japão e se estabeleceram em diferentes partes da Califórnia) diziam “bambai” ao invés de “daqui a pouco” ou “eventualmente”. Muitas vezes, eu e a minha mãe ficávamos nos indagando se bambai era uma palavra japonesa, um dialeto de alguma prefeitura, ou alguma outra coisa. A minha mãe achava que bambai poderia ter sido derivado da expressãoem inglês “by and by” (“eventualmente” ou “daqui a um tempo”).

Benjo
Banheiro ou toilette. Japonês padrão: toire ou otearai.

Chamen
Chow mein. Japonês padrão: sara udon.

China meshi
Comida chinesa ou restaurante chinês. Japonês padrão: chūka ryōri.

Hadaka pakku
Literalmente, “caixote nu” – um termo agrícola [em inglês, “naked pack”]. Antes da Segunda Guerra Mundial, os fazendeiros enrolavam individualmente com papel tomates, melões, maçãs e outras frutas e legumes frescos, geralmente com um rótulo decorativo, à medida que os iam colocando em caixotes de madeira para transporte. Quando as frutas ou legumes não eramenrolados em papel, os isseis chamavam o caixote de hadaka pakku. Hadaka é a palavra japonesa para “nu” e pakku é “pack” pronunciado com sotaque japonês.

Hakase
Antigo termo japonês para um indivíduo que tem grau de doutorado. Japonês padrão: hakushi.

Hapa/Happa
Filhos de pai nikkei e mãe não-nikkei, ou vice-versa. Apesar de no passado ter sido considerado um termo um tanto pejorativo, hapa é agora visto com bons olhos, especialmente pela geração yonsei, e é amplamente utilizado e aceito na comunidade nipo-americana. De acordo com a Enciclopédia da História Japonesa Americana, Edição Atualizada (2001), acredita-se que o termo foi originado no Havaí, como derivado da expressão pidgin hapa-haole, que literalmente quer dizer “metade branco/a”.

Mikan
Tangerina. Este é um exemplo dos isseis terem usado uma palavra japonesa com um significado específico para identificar objetos semelhantes encontrados nos E.U.A. A minha avó se referia a todas as variedades de tangerina como mikan. No Japão, uma mikan é um tipo específicode tangerina conhecido em inglês como mandarin orange (lit., “laranja mandarina”) ou tangerina Satsuma (Citrus unshū). A palavra japonesa padrão para tangerina é ponkan.

Mishin
Automóvel. Literalmente, “machine” (máquina) pronunciada com sotaque japonês. Nos Estados Unidos, no início do século XX não era algo incomumse referir a um automóvel como uma máquina. Daí, os isseis passaram a chamá-lo de mishin. Era muito mais fácil do que dizer “a-to-mo-bi-ru”! Japonês padrão: kuruma ou jidōsha. No japonês moderno, “máquina” é pronunciada mashin, como no caso de mashinyu (マシン油, óleo de máquina). No Japão de hoje, mishin (ミシン) se refere à máquina de costura.

Napa/Nappa
Repolho chinês (Brassica campestris). Japonês padrão: hakusai. No japonês moderno, nappa quer dizer “verduras” em geral, ou seja, todos os “vegetais com folhas”. Assim como a palavra “happa”, napa era originalmente escrita com dois Ps. Acredita-se que a mudança na ortografia reflete a dificuldade que as gerações mais jovens denipo-americanos e não-nikkeis têm em pronunciarduplas consoantes.

Okazu
Uma “refeição de uma panela só”, seja um cozido ou refogado, composta de pedacinhos de carne e grandes porções de legumes sazonaise tofu. No japonês padrão, okazu se refere a pratos que acompanham o prato principal, como também aperitivos servidos com bebidas alcoólicas em um izakaya (pub ou bar).

Orai
“Está bem” ou “ok”. Literalmente,  “alright” pronunciado com sotaque japonês. Usado do mesmo modo que a palavra japonesa padrão daijōbu.

Pakkai
Originalmente,costelas de porco cortadas em pedaços menores e preparadasnum molho agridoce ou sato-shoyu, com pimentões e abacaxi. Acredita-se que o prato tenha sido originado no Havaí. Entre muitos nipo-americanos, pakkai é comumente usado para se referir àcarne de porco agridoce (japonêspadrão: su-buta).

Sato-shoyu
Quando eu era criança, os amigos mais chegados da nossa família tinham descendência okinawana. Eles se referiam ao molho teriyaki como sato-shoyu. Eu adorava a carne de porco “sato-shoyu” deles! Satōem japonês quer dizer açúcar. Historicamente no Japão, a palavra “teriyaki” se referia especificamente aos peixes grelhados com molho shoyu.

Uri
Como no caso da palavra mikan, a minha avó dizia uri para se referir a melões em geral. No Japão, melões como cantaloupe e orvalho de mel, introduzidos após a Segunda Guerra Mundial, são chamados de meron (メロン). Uri, no Japão, é um tipo específico de melão em formato de cabaça (Cucumis melo, também conhecido como conomon [ou melão coreano]) que é usado para fazer tsukemono.

Espero que os leitores contribuam com palavras e frases adicionais ao postar comentários no final deste artigo. E convido a todos para corrigir quaisquerdas minhas suposições que possam estar incorretas ou para compartilhar seus pontos de vista que possam ser diferentes dos meus.

Nota do Tradutor:
1. Também conhecido como “capim argentino” ou “sorgo de alepo”.

 

© 2017 Tim Asamen

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About the Author

Tim Asamen é o coordenador da Galeria Americana Japonesa, uma exposição permanente no Imperial Valley Pioneers Museum. Seus avós, Zentaro e Eda Asamen, emigraram de Kami Ijuin-mura, na prefeitura de Kagoshima, em 1919, e se estabeleceram em Westmorland, Califórnia, onde Tim reside. Ele ingressou no Kagoshima Heritage Club em 1994, atuando como presidente (1999-2002) e como o editor do boletim do clube (2001-2011).

Atualizado em agosto de 2013

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