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Centro de Estudos Nipo-Brasileiros guarda a história da comunidade nikkei

Os quatro mil livros em japonês e as mil obras em português e outros idiomas podem ser consultados no site da entidade (foto: Tatiana Maebuchi)

No bairro da Liberdade, em São Paulo, existe um acervo muito rico envolvendo descendentes de japoneses e que é disponível ao público, desde livros com pesquisas acadêmicas até uma caixa cheia de waribashi (hashi de restaurante). Tal coleção pertence a uma instituição que foi criada por alguns intelectuais japoneses logo após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Desde o início, conta com atividades de publicação e funciona 100% em japonês. O Centro de Estudos Nipo-Brasileiros (CENB)—ou Jinmonken, em japonês—tem um papel muito importante quando se trata de imigração japonesa no Brasil.

Acervo

O Centro de Estudos Nipo-Brasileiros conta com raridades, como o diário de Teijiro Suzuki, jornalista japonês que chegou ao Brasil em 1906 (foto: Tatiana Maebuchi)

Há dois acervos para manter separadamente os livros em japonês e as obras em outros idiomas. Em japonês, existem por volta de 4 a 5 mil livros, além de revistas, e em português e outros idiomas são cerca de mil livros—há revistas também. Os livros, principalmente em outros idiomas, tratam não só da imigração japonesa, mas da imigração de outros grupos como italianos, poloneses e alemães. Em geral, esses volumes são adquiridos, mas também recebem doações. Aquilo que não é incorporado ao acervo é doado a entidades da comunidade ou, no caso de livros em japonês, a universidades do Japão ligadas ao Brasil.

Todo o acervo bibliográfico está informatizado e a consulta pode ser feita pela internet, no site do Jinmonken. O catálogo para livros na língua japonesa está na parte em japonês do site e o catálogo para outros idiomas está na parte em português. Os documentos variados (álbuns de fotografia, mapas, fitas de áudio, fitas de vídeo, documentos pessoais, objetos), que são material de arquivo, ainda não estão catalogados. Porém, existe um projeto para se fazer esse serviço na área de arquivística.

O acesso é livre aos pesquisadores, não há cobrança de nenhuma taxa para se consultar o acervo e também não é necessário agendar a visita.

Dentre os visitantes do acervo do CENB, nikkeis e falantes do japonês são a grande maioria. O público em geral são pesquisadores, intelectuais, mas há também jornalistas, pintores e inclusive pessoas de outros países como Alemanha, Coreia do Sul e Estados Unidos.

Atividades

Por volta dos anos 1990, o Centro de Estudos Nipo-Brasileiros publicava a revista Kenkyu Repooto – que reunia o resultado de pesquisas dos membros da instituição e passou por um processo de remodelagem, tornando-se “Revista Jinmonken”, mais enxuta, com trabalhos acadêmicos, dissertações.

Além da revista, eventualmente publica livros, de autoria dos membros da entidade—no começo de sua história, chegou a fazer divulgação de assuntos relacionados ao Brasil em língua japonesa.

Desde o início de sua existência, a instituição realiza a publicação de livros (foto: Tatiana Maebuchi)

Para concretizar a publicação de livros, o Centro recorre ao financiamento de fundações que têm interesse nas atividades da comunidade nipo-brasileira, como, por exemplo, Fundação Katsuzo Yamamoto e Fundação Kunito Miyasaka.

Já para o funcionamento interno contam com aplicações financeiras e investimentos, e ainda o sistema de associados, tanto pessoa física quanto pessoa jurídica, que pagam uma anuidade.

São promovidos também seminários de pesquisa desde os anos 1970, a maioria deles ligados à imigração, mas às vezes com incursões por outros temas. Com o objetivo de se fazer divulgação do conhecimento acadêmico, sendo abertos ao público em geral, esses encontros oferecem a possibilidade de os participantes interagirem com o palestrante na sessão de perguntas e respostas, ao final do evento. Os seminários ficam gravados e disponíveis para consulta.

Tais encontros são realizados no espaço do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil e da Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil—KENREN, localizados no mesmo prédio onde está a sede do Jinmonken.

Sem pretensão a estudo acadêmico, o Centro de Estudos Nipo-Brasileiros promove ainda uma série idealizada por Yosuke Tanaka, que são histórias antigas da comunidade nikkei que algumas pessoas contam, uma espécie de episódios particulares da história da imigração.

E, apenas para o “público habitual”, são realizadas comunicações de pesquisa. Em geral são trabalhos de pesquisadores mais jovens, às vezes doutorandos.

Ainda no campo de pesquisa, o CENB costuma participar de projetos colaborativos mais específicos em conjunto com a JICA (Japan International Cooperation Agency ou Agência de Cooperação Internacional do Japão). Tais projetos resultam em relatórios que também são divulgados.

Bolsas de estudo e voluntários japoneses

O programa de formação de pesquisadores começou como uma bolsa de estudos para um estudante de graduação e chegou a ter quatro edições. Depois, esse programa passou por uma reformulação para atender estudantes de pós-graduação, oferecendo uma bolsa mais generosa, e foi mantido de 2009 a 2015. O objetivo era capacitar pesquisadores para permanecerem na entidade.

Quem mantinha o programa eram doadores, pessoa física e pessoa jurídica - alguns são particulares, outros são entidades—com o objetivo de fomentar a pesquisa. Os contratos costumam ser de um ano, às vezes com possibilidade de extensão por mais um ano.

Mais recentemente, a instituição teve duas experiências com voluntários da JICA vindos do Japão.A primeira foi para a organização do acervo, em 2008, feita por uma bibliotecária que implantou as etiquetas, o catálogo digital, etc.

Hoje conta com dois voluntários. Um se dedica à parte da história institucional e o outro está ajudando com o acervo, montando os índices das revistas e digitalizando para facilitar a busca. Em um futuro próximo, o Jinmonkentem um projeto de recrutar mais voluntários pela JICA para dar continuidade ao trabalho dos atuais ou para tornar-se definitivamente arquivista da entidade e fazer o levantamento e a catalogação da documentação de arquivo.

Histórico

O Centro de Estudos Nipo-Brasileiros (CENB) surgiu a partir do grupo Doyo-kai (Grupo Sábado), formado pouco depois do término da Segunda Guerra Mundial por intelectuais japoneses radicados no Brasil. O Doyōkai tinha como principal objetivo fazer o estudo da cultura e da sociedade brasileiras e, dentro deste contexto, discutir a imigração japonesa.

Mais tarde, alguns membros do Grupo criaram o Círculo de Estudos de Ciências Humanas de São Paulo, antecessor do atual CENB. As atividades desse grupo focavam as áreas de investigação de história e sociologia do Brasil, além de buscar maior compreensão sobre as populações de origem japonesa no país.

O Círculo de Estudos funcionou durante 15 anos até à criação do Centro de Estudos Nipo-Brasileiros, em março de 1965.

O CENB foi responsável pela formação de diversos pesquisadores, como os já falecidos Hiroshi Saitō (sociólogo, ex-professor da Universidade de São Paulo) e Teiichi Suzuki (ex-professor da Universidade de São Paulo, primeiro presidente da Casa de Cultura Japonesa-USP), além de Takashi Maeyama (antropólogo, ex-professor da Universidade de Shizuoka, no Japão), todos destacados em seus respectivos campos de estudo.

Assim, houve uma mudança do enfoque da entidade—de “estudos brasileiros” passou a “estudos sobre imigração japonesa e temas afins”.

 

© 2017 Tatiana Maebuchi

Brasil São Paulo (São Paulo)
About the Author

Nascida na cidade de São Paulo, é brasileira descendente de japoneses de terceira geração por parte de mãe e de quarta geração por parte de pai. É jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e blogueira de viagens. Trabalhou em redação de revistas, sites e assessoria de imprensa. Fez parte da equipe de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo), contribuindo para a divulgação da cultura japonesa.

Atualizado em julho de 2015

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