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O idioma japonês no dia a dia dos integrantes do Grupo Hikari de Londrina

Brasil Ondo

Pertencemos a uma geração de crianças, jovens, adultos e idosos descendentes de imigrantes japoneses que vieram para o Brasil no período anterior à Segunda Guerra Mundial; alguns são filhos, outros netos, bisnetos e tataranetos destes imigrantes.

Ao deixarem o Japão, nossos ancestrais gradativamente foram absorvendo a cultura ocidental, porém a influência da cultura japonesa tem sido preservada em muitas famílias, principalmente quando as gerações mais novas têm contato com pessoas mais idosas que passam para os mais jovens os valores, os costumes, a culinária e, também, o idioma japonês.

No Brasil, a maior colônia japonesa fica no Estado de São Paulo e a segunda está localizada na região norte do Paraná, com destaque para a cidade de Londrina.

A influência nikkei é bem marcante nesta cidade através de festivais que costumam atrair um grande público que aprecia a música, a dança, a culinária, o artesanato, a religião, possibilitando a integração das culturas oriental e ocidental.

O Grupo Hikari de Londrina foi criado em 2005 com a finalidade de divulgar a cultura japonesa com destaque para o bon odori, promover eventos para ajudar entidades carentes e também encontros para fortalecer a amizade, o trabalho em equipe e a qualidade de vida entre os seus integrantes.

O nome Hikari que significa luz, brilho em japonês foi uma escolha dos primeiros integrantes quando o grupo foi formado.

São aproximadamente 80 integrantes que se reúnem para dançar, participar de confraternizações como o shinenkai, no início de ano, tandyokai para comemorar os aniversariantes do trimestre e bonenkai, no final de ano e também participar na organização de eventos como o Motitsuki – Festival do Moti e o Odori Fest – Festival do bon odori.

Odori Fest

Nos encontros de confraternização, o cardápio é servido no sistema de motiyori em que cada participante leva um prato com doces ou salgados para compartilhar com os demais presentes. Algumas pessoas costumam embrulhar os pratos com furoshiki, uma espécie de pano de prato quadrado onde as extremidades são amarradas para dar firmeza ao conteúdo. A comida é variada, não podendo faltar o nishimê, um cozido de vegetais que é servido depois que todos fazem o brinde com as palavras banzai, viva!

O Motitsuki – Festival do Moti é um evento organizado pelo grupo desde 2006 com a finalidade de preservar a tradição trazida pelos imigrantes de preparar e degustar os bolinhos feitos com o motigome – um tipo especial de arroz – e também para angariar fundos para ajudar entidades carentes como o wajunkai – casa de repouso para idosos situada na cidade de Maringá, Paraná. 

O moti, conhecido como bolinho da prosperidade, é tradicionalmente consumido nas reuniões familiares no shougatsu durante as comemorações do ano novo e, também no dia a dia em receitas como o ozoni – caldo com algas, legumes e carne – e zenzai – caldo doce feito com um tipo especial de feijão, o azuki.

Outra maneira de fazer a degustação do moti consiste em aquecer o moti e depois umedecê-lo na mistura do shoyu que é omolho de soja com um pouco de açúcar. Algumas pessoas do grupo apreciam comer o moti junto com natô – um preparado à base de soja fermentada.

O destaque do Odori Fest tradicionalmente realizado em novembro na cidade costuma atrair delegações de várias cidades da região para dançar o bon odori, dança tradicional japonesa que atrai os mais idosos com as coreografias do tanko bushi, sakura ondo, shinran ondo, naniwa bushi dayo jinseiya para citar algumas, enquanto os mais jovens aguardam ansiosos o toque dos taikos, tambores japoneses, indicando a hora de começar o matsuri dance que é uma versão mais moderna do bon odori.

Sakura Ondo

As pessoas dançam em círculo ao redor do yagura, uma espécie de palanque onde ficam os tocadores com os seus tambores.

Na apresentação das danças costumamos vestir o happi que é uma vestimenta com uma logomarca para identificação do grupo ou o yukata, semelhante ao quimono, mais tradicional, porém mais simples de vestir e apropriado para o verão. 

O local da festa é decorado com aproximadamente 1000 tyotins ou origamis que são dobraduras feitas em papel onde constam os nomes das pessoas que adquiriram os mesmos e também enfeites representando o sakura que, segundo a tradição, tem o poder de atrair bons fluidos e harmonizar o ambiente.

O momento mais aguardado da festa é o ame moti – chuva de bolinhos de arroz – quando dez mil mini-motis, bolinhos de arroz embalados individualmente, são distribuídos ao público presente simbolizando a paz, a alegria e a felicidades para todos.

Ame moti - odori fest

Nas barracas terceiradas pela organização do evento são comercializados pratos como yakissoba - cujos ingredientes incluem carne, macarrão e legumes, o sukiyaki, com ingredientes semelhantes ao yakissoba, porém preparados com um molho diferente, o udon, que é uma sopa à base de macarrão servida no tyawan acompanhado do hashi, pauzinho de madeira que substitui os talheres, o sushi que é o bolinho de arroz enrolado com uma espécie de alga e outras iguarias da culinária oriental e também ocidental como pastéis e churrasquinhos.

Quando viajamos a lazer ou então para participar de festivais em outras cidades do Paraná ou em outros Estados costumamos levar bento, uma espécie de marmita contendo além do sushi, yakisakana, peixe grelhado, tsukemono, conservas como picles, omelete e outros ingredientes a gosto para comer durante a viagem ou nas paradas que o pessoal costuma fazer quando utiliza o ônibus ou carros como meio de transporte.

Os festivais de bon odori têm utilizado espaços públicos da cidade como praças e centros de eventos ou então são realizado nos kaikan, associações que congregam os nikkeis da comunidade. Tradicionalmente são servidos aos visitantes pratos típicos da culinária japonesa preparados pelas integrantes do fujinkai, associação de senhoras.

Costumamos entregar um orei, um envelope contendo determinado valor em dinheiro aos coordenadores do evento com a finalidade de colaborar nas despesas, incluindo a refeição que nos foi oferecida.

O Hikari reúne pessoas de bem com a vida, mas existem momentos tristes como a morte de amigos, integrantes ou familiares do grupo, em que todos se solidarizam participando do velório e do sepultamento.

Dependendo do vínculo familiar ou de amizade, optamos por entregar aos familiares o kooden, um envelope com dinheiro ou então enviamos uma coroa de flores seguindo o costume ocidental. A cerimônia religiosa na maioria dos casos é conduzida pelo bonsan, monge budista ou então por representantes de outras religiões orientais ou ocidentais.

A palavra mottainai tem um significado especial no grupo, não deixar comida sobrando no prato, não deixar água da torneira escorrendo, economizar na quantidade de detergente e assim por diante. A filosofia mottainai pode nos ajudar a entender como nos relacionamos com o meio ambiente evitando o desperdício.

É interessante observar que os participantes do grupo, como são nascidos no Brasil, muitos com formação universitária, dominam bem a língua portuguesa, mas costumam comunicar-se no dia a dia misturando os dois idiomas.

São comuns expressões como: aguenta firme pessoal - ganbatte ne, isso não tem jeito - shoganai ne, estou cansado - tsukareta ne, desculpe - sumimasen, como está - genki deska, vou me servir – itadakimasu.

Expressões a seguir são comuns no dia a dia dos imigrantes e descendentes no Brasil: por favor, coloque na geladeira – geladeira no naka ni oitekudasai, vamos colocar toalha na mesa – vamos colocar mesa kake, deixei na bolsa – bolsa ni okimashita, vou para casa de ônibus – ônibus de kaerimasu, venha para o almoço – almoço ni kitekudasai.

O Grupo Hikari realiza apresentações em instituições de ensino médio e superior, em empresas e outros espaços com a finalidade de integrar-se à comunidade não Nikkei, contribuindo desta forma na divulgação da cultura japonesa.

Este intercâmbio possibilita compartilhar com eles valores como pontualidade, compromisso, solidariedade, ordem e limpeza do ambiente, além de despertar neles o interesse pelo idioma, pelas artes, pela culinária e esportes do povo japonês.

Somos nikkeis nascidos no Brasil, temos orgulho de ser brasileiros, mas as nossas raízes estão do outro lado do mundo, na terra do sol nascente!

 

© 2016 Alba Shioco Hino, Nilza Matiko Iwakura Okano, Kiyomi Nakanishi Yamada

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Sobre esta série

Arigato, baka, sushi, benjo e shoyu—quantas vezes você já usou estas palavras? Numa pesquisa informal realizada em 2010, descobrimos que estas são as palavras japonesas mais utilizadas entre os nipo-americanos residentes no sul da Califórnia.

Nas comunidades nikkeis em todo o mundo, o idioma japonês simboliza a cultura dos antepassados, ou a cultura que foi deixada para trás. Palavras japonesas muitas vezes são misturadas com a língua do país adotado, originando assim uma forma fluida, híbrida de comunicação.

Nesta série, pedimos à nossa comunidade Nima-kai para votar nas suas histórias favoritas e ao nosso Comitê Editorial para escolher as suas favoritas. No total, cinco histórias favoritas foram selecionadas.

Aqui estão as histórias favoritas selecionadas.

  Editorial Committee’s Selections:

  • PORTUGUÊS:
    Gaijin 
    Por Heriete Setsuko Shimabukuro Takeda

  Escolha do Nima-kai:

Para maiores informações sobre este projeto literário >>


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About the Authors

Paranaense, graduada em História pela Universidade Estadual de Londrina - UEL e em Pedagogia pelo Centro de Estudos Superiores de Londrina - CESULON, professora aposentada da rede municipal e estadual de ensino. Bolsista do Governo Japonês-Ministério de Educação e Cultura na Universidade de Hiroshima entre 1987 a 1989. Participa do Grupo Hikari de Londrina, que tem como objetivo manter viva a cultura japonesa, responsável pela edição das fotos do site: www.hikarilondrina.com.br

Atualizado em junho de 2018


Natural de Arapongas, Paraná, graduada em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. Responsável pela administração de site e fanpage de empresa atacadista de joias e semijoias em Londrina, fotografando e produzindo vídeos para serem postados nos mesmos. Faz parte da coordenação do Grupo Ishindaiko de Londrina (taiko). Participa do Grupo Hikari de Londrina, que tem como objetivo manter viva a cultura japonesa, responsável pelas filmagens, produção e edição dos vídeos do site: www.hikarilondrina.com.br.

Atualizado em junho de 2018


Natural de Bebedouro no interior do Estado de São Paulo, graduada em Enfermagem pela Universidade São Paulo – USP, atuou como docente na Universidade Estadual de Londrina – UEL até se aposentar em 2010. Faz parte da equipe de produção do programa “Tecer Idades” da Rádio UEL FM da Universidade Estadual de Londrina, destinado ao público da terceira idade. Participa como voluntária em projetos ligados à área de envelhecimento humano e integra da diretoria da “Casa de Apoio ao Familiar de Idosos Acamados” em Londrina. Participa do Grupo Hikari de Londrina, que tem como objetivo manter viva a tradição e a cultura japonesa, responsável pela produção e redação de textos para o site: www.hikarilondrina.com.br

Atualizado em junho de 2018

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