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Os descendentes de japoneses em Parintins - Parte 1

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O mundo inteiro é cheio de festas maravilhosas. E mesmo no meio do mato, lá na Amazônia, não seria diferente. A maior delas é o Festival Folclórico de Parintins, também conhecido como Festa do Boi. O festival é realizado anualmente, no mês de junho, em Parintins, a segunda maior cidade do estado do Amazonas, no norte do Brasil.

Parintins tem cerca de 110 mil habitantes e fica num arquipélago fluvial, no Rio Amazonas. São várias pequenas ilhas, totalmente cercadas pelo rio gigante e pela floresta. Por isso, Parintins só é acessível de barco ou de aviões de pequeno porte, aqueles com hélice. 

Todos os anos, na época do Festival de Parintins, a cidade é inundada de turistas do mundo inteiro. No porto, veem-se os inúmeros barcos que chegam de Manaus e Belém, as grandes metrópoles da Amazônia.

Os barcos são salpicados de redes multicoloridas que servem de descanso durante a viagem e, também, ao longo do festival. Dormir no próprio barco é uma forma barata de hospedagem. Os foliões brincam durante a noite e descansam nas redes ao longo dia, embalados pelo vento suave do Rio Amazonas.

Redes no barco

De avião são, normalmente, duas viagens por dia. Porém, na época do festival, inúmeros voos diários partem e chegam à ilha, vindos de Manaus. Os bilhetes para assistir ao festival fora das arquibancadas das torcidas, que são gratuitas, costumam ser vendido até em grandes cidades como São Paulo. Os preços chegam a níveis absurdos e encontrá-los também é uma tarefa difícil já que as agências de turismo compram inúmeros tíquetes para revender.

A base do espetáculo, no Festival de Parintins, é o boi bumbá, uma manifestação folclórica bastante difundida no Norte e no Nordeste do Brasil. O festival é uma competição entre dois times: o Garantido, de cor vermelha e simbolizado pelo boi branco; e o Caprichoso, de cor azul e que tem o boi prateado como símbolo. São três dias de música e dança no final do mês de junho. A festa é embalada pelas toadas, canções temáticas que falam das lendas amazônicas e da grandeza dos bois, numa mistura de ritmos nativos, africanos e europeus. As alegorias representam as histórias contadas pelos grupos com riqueza, beleza e tecnologia. Algumas delas chegam a quase 30 metros de altura.

Boi Bumba

As performances não deixam nada a dever ao que é visto em outra grande festa popular brasileira, o Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro.  Aliás, as tecnologias de movimento das alegorias de Parintins são tão sofisticadas que foram  exportadas para o carnaval carioca, com artesãos que trabalham anualmente nas duas festas.

O palco do Festival de Parintins é o Bumbódromo, uma arena com capacidade para 35 mil espectadores. Nos dias de festival, o Bumbódromo é dividido em duas arquibancadas, a azul e a vermelha, que ficam uma de frente para a outra. Todo mundo veste vermelho ou azul durante o Festival de Parintins.

Se para os turistas a festa dura somente três dias, não é exagero dizer que o boi bumbá é presente o ano inteiro na cidade de Parintins. A devoção pelos bois pode ser vista já nas casas da cidade. É comum encontrar residências pintadas de vermelho ou azul, colorações que também aparecem em carros e outros pertences e utensílios. Os torcedores pessoas se vestem nas cores do seu boi e evitam usar roupas que remetam ao boi ‘contrário’. Aliás, eles sequer citam o rival pelo próprio nome. ‘Boi contrário’ é a expressão usadas pelos locais. Mas a grande surpresa foi descobrir um posto de gasolina com bombas de cores diferentes, para que cada um possa escolher onde abastecer. Até mesmo papais nóeis azuis eu vi circulando pela cidade.

A rivalidade vai até o aeroporto, onde as placas são sempre bicolores. E mesmo grandes marcas se rendem à disputa. Já viu uma coca-cola azul? Pois é, em Parintins tem. Diz-se que é o único caso na história em que a famosa marca mundial de refrigerantes aceitou mudar a cor de sua logo. E não é só ela. O Bradesco, um dos maiores bancos privados do país, faz o mesmo. As cervejas Kaiser e Skol também produzem latinhas especiais, em vermelho e azul, para a época do festival.

Vizinho ao Bumbódromo fica um museu que foi aberto em 2014. Lá, é possível conhecer as lendas que inspiram o boi de Parintins e admirar fantasias, fotos e outros materiais históricos.

Numa das fantasias, vi um leque que era uma coisa muito japonesa. As laterais do boi eram de três cores: prata, branco e amarelo. “O prata representa os índios e os negros, o branco representa o europeu e o amarelo representa os japoneses”, como me explicou o guia do museu. Sim, nós japoneses também estamos lá.

Aliás, não muito longe do Bumbódromo fica uma praça e, no meio dela, há o busto de um japonês. Seu nome é Tsukasa Uetsuka e ele viveu em Parintins há 80 anos. Foi uma vida de muito sacrifício e o senhor Uetsuka se tornou um nome muito importante na história da cidade. Todos o conhecem por lá.

Nos três anos em que estive na Amazônia, visitei Parintins mais de 30 vezes. É lindo saber que existe uma relação tão forte entre o Japão e aquela cidade, cercada de mato, bem no meio do Rio Amazonas. As pessoas de Parintins me diziam que a cidade é um paraíso na selva. Concordo. É um lugar cheio de encantos inesquecíveis.

Parte 2 >>

 

© 2016 Toshimi Tsuruta

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Sobre esta série

O autor Toshimi Tsuruta foi como voluntário a Manaus, Amazonas, onde há o maior número de habitantes descendentes de japoneses. No outro lado do mundo, presenciou várias cenas de como os descendentes e imigrantes japoneses herdam ativamente o idioma e a cultura do Japão. Nesta coluna, ele transmitirá acontecimentos interessantes que presenciou no dia-a-dia, nos três anos que esteve lá.

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About the Author

Nasceu e cresceu em Hamamatsu, Shizuoka. Graduado no Curso de Economia pela Universidade de Obirin. Após concluir o curso de Formação de Professor de Língua Japonesa pela Universidade de Hamamatsu, trabalhou na cidade de Manaus, estado do Amazonas, Brasil, como voluntário senior da JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão), como professor de língua japonesa no período de 2010 a 2013. Trabalhou principalmente na Associação Nipo-Brasileira na Amazônia Ocidental em Manaus, porém estendeu suas atividades também para os estados do Acre, Roraima e Rondônia, ajudando associações nipônicas. Retornou ao Japão e atualmente trabalha em Hamamatsu como professor do Curso Preparatório para Recolocação Profissional aos Descendentes Japoneses do JICE (Centro de Cooperação Internacional do Japão). Ao mesmo tempo está no comando do programa semanal da FM local chamado AMIZADE HAMAMATSU, onde fala em português e japonês. Também é apresentador e DJ do time de basquete profissional Hamamatsu Higashimikawa Phoenix.

Atualizado em junho de 2015

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