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Verduras trazidas pelos imigrantes japoneses – Parte 2

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“Eu acho que desde 1960 até 1964 mais ou menos. Quando tinha 13, 14 anos, meu pai e o meu irmão mais velho vendiam verduras e às vezes eu ajudava. Naquele tempo, nós vendíamos nabo, repolho e pepino. Alguns amigos do Sales (como era chamada a colônia de imigrantes Efigênio de Sales) vendiam nigauri (que é um tipo de melão amargo) também. Quando eles vendiam, apresentavam o legume gritando ‘Nigagooori! Nigagooori!’”

“Hahahaha... Naquela época não havia estrada arrumada como hoje, não é? Mas como vocês iam para o centro? Tem mais ou menos 40 quilômetros, né?”

“De caminhonete. Uma ou duas vezes por semana nós íamos ao centro para vender verduras. Acordávamos bem cedo. De madrugada, às três horas, já preparávamos os produtos. A estrada era muito ruim e, por isso, gastávamos muito tempo. Levava mais ou menos uma hora até o centro. Nós começávamos a vender às cinco horas.”

No centro de Manaus, em meio a vários turistas e vendedores, Koba-san continua sua história dirigindo seu Toyota Corolla. Depois de ter ajudado agricultores de Sales, ele fez vários tipos de trabalho em Manaus. Por exemplo, floricultura, restaurante e karaokê. Além disso, ele tem experiência como tradutor e guia. Sim, ele fala muito bem e as histórias dele são sempre muito interessantes e acompanhadas de algumas piadas. Continuando a história...

“Por outro lado, duas vezes por semana a caminhonete da prefeitura nos levava para o centro. Era a ajuda nas nossas compras ao centro. Nós íamos ao centro para comprar farinha, feijão, arroz, verduras, etc. Naquela época eram poucos os tipos de verduras vendidos na cidade de Manaus. Macaxeira, abóbora, tomate local que era muito feio e berinjela grande. A berinjela era bem diferente da do Japão.

“Quando tinha 18 anos, assistia a filmes japoneses. Por exemplo, Abarenbou-shougun, Zatouichi e Otoko wa Tsuraiyo... Todos os filmes eram bem populares no Japão. Era a oportunidade para entrar em contato com a cultura japonesa e me sentia muito, muito feliz! Para assistir filmes, pegávamos uma caminhonete e 30 ou 40 jovens iam de carona na caçamba. Quando chegava filme japonês, o cinema ficava sempre cheio de imigrantes japoneses. Era uma das poucas diversões da época.”

“Eu posso imaginar como era difícil entender o idioma português. Não teve problemas? Atualmente muitos imigrantes e descendentes falam bem português, mas quando começaram a vida no Brasil, deve ter sido bastante difícil, né!?”

“Isso mesmo. Na fazenda, quando eu pedia alguma coisa aos ajudantes, às vezes eles não entendiam nada. Naquela época era difícil para mim. Então, eu mostrava a eles gestos de como fazer. Logo que chegamos ao Brasil não entendíamos nada. Fomos nos acostumando pouco a pouco ao idioma, aos costumes e à cultura. As crianças estudavam português na escola local, mas era difícil. Às vezes, os motoristas de caminhão ensinavam uma palavra ou outra. Mas era sempre palavrão. Nós não entendíamos e, por isso, perguntávamos o significado para a professora na escola. Ao ouvir,  o rosto dela ficava vermelho e ela dizia com raiva: Nunca mais use essa palavra! Quando ela não me explicava o significado, imaginava que era uma palavra muito feia, né? Fiquei com muita vergonha. A professora era bonita. Saudade...”

Com muita persistência os imigrantes japoneses continuaram a vender verduras. A boa reputação foi aumentando e a verdura japonesa ganhou cidadania. Atualmente é imprescindível na mesa de jantar dos brasileiros. Tipicamente os brasileiros não comem muitas verduras assim como os Japoneses, mas agora nós podemos encontrar vários tipos de verduras em qualquer restaurante, desde cidades grandes até em cidades do interior. Por exemplo,  rúcula, alface, cenoura, couve-flor, vagem e quiabo... Depois que imigrantes japoneses começaram a plantar e vender verduras, os brasileiros passaram a ter melhor balanceamento de vitaminas e se acostumaram a comer muitos tipos de verduras. Alface, rabanete, berinjela (berinjela fina diferente da berinjela grossa do Brasil), rabanete, repolho, pepino, quiabo, vagens...verduras que os imigrantes japoneses apresentaram ao Brasil. Isso é uma grande conquista.

Em Manaus, nos supermercados ou nas lojas gerenciadas por família de japoneses podemos comprar não somente verduras normais, mas também verduras tradicionais japonesas como broto de feijão, cebolinha, nira e edamame. No cardápio de restaurantes japoneses, tem comidas feitas com essas verduras. Podemos saborear as verduras em temakerias, restaurantes gourmet, lanchonete...em qualquer lugar. Quando comemos as comidas tradicionais japonesas na cidade tropical de Manaus, eu não consigo evitar de sentir gratidão e respeito pelos esforços dos imigrantes japoneses.

 

© 2016 Toshimi Tsuruta

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Sobre esta série

O autor Toshimi Tsuruta foi como voluntário a Manaus, Amazonas, onde há o maior número de habitantes descendentes de japoneses. No outro lado do mundo, presenciou várias cenas de como os descendentes e imigrantes japoneses herdam ativamente o idioma e a cultura do Japão. Nesta coluna, ele transmitirá acontecimentos interessantes que presenciou no dia-a-dia, nos três anos que esteve lá.

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About the Author

Nasceu e cresceu em Hamamatsu, Shizuoka. Graduado no Curso de Economia pela Universidade de Obirin. Após concluir o curso de Formação de Professor de Língua Japonesa pela Universidade de Hamamatsu, trabalhou na cidade de Manaus, estado do Amazonas, Brasil, como voluntário senior da JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão), como professor de língua japonesa no período de 2010 a 2013. Trabalhou principalmente na Associação Nipo-Brasileira na Amazônia Ocidental em Manaus, porém estendeu suas atividades também para os estados do Acre, Roraima e Rondônia, ajudando associações nipônicas. Retornou ao Japão e atualmente trabalha em Hamamatsu como professor do Curso Preparatório para Recolocação Profissional aos Descendentes Japoneses do JICE (Centro de Cooperação Internacional do Japão). Ao mesmo tempo está no comando do programa semanal da FM local chamado AMIZADE HAMAMATSU, onde fala em português e japonês. Também é apresentador e DJ do time de basquete profissional Hamamatsu Higashimikawa Phoenix.

Atualizado em junho de 2015

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