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Nipo-brasileira no mundo

Templo Sensoji em Tóquio, Japão, país onde conheci a cultura de minha família e descobri mais sobre mim mesma

Ser brasileira descendente de japoneses em viagens pelo mundo me fez trazer algumas histórias curiosas para contar. Ter nascido e vivido no Brasil com traços nipônicos é uma coisa que me “camufla” em outros países e gera bastante confusão na cabeça dos estrangeiros. Mais ainda por eu estudar e conhecer alguns idiomas.

Em minha primeira viagem internacional, um intercâmbio de viagem e trabalho nos Estados Unidos durante as férias da faculdade, conheci pessoas de vários países diferentes. Como era mais tímida, uma característica das minhas raízes, não conversava muito com todos que trabalhavam no mesmo lugar que eu. Talvez por isso alguns não soubessem que sou brasileira.


Chinesa?

Depois, em 2012, fiz um tour de duas semanas pela Europa com jovens de vários cantos do mundo. Muitos acharam que eu fosse chinesa, inclusive umas meninas malaias (da Malásia, Ásia) e até chinesas. As histórias aconteceram mesmo em Praga, na República Tcheca, que parece ser um destino comum entre chineses. Mais uma vez me passei por chinesa em uma loja de souvenir. Um vendedor me perguntou em inglês de onde sou e respondi “Brasil”. Ficou surpreso e animado, falando umas palavras em Português.


De onde você é?

No ano seguinte, tive uma experiência um pouco diferente. Na Espanha, em Madrid, conheci uma menina japonesa que quando fomos apresentadas fez cara de dúvida e curiosidade ao mesmo tempo para saber minha nacionalidade. Nos demos muito bem e conversávamos só em Espanhol. Tanto que uma vez, no metrô, nos olhavam com certo estranhamento.

Mas confusão de verdade causei na escola onde fiz aulas do idioma que me comunicava com minha nova amiga, porque um professor e uma colega da Rússia ficaram intrigados. “Como pode uma ‘japonesa’ ser brasileira e ter o primeiro nome de origem russa?” seria o que tivessem se questionado. Para eles, talvez pudesse ser impossível, o que para mim é uma grande surpresa. No Brasil este fato é muito comum, estamos acostumados com a diversidade e mistura de culturas. Para não dar um nó na cabeça do pessoal, expliquei que meus bisavós imigraram do Japão para o Brasil.

Também fui a Barcelona. Lá me hospedei em um um hostel (albergue) e o quarto que escolheram para mim parecia ter só asiáticas. Inclusive uma sul-coreana veio conversar comigo. Tive a impressão que ela se sentiu mais confortável de se aproximar por eu ter olhos amendoados como ela. Mas ela não imaginou que eu fosse brasileira, o que me incomodou, apesar de o engano ser frequente.


Nem os brasileiros imaginam

Bastante curioso é o fato de nem os próprios brasileiros imaginarem que meu país de origem é o mesmo deles. Na Argentina, um brasileiro ficou até aliviado em descobrir que também sou brasileira para poder falar em Português. Uma uruguaia que trabalhava na recepção do hostel onde fiquei hospedada também não sabia que existiam japoneses e seus descendentes no Brasil. Por isso, outra vez, contei a história de forma resumida. A reação foi de surpresa e curiosidade.  

No albergue do Chile continuei a aproveitar minha “camuflagem”. Até consegui, pois acabei por escutar uma conversa de brasileiros que falavam alto, provavelmente porque pensaram que ninguém em volta iria entender. Mantive a discrição. Talvez eu seja mais japonesa do que me considero ou mostro ser, porque nem este grupo nem os demais brasileiros perceberam. Quando só havia deles em um café da manhã, servido em uma mesa compartilhada, tive de revelar minha nacionalidade. No geral, os brasileiros não descendentes são assim, adoram encontrar mais brasileiros pelo mundo afora para conversar e até mesmo ter companhia para sair.

 
Primeira viagem ao Japão

Em minha primeira visita ao país de origem dos meus bisavós, observei fatos curiosos sobre os japoneses. Depois de perceber que falam muito pouco de Inglês, passei a usar apenas meus conhecimentos básicos do nihongo, com a ajuda de aplicativos para celular de dicionário de vocabulário e tradução. No começo, fiquei mais tímida. Mas, mesmo assim, uma moça do caixa de um restaurante no parque Universal Studios de Osaka foi a primeira a me elogiar, dizendo que sou habilidosa (jyozu).

Em Naha, Okinawa, para onde viajei sozinha, tive conversas com mulheres e senhoras que trabalhavam no comércio da Kokusai Dori, rua turística da cidade. Lá, para aumentar minha felicidade, fui elogiada de novo. Mas, desta vez, as japonesas tiveram curiosidade sobre minha nacionalidade, onde estudei o idioma e não sabiam da existência de escolas de japonês. Pois assim descubro que até mesmo os japoneses desconhecem a história da imigração ao Brasil.

Placa da Praia Naminoue, em Naha, Okinawa, apenas em Japonês; Inglês é um idioma que os japoneses falam pouco


Uma história desconhecida

Por todas estas experiências, descobri que a grande maioria dos estrangeiros não conhece a história do Brasil, menos ainda da imigração japonesa para cá. Além disso, a maior parte dos “gringos” não sabe que o país tem o maior número de descendentes fora do Japão. Que tem cidades fundadas por japoneses, como Bastos e Tietê, no estado de São Paulo. Que tem muito da cultura tradicional presente na arte e em festivais. Que tem nipo-descendentes que viajam pelo mundo para conhecer a terra natal e a cultura de sua família e para ver e vivenciar outras culturas diferentes.

 

© 2015 Tatiana Maebuchi

Brasil identidade viajar
About the Author

Nascida na cidade de São Paulo, é brasileira descendente de japoneses de terceira geração por parte de mãe e de quarta geração por parte de pai. É jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e blogueira de viagens. Trabalhou em redação de revistas, sites e assessoria de imprensa. Fez parte da equipe de Comunicação da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo), contribuindo para a divulgação da cultura japonesa.

Atualizado em julho de 2015

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