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Eventos tradicionais japoneses em Manaus

Um dia, quando eu estava trabalhando no escritório da Nippaku, o senhor Kawada, de mais de 80 anos e que mora no Amazonas, chamou-me e disse:

''Na próxima semana, teremos o nosso ''undoukai''. Ajude-me a providenciar os brindes.''

E assim fomos em seu carro velho em direção ao centro da cidade.

Dias depois foi realizado o ''undoukai'' no Country Clube de Manaus, sob o intenso calor tropical. 

Tivemos a participação de nikkeis, japoneses e também dos brasileiros locais e muitas crianças se alegraram com seus prêmios adquiridos. Percebi então que os brasileiros gostam realmente de dar como também de receber brindes, prêmios e presentes. Portanto, em grandes eventos o bingo sempre ganha mais destaque. Ouvindo músicas da legendária cantora Missora Hibari  em campo aberto, todos se divertiam nesta gincana.

Desde que me formei na escola secundária, nunca mais havia participado de ''undoukai'' e jamais imaginei participar desta competição tradicional no outro lado do mundo, dentro desta floresta tropical, 3 graus ao sul da linha do equador. Ao som das músicas nostálgicas dos anos 70, tive a oportunidade de rever o bin-tsuri (corrida da “pesca da garrafa”), karimoro-kyousou (corrida do “empréstimo”), tamaire (bolinhas ao cesto) e tsunahiki (cabo-de-guerra).

Em Manaus além do undoukai (gincana esportiva) são realizados eventos e festas tradicionais como o Seijin-no-hi (Dia da Maioridade), Hina-Matsuri (Dia das Meninas), Kodomo-no-hi (Dia dos Meninos), Tanabata (Festa das Estrelas) e Keirou-no-hi (Dia dos Idosos) Mesmo no Japão, muitos se esqueceram destes eventos, mas aqui na Amazônia este costume ainda é preservado.

No Dia das Meninas, os professores se esforçam no preparo deste evento decorando a festa com belíssimos bonecos e as crianças comemoram comendo hina-arare (doces japoneses, que são muito raros em Manaus), cantando músicas típicas da festa Hina-Matsuri e fazendo origami.

Todos os anos em agosto comemora-se o Bon Odori que é uma dança tradicional japonesa, com fogos de artifício. Como existem algumas comunidades japonesas aqui em Manaus, podemos participar deste mesmo evento três vezes em um só mês. Por exemplo, na primeira semana comemora-se em Efigênio Sales, na segunda em Bela Vista e na terceira em Nippaku.

Mas antes do início de cada um desses eventos há uma cerimônia em memória dos imigrantes que vieram do outro lado do mundo, realizada por um monge budista vindo de São Paulo. Como a maior religião do Brasil é o cristianismo, as cerimônias normalmente são realizadas neste estilo, porém, esta cerimônia foi efetuada no estilo budista. Antigamente as colônias japonesas do Amazonas eram chamadas de "inferno verde." Isto pelo fato de possuírem um ambiente de vida muito difícil onde muitos imigrantes faleceram por causa de acidentes e doenças como a dengue e a malária.

O festival do Bon Odori é decorado com muitas lanternas vermelhas e brancas onde estão escritos os nomes dos patrocinadores das empresas japonesas e no palanque central é colocado o grande tambor tradicional japonês chamado Taiko.

Primeiro, as senhoras japonesas locais da primeira e segunda geração, vestidas com seus belos e tradicionais yukatas dançam e convidam os brasileiros que as imitam dançando. Ao som de várias músicas tradicionais como Tankou bushi, Tokyo ondo e também da música moderna dos The Checkers e Nanase Aikawa.

Não importa a maneira como eles vestem o yukata. Pode não ser o mais correto, mas o que importa é o sorriso estampado no rosto de cada um. O círculo da dança aumenta e anima a festa na mata que segue pela noite.

No Undoukai do Country Clube, sob o sol ardente, os imigrantes de primeira geração chamados Issei que vieram ao Brasil numa viagem marítima de 40 a 50 dias, os Nisseis e Sanseis, os de segunda e terceira gerações, e os brasileiros locais que não possuem raízes japonesas se divertem mutuamente.

No festival do Bon Odori realizado dentro desta grande mata, residentes de empresas japonesas e jovens brasileiros locais dançam juntos ao redor do grande Taiko. Nas barracas são vendidos churrascos brasileiros, ceviches peruanos e doces japoneses chamados Manjuu. Admirando os fogos de artifício que enfeitavam o céu da grande floresta, o senhor Kawada com sua cervejinha na mão murmura:

''Ohh os fogos deste ano estão lindos e têm muito vigor''.

O Undoukai e o Bon odori, que fazem parte da cultura trazida pelos imigrantes japoneses, hoje são o elo de comunicação entre estes dois países.

 

© 2015 Toshimi Tsuruta

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Sobre esta série

O autor Toshimi Tsuruta foi como voluntário a Manaus, Amazonas, onde há o maior número de habitantes descendentes de japoneses. No outro lado do mundo, presenciou várias cenas de como os descendentes e imigrantes japoneses herdam ativamente o idioma e a cultura do Japão. Nesta coluna, ele transmitirá acontecimentos interessantes que presenciou no dia-a-dia, nos três anos que esteve lá.

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About the Author

Nasceu e cresceu em Hamamatsu, Shizuoka. Graduado no Curso de Economia pela Universidade de Obirin. Após concluir o curso de Formação de Professor de Língua Japonesa pela Universidade de Hamamatsu, trabalhou na cidade de Manaus, estado do Amazonas, Brasil, como voluntário senior da JICA (Agência de Cooperação Internacional do Japão), como professor de língua japonesa no período de 2010 a 2013. Trabalhou principalmente na Associação Nipo-Brasileira na Amazônia Ocidental em Manaus, porém estendeu suas atividades também para os estados do Acre, Roraima e Rondônia, ajudando associações nipônicas. Retornou ao Japão e atualmente trabalha em Hamamatsu como professor do Curso Preparatório para Recolocação Profissional aos Descendentes Japoneses do JICE (Centro de Cooperação Internacional do Japão). Ao mesmo tempo está no comando do programa semanal da FM local chamado AMIZADE HAMAMATSU, onde fala em português e japonês. Também é apresentador e DJ do time de basquete profissional Hamamatsu Higashimikawa Phoenix.

Atualizado em junho de 2015

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