4/3/2011
Batchan precisou ir a Campo Grande porque a irmã dela foi internada. Desse modo, vou ficar por um tempo na casa da tia Nair. Tenho os meus três primos e o caçulinha, o Noah, ele é muito fofo, acho que está com 2 anos.
Comparando com o tempo que estava no Japão, a vida aqui no Brasil é muito divertida, eu adoro! Quando estava no Japão eu ficava na escola das 7 e meia da manhã até 6 horas da tarde. A minha classe tinha apenas 8 alunos e com 3 deles eu tinha a maior amizade, mas no fim de 2008, metade dos alunos já não estava mais frequentando. Eles tinham ido embora, como a minha amiga Aline que acabou voltando para o Brasil. A Mammy dizia “É a crise!”, mas eu não entendia muito bem o que era isso.
Os alunos foram diminuindo cada vez mais e em casa também éramos apenas duas, a Mammy e eu. Não havia tanta gente à minha volta. Eu sabia que tinha a Batchan, meus tios, minhas tias e meus primos no Brasil, pois eu tinha visto em fotografia. E quando a Mammy telefonava, sempre no final me passava o fone para falar alguma e eu só dizia “Como vai?”. A vizinhança era de só japoneses e a gente não se cumprimentava.
Mas quando cheguei aqui, o Brasil pareceu mesmo um mundo diferente e eu fui gostando cada vez mais. A nossa vizinha dona Cláudia sempre me pergunta como vou indo na escola e depois que soube que a Batchan está em Campo Grande para cuidar da irmã doente, ela sempre pergunta e diz que estima melhoras.
A escola que frequento é pelo menos 5 vezes maior que a escola para brasileiros do Japão. O número de alunos passa de 400 e tem muito mais professores, claro. A escola do Japão não tinha professores suficientes, então era comum cada professor ensinar duas ou mais matérias e na mesma sala estudavam alunos de séries diferentes. Mas aqui não, mais ou menos 35 alunos da mesma série estudam numa mesma classe, o professor ensina a mesma matéria para todos e a aula rende.
Mas tem uma coisa que eu ainda não me acostumei, que é a gritaria que os meninos fazem. Se o assunto é futebol, começa um bate-boca sem fim e, por mais que tampe os ouvidos, o barulho é demais. Nem sei como eles podem gostar tanto de futebol.
Entre as meninas, o assunto é mesmo a moda! Diferente do Japão, aqui a menina pode ir maquiada pra escola, pode usar bijuteria, ir de sandália, sem problema. Quando contei isto para a Sakura, que ainda está no Japão, ela ficou surpresa e disse que tem inveja. Mas eu tenho o meu estilo e acho isso legal. Agora eu estou dando vida nova nas camisetas, colocando brilho, apliques, bordadinhos, o que a criatividade mandar. Tenho até encomendas de amigas. As meninas brasileiras não têm muito jeito para trabalhos manuais, não?
Bem, vou indo porque preciso ajudar a titia.
Querido Diário, falou!
23/7/2011
Eba! Acabou o primeiro semestre, está tudo OK na escola e agora é tempo de aproveitar as férias com Mammy em São Paulo!
Nestas férias, eu tinha mais alguma coisa que eu queria fazer de todo jeito, que era me encontrar com a Marina, depois de quatro anos que não nos vemos. Nós estudamos juntas até o terceiro ano na escola para brasileiros no Japão, Depois, a Marina mudou-se para outra cidade e começou a frequentar a escola japonesa. Passado algum tempo, ela começou a esquecer o português e os e-mails dela eram só em japonês. Aí ficou difícil para eu entender até que nós paramos de trocar e-mails.
Em janeiro deste ano, eu soube que ela tinha voltado para o Brasil (a mãe da Marina avisou a Mammy) e eu estava bastante ansiosa para ver a Marina de novo, mas a Mammy não se esforçou nem um pouquinho para me levar até a casa dela.
Até que, quando faltavam 2 dias para eu voltar a Maringá, a mãe da Marina veio a nossa casa. Mas veio sozinha.
E a Marina, não veio? Perguntei para a mãe e foi quando ela me abraçou fortemente e disse: “A Marina pegou gripe e está de cama, mas eu vim para pedir uma coisa para você” e me entregou um caderno de capa vermelha.
Esse caderno era o diário em que nós duas escrevíamos até quatro anos atrás. A mãe da Marina esperou que eu escrevesse alguma coisa e depois foi embora, segurando o diário com cuidado.
Naquela noite, ouvi de Mammy a verdade. Voltando ao Brasil, certo dia, a Marina pegou ônibus com sua mãe e foi conversando animadamente pelo caminho em japonês. Nisto, um grupo de jovens começou a debochar com palavras e risadas, que a deixou muito traumatizada. Desse dia em diante, ela vive trancada em casa e não quer sair por nada. É triste, mas muito triste.
Eu preciso fazer alguma coisa pela Marina. Vou orar a Deus por isso. Ele há de me ensinar como fazer. A Marina é minha amiga do coração. Por favor, me ajuda, Pai!
Querido Diário. Te agradeço porque você está sempre perto de mim.