Na minha primeira visita ao Brasil, participei de uma conferência e recebi um crachá com a grafia do meu sobrenome: Katagui. O que? GUI? Como o Guido? Este não é meu nome! Tirei o crachá do suporte de plástico, risquei a grafia incorreta e escrevi como “deveria ter sido”.
Passariam-se dois anos até que eu entendesse as complexidades e peculiaridades da língua portuguesa bem o suficiente para relembrar aquele incidente do crachá. Como sempre, eu estava olhando para o problema percebido a partir de uma visão de mundo de língua americana ou inglesa. Isso significa, claro, que me equivoquei um pouco no contexto cultural e linguístico brasileiro!
A chave para a descoberta vem da compreensão de como as letras, especialmente as consoantes, são pronunciadas em inglês e como são pronunciadas em português. Basicamente, as letras “T” e “D” mudam seu valor de pronúncia dependendo da vogal que se segue.
Confuso? Sim, a maioria das pessoas também.
Talvez a maneira mais fácil de ver isso seja observar a grafia e a pronúncia (especialmente) dos nomes japoneses. Tenho uma boa amiga no Brasil cujo nome, diríamos em inglês, era “Michi”. No entanto, em português um nome escrito Michi seria pronunciado “mee shee”. No Brasil, para conseguir o som “chee” que é usado no nome Michi é necessário que a grafia seja “Miti”. A combinação de letras “ti” é pronunciada “chee” na maior parte do Brasil.
Para testar isso, tente pronunciar os seguintes nomes à maneira portuguesa:
Kodi (eu chamei esse garoto por engano de “Cody” por um ano!)
Moti (você sabe, aquela coisa pegajosa que você come no dia de Ano Novo)
Fudico (um nome comum para uma mulher japonesa)
Iamassaki (um sobrenome japonês comum)
Diciano (avô)
Batian (avó)
Ticara (força, poder)
Então, circulando por aí, qual é o problema de “Katagui?”
Ao escrever meu nome como você faria aqui nos EUA, a pronúncia no Brasil sairia como um “G” suave ou “kah tah zhee”. Para endurecer o som “G” quando a vogal “I” segue, a adição de um “U” entre o “G” e o “I” criou o som “kah tah ghee”. É por isso que os brasileiros escreveram meu crachá dessa forma – por cortesia à forma como um sobrenome japonês deve ser pronunciado no contexto do português brasileiro.
Na verdade, esta entrada do blog pode entrar em detalhes ridículos, então vou parar. Como teste, quer escrever o nome “Fujisaka” quando a letra “K” não faz parte do alfabeto português? Tentar!
© 2014 John Katagi
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