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Capítulo final (Parte 1): No ar... Programa OHAYO Bom Dia!

“OHAYO Bom Dia! Está uma linda manhã, não é mesmo, pessoal? Eu sou Laura Honda e é com muita alegria que estamos começando mais um OHAYO Bom Dia! Espero que vocês tenham um ótimo entretenimento.”

Era deste modo que, durante sete anos, eu começava o meu dia. Faça chuva ou faça sol, eu ia para a rádio, onde passava momentos realmente maravilhosos.

Apresentar programa em rádio era um sonho de longa data.

Voltando atrás no tempo, na década de 50, os adultos costumavam fazer a seguinte pergunta para as crianças: “O que você vai ser quando crescer?”.

As meninas, todas sem exceção, respondiam: “Professora”, mas eu dizia “Locutora de rádio”.

A criançada da vizinhança nem fazia ideia do que seria isso. Eu, já nessa época, costumava ouvir rádio todos os dias. Gostava de acompanhar os seriados infantis e programas de música popular brasileira.

Depois de terminar a faculdade, eu trabalhava em banco e também atuava como locutora na maior emissora de rádio da época. Mas depois de 2 anos eu larguei tudo, pois preferi dedicar-me em período integral à carreira de professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Porém, no meu íntimo, eu sempre alimentei a esperança de um dia poder voltar ao rádio.

Logo após me aposentar, fui morar em uma cidade distante de São Paulo 550 quilômetros e comecei um trabalho voluntário na emissora de rádio local.

Fiquei encarregada de produzir e apresentar programas sobre a cultura japonesa e a música produzida no Japão. Com duração de duas horas, eram três programas diferentes apresentados semanalmente. Segunda-feira era dia do “OHAYO Bom Dia”, com enfoque na música popular, cantigas infantis, lendas do Japão antigo, notícias e culinária japonesa. Na terça-feira, era o “OHAYO Bom Dia Gospel” apresentando a música gospel cantada em japonês, além da leitura de textos bíblicos. Quarta-feira era o “Ha-Ha-Haleluya”, dedicado às crianças, com música gospel infantil e histórias da Bíblia. Este último era apresentado apenas em português. Os demais programas eram apresentados nas duas línguas.

Os três programas tinham conteúdos diferentes e assim também era o público ouvinte. Tive tantas experiências maravilhosas que fica difícil expressar em palavras.

Algo que me chamou a atenção desde o princípio foi que a música não tem fronteiras. Mesmo não entendendo a língua, as pessoas se emocionam, são consoladas, ficam felizes. Por diversas vezes eu pude vivenciar isso.

A canção que ficava em primeiro lugar na preferência do público era “Kimi to itsumademo”, na voz de Yuzo Kayama. Toda vez que esta música ia ao ar, o telefone não parava de tocar. “Eu não entendo japonês, mas eu adoro”. “Que canção linda! Onde eu encontro o CD para comprar?”. E havia muitos pedidos de bis.

Outra música preferida era “Kimi wa subarashii”, uma canção gospel interpretada por Chu Kosaka. Servia de abertura do programa “OHAYO Bom Dia Gospel” e os ouvintes diziam que ela tocava fundo o coração. E a maioria desses ouvintes nem entendia japonês. Que força poderosa tem a música, pensei.

Mas, se havia uma música amada por todos quantos a ouviam, essa música era “Ue o muite arukou”. Ela ficou sendo conhecida mundialmente e eu a escolhi para a abertura do “OHAYO Bom Dia”. Certa vez, enquanto essa música estava sendo irradiada, um ouvinte ligou. “Olha, eu faço serviço externo e sempre ouço o programa enquanto estou dirigindo. Agora estou no orelhão e quero dizer que gosto muito dessa música. E eu quero oferecer para minha esposa e meu filhinho”. Uma das coisas mais apreciadas por quem ouve rádio é poder oferecer música para pessoas da família.

Depois da música, as lendas tradicionais e as notícias do Japão estavam na preferência do público. Quando apresentei a lenda “Urashimatarô”, ocorreu uma coisa muito interessante. “Então, quando Urashimatarô regressou do Reino de Ryugu...”, foi neste trecho que chegou uma visita na casa da ouvinte de nome Selma e ela perdeu o final da história. Então ela pediu para que eu a contasse outra vez. E nessa segunda vez, a Selma recebeu o chamado de uma vizinha e teve de ir ajudá-la. Na terceira vez, a Selma pegou no sono no finalzinho da história. E foi somente depois de três semanas, na quarta apresentação, que a Selma soube como acabou a história de Urashimatarô. Ela achou que foi uma história com final triste.

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© 2011 Laura Honda-Hasegawa

Brasil comunicação Ohayo Bom Dia (rádio) rádio sociologia telecomunicações
Sobre esta série

Meus avós vieram do Japão há mais ou menos 100 anos. Eu nasci no Brasil. Por isso, quero servir de “ponte” entre o Brasil e o Japão. O Japão que está arraigado no meu coração é um tesouro que quero guardar para sempre.  E foi movida por esse sentimento profundo que escrevi a presente série.  (Bom dia em japonês é Ohayo)

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About the Author

Nasceu na Capital de São Paulo em 1947. Atuou na área da educação até 2009. Desde então, tem se dedicado exclusivamente à literatura, escrevendo ensaios, contos e romances, tudo sob o ponto de vista nikkei.

Passou a infância ouvindo as histórias infantis do Japão contadas por sua mãe. Na adolescência lia mensalmente a edição de Shojo Kurabu, revista juvenil para meninas importada do Japão. Assistiu a quase todos os filmes de Ozu, desenvolvendo, ao longo da vida, uma grande admiração pela cultura japonesa.

Atualizado em maio de 2023

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