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Capítulo 9: O mundo está mesmo muito mudado

Feijoada era o prato preferido de minha mãe e bacalhoada o de meu pai. Eu que sou da terceira geração, desde criança gostei de natto.

Natto. Foto por Shades0404 (wikipedia.com)

Confesso que é a primeira vez que revelo isto. O que antes nem tinha jeito de dizer, finalmente estou podendo dizer.

Porque só agora a culinária japonesa está começando a ser reconhecida pelos brasileiros.

Quando eu cursava o ensino fundamental (década de 60), era comum os alunos de origem japonesa serem caçoados porque “os japoneses comem peixe cru e verdura crua com cheiro de mato”.

Até me faz lembrar de algo que aconteceu na primeira escola onde fui trabalhar. Uma professora de Ciências aproximou-se e foi dizendo de supetão: “Vocês têm hábitos estranhos. Comem feijão apodrecido! Estômago de avestruz, credo!”

Fiquei sem fala. Ouvi falar assim justo da minha comida predileta e nem pude argumentar, infelizmente. Ainda era jovem, faltou-me coragem para esclarecer a colega. Coisa de mais de 30 anos atrás.

Mas qual não foi a minha surpresa quando fui recentemente a um evento sobre coisas do Japão. Mais do que a apresentação de taiko e workshop de anime, mais do que a exibição dos carros japoneses, mais do que a demonstração de ikebana ou da arte da cerimônia de chá, o que mais atraía a atenção era o espaço reservado à comida japonesa.

As filas na frente do estande de yakisoba, de tempurá, de okonomiyaki perdiam-se de vista, onde brasileiros, nikkeis, crianças, idosos, jovens aguardavam pacientemente a sua vez.

Eu fiquei na fila do “Okonomiyaki à moda de Hiroshima”. A garota logo atrás era brasileira, mas de okonomiyaki sabia tudo, pois explicava para a turma como era essa panqueca japonesa. O impressionante era que a garota era entendida mesmo!

Esse espantoso boom da culinária japonesa deve-se aos meios de comunicação.  Celebridades da TV e da música fazem declarações de que adoram a comida japonesa e, nas novelas, as cenas em restaurante japonês já não é novidade.

Dizem que a comida japonesa é saudável e traz resultado para quem quer fazer dieta.

É, os tempos mudaram. Antigamente eu sequer tinha coragem de dizer que gostava de natto . É mesmo surpreendente, pois hoje em dia crianças de olhos verdes da quarta geração comem com gosto arroz branquinho com natto ou furikake por cima. A comida japonesa é o máximo!

Festival do Japao

© 2011 Laura Honda-Hasegawa

Brasil cultura comida Comida japonesa natto
Sobre esta série

Meus avós vieram do Japão há mais ou menos 100 anos. Eu nasci no Brasil. Por isso, quero servir de “ponte” entre o Brasil e o Japão. O Japão que está arraigado no meu coração é um tesouro que quero guardar para sempre.  E foi movida por esse sentimento profundo que escrevi a presente série.  (Bom dia em japonês é Ohayo)

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About the Author

Nasceu na Capital de São Paulo em 1947. Atuou na área da educação até 2009. Desde então, tem se dedicado exclusivamente à literatura, escrevendo ensaios, contos e romances, tudo sob o ponto de vista nikkei.

Passou a infância ouvindo as histórias infantis do Japão contadas por sua mãe. Na adolescência lia mensalmente a edição de Shojo Kurabu, revista juvenil para meninas importada do Japão. Assistiu a quase todos os filmes de Ozu, desenvolvendo, ao longo da vida, uma grande admiração pela cultura japonesa.

Atualizado em maio de 2023

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