Havia um jornalista chamado Soichi Oya. Penso que se pode dizer que ele é um dos principais jornalistas da era Showa, esteve envolvido numa vasta gama de trabalhos, desde política a costumes sociais, e foi capaz de explicar a essência das coisas de tal forma que muitas pessoas que o ouviram diriam que ele estava dizendo algo muito bem. Ele é um homem que deixou muitas citações famosas e precisas. Também existe a reputação de ser uma pessoa venenosa.
Acho que foi: “Se você quiser ver a era Meiji, vá para o Brasil”. Estas palavras foram proferidas por Soichi Oya quando visitou a comunidade japonesa no Brasil após a guerra. Embora seja uma história muito antiga, mesmo depois da guerra, ainda há pessoas na comunidade nipo-americana que mencionam essa palavra de vez em quando. Acho que ainda sinto que disse algo legal.
Embora possa não parecer a “era Meiji”, as pessoas que estão agora em contato com a comunidade japonesa do Brasil pela primeira vez podem ser capazes de se identificar com essas palavras até certo ponto.
Isso também pode ser classificado como uma citação famosa.
Simplificando, o que Soichi Oya queria expressar era que o espírito da era Meiji, que havia desaparecido do Japão do pós-guerra, ainda estava muito vivo na comunidade nipo-americana no Brasil.
Não sei como responder quando alguém me diz que você ainda tem algum temperamento Meiji.
No Japão moderno, onde o termo “Meiji” é geralmente altamente valorizado, provavelmente seria elogiado. Depois de perder a guerra, o Japão deitou fora tanto as partes boas como as más da sua história pré-guerra. A beleza perdida do Japão foi herdada pela comunidade japonesa brasileira.
Mas dependendo do que você faz, dizem que você é velho e pouco progressista. Depois de perder a guerra, o Japão fez grandes sacrifícios e transformou-se numa nova nação democrática. No entanto, os japoneses no Brasil ainda são japoneses. Se eu interpretasse essa palavra negativamente, seria isso?
Afinal, essas são palavras de um jornalista também conhecido como pessoa de língua afiada. Talvez o verdadeiro valor resida no fato de poder ser visto como bom ou ruim.
Certa vez ouvi um episódio do discurso de Soichi Oya durante uma turnê de palestras no Brasil. Mesmo que saibamos disso, não podemos compreender o verdadeiro significado da declaração do Sr. Oya, mas acho que podemos ter uma ideia do pano de fundo por trás dela.
A pessoa que me contou essa história foi MK, funcionário de uma associação japonesa que organizava palestras de celebridades japonesas, incluindo o Sr. Oya na época.
Embora muitos anos tenham se passado desde o fim da guerra, ainda era uma rara oportunidade para as pessoas da comunidade Nikkei do Brasil ouvirem histórias diretamente dos japoneses que lhes forneceriam as informações mais recentes sobre o Japão. Um grande número de pessoas se reuniu no local para ouvir histórias de jornalistas famosos.
Naquela época, a turbulência entre vencedores e perdedores, que havia lançado no caos a comunidade japonesa do pós-guerra no Brasil, havia passado de sua fase mais violenta, com assassinatos frequentes, mas não foi de forma alguma resolvida. Ainda havia muitas pessoas que não conseguiam aceitar a derrota e, mesmo que aceitassem, nunca seriam capazes de perdoar os atos e as pessoas que divulgaram a derrota do Japão.
Havia pessoas nessa posição na plateia naquele dia.
MK não lembra em que ambiente aconteceu toda a palestra, mas diz que tudo começou com o comentário de um determinado palestrante (não sei se foi o Sr. Oya ou não).
“Isso não é bom”, foram as palavras que até o organizador, MK, sentiu da mesma forma.
A partir dessas palavras, o local foi gradualmente preenchido com uma atmosfera sinistra e, quando terminou, havia uma forte sensação de turbulência. MK e outras partes relacionadas começaram a se preocupar com a segurança dos alto-falantes.
Naquele dia, estávamos programados para ficar em um hotel daquela cidade, mas alguns presentes pediram para não deixar os palestrantes saírem, e os organizadores decidiram que eles passariam a noite em um hotel daquela cidade. cidade.
Aparentemente, a situação era tão terrível que MK disse: “Eu mal escapei com vida”.
O que o orador disse foi que chamou o Imperador por um apelido trivial (muito amigável).
Diz-se que havia pessoas que diziam isso com frequência no Japão do pós-guerra. Para os japoneses que viveram no Japão e vivenciaram a ocupação americana desde antes e durante a guerra até depois da guerra, proferir tais palavras abertamente em público pode tê-los ajudado a perceber o quanto o mundo mudou.
O grupo de oradores do Japão pode ter escolhido esta frase como uma forma perfeita de transmitir ao povo japonês que não sofreu a derrota na guerra o quanto o Japão mudou. Além disso, se eu pudesse fazer uma viagem de palestras do Japão ao Brasil, teria começado a me sentir confiante de que a mudança era, de alguma forma, a certa.
Fico nervoso só de pensar na cena de um orador falando com certa confiança e de alguns membros da plateia cujos rostos ficam cada vez mais rígidos na frente dele.
Não pesquisei direito, mas posso imaginar que a famosa citação passou pela cabeça do Sr. Oya, pois ele poderia ter sentido que sua vida estava em perigo, depois de ver a reação do público naquele dia.
Se for esse o caso, então o que está por trás da famosa citação do Sr. Oya, acima de tudo, seria sua surpresa ao entrar em contato com a comunidade japonesa do Brasil.
Claro, fiquei surpreso ao ver que havia uma comunidade japonesa no Brasil que ainda tinha o Japão da era Meiji e, ao mesmo tempo, o povo japonês, inclusive eu, mudou completamente após a derrota na guerra, esquecendo completamente sua mentalidade anterior. Ele deve ter ficado surpreso por estar fazendo isso.
Isso não quer dizer que as ações de Soichi Oya pareçam estar caindo, mas para encerrar, gostaria de apresentar uma famosa citação de Soichi Oya que é desconhecida na comunidade nipônica brasileira.
Quando descobri isso no livro de visitas transmitido por um certo grupo Nikkei, fiquei comovido com o calor nos olhos de Soichi Oya. Anotei para não esquecer, mas acabou memorizando. Esta é uma citação famosa.
“Árvores enxertadas muitas vezes produzem frutos melhores do que mudas – Para quem está construindo uma nova pátria.”
© 2007 Shigeo Nakamura