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Os Imigrantes Japoneses Precursores: Um Olhar Histórico

Às vésperas da comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil inaugurou, no dia 11 de junho, a exposição especial “Os imigrantes japoneses precursores: um olhar histórico sobre o período pré-Kasato-Maru”.

A exposição foi montada no 9º. andar e enfocava basicamente três personagens que, antes da chegada oficial da primeira leva de imigrantes (trazida pelo navio Kasato-Maru e promovida por Ryo Mizuno), já estavam, ou mantinham relações com o Brasil.

São três histórias: a de Wasaburo Otake, autor do primeiro dicionário japonês/português; a de Saburo Kumabe, o juiz e advogado que virou imigrante e a das Casas Fujisaki que, em 1906, abriram a loja “O Japão em São Paulo”.

Wasaburo Otake e o primeiro dicionário Português – Japonês

Wasaburo Otake chega ao Brasil em 1890, a bordo do cruzador Almirante Barroso que era comandado por Custódio de Mello (mais tarde, contra-almirante e ministro da Marinha) e tinha entre a oficialidade, o príncipe Augusto Leopoldo (neto de D. Pedro II).

Em viagem ao redor do mundo, na passagem pelo porto de Yokohama, Otake aceitou o convite do príncipe Augusto Leopoldo para se juntar à tripulação. Na chegada ao Rio de Janeiro, graças à ajuda de Custódio de Mello, o jovem Otake (tinha 17 anos de idade), foi matriculado na Escola Naval.

Retornou ao Japão após quatro anos, e em 1897, com a abertura da embaixada do Brasil (na época chamada de Legação) no Japão, empregou-se como intérprete. Trabalhou nesse órgão até 1942, quando as relações diplomáticas entre Brasil e Japão foram interrompidas com a explosão da Segunda Guerra Mundial.

Otake, em 1918, lançou a primeira edição do Diccionario Portuguez-Japonez (Po-Wa Jiten) e, em 1925, a primeira edição do Diccionario Japonez-Portuguez (Wa-Po Jiten). Nesse meio tempo, também publicou, em japonês, livros sobre conversação e gramática da língua portuguesa.

“O Japão em São Paulo”

Convencido das potencialidades do Brasil, em 1906, o empresário Saburosuke Fujisaki IV (da região de Sendai) decidiu investir no Brasil e, em 1906, enviou quatro de seus representantes a São Paulo.

Em setembro de 1906 foi inaugurada a primeira filial das Casas Fujisaki, em São Paulo, na rua São Bento, no centro da capital. Eram comercializado diversos produtos de fabricação japonesa, entre lenços de seda, estampas para bordado, tecidos floridos, chás, cerâmicas, peças em bambu, leques e brinquedos. O primeiro estoque exauriu-se em menos de três dias.

Nos anos seguintes, a empresa investiu na abertura de novas lojas (transferência da matriz para Rio de Janeiro em 1908; abertura de filiais em Salvador (BA) em 1911 e em Recife (PE) em 1912. Nesse mesmo ano foi criada a empresa Fujimatsu-gumi, através da associação das Casas Fujisaki e da Comercial Yoshimatsu Matsuura, em Buenos Aires (Argentina).

Em 1924, a empresa passou a investir na agricultura, com a compra da fazenda Sapucaia em Pindamonhangaba (531 alqueires). Em 1926, foi adquirida a Fazenda São Pedro, de 600 alqueires, também em Pindamonhangaba.

Em 1926, com a morte de Saburosuke Fujisaki, as lojas foram fechadas. E, em 1928, com a vendas das duas fazendas à empresa T?zan, a empresa encerrou as atividades no Brasil.

O projeto de Saburo Kumabe

No dia 18 de junho de 1908, quando os imigrantes japoneses desembarcaram do navio Kasato-Maru, há dois anos, a família de Saburo Kumabe e outros sete companheiros tentavam sobreviver em terras brasileiras. Juiz de direito e advogado, Saburo Kumabe desejava, ao contrário da maioria dos imigrantes japoneses da época que, pretendiam juntar recursos e retornar rapidamente à terra natal, fixar residência definitiva no Brasil tornando-se, ele próprio, o protagonista desse processo imigratório.

Em 1906, para implantar a primeira colônia japonesa no Brasil, foi, com outros companheiros na Fazenda Santo Antonio, próxima a Macaé (Rio de Janeiro). No entanto, devido a uma série de circunstâncias, somando-se à falta de experiência agrícola dos japoneses, a tentativa não obteve resultados positivos.

Apesar das dificuldades financeiras, Kumabe investiu bastante na formação escolar de suas filhas: Teru e Toki, a segunda e terceira filhas graduaram-se pela escola normal, grau máximo de instrução que uma mulher poderia conquistar à época. A isso acresce-se o caso de Ry?ichi Yasuda, que fora convidado ainda na sua juventude por Kumabe para acompanhá-lo na sua vinda ao Brasil, cujo filho, Fábio Ryoji, foi o primeiro nipo-brasileiro a assumir um ministério neste país.

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A exposição especial Imigrantes Japoneses Precursores, um olhar histórico sobre o período pré-Kasato Maru aconteceu entre 11 de junho e 7 de agosto de 2007 no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil.

A coleção Os imigrantes japoneses precursores – Um olhar histórico sobre o período pré kasato maru do Nikkei Album é baseada neste artigo. Visite a coleção e conheça fotos, objetos e mais detalhes históricos sobre os imigrantes anteriores ao Kasato Maru.

 

* O presente artigo é resultado de sua comunicação na sessão “Histórias das Comunidades Nikkeis na América Latina” no workshop realizado pelo Discover Nikkei no XIV COPANI, realizado em julho de 2007, em São Paulo, Brasil, onde também estiveram representantes da Argentina, Chile e Estados Unidos.

 

© 2008 Célia Abe Oi

Brasil comunidades Convenções da Associação de Nikkeis Pan-Americanos COPANI 2007 migração
Sobre esta série

Este é uma série de artigos e relatos sobre a Convenção Conjunta COPANI & KNT realizada entre 18 e 21 de julho de 2007 em São Paulo.

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About the Author

Célia Abe Oi é jornalista e historiadora. Trabalhou em periódicos ligados a comunidade nikkei, foi editora chefe da parte em português do jornal Diário Nippak e contribuiu em outros jornais. Editou diversas publicações, entre elas o Guia da Cultura Japonesa e os livros Beisebol – histórias de uma paixão e Piratininga, 50 anos Uma História da geração Nissei. Entre 1998 e 2007 atuou como diretora executiva do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, em 2008 atuou em diversos projetos no centenário e foi uma das curadoras da exposição O Japão em Cada um de Nós.

Atualizado em novembro de 2008

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