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Mescla nipo-brasileira que adoça e tempera

Desde o início, o Kaeru conquista um espaço especial no coração de clientes frequentes (foto: Kaeru Foods/Instagram)

Quem passa pela Rua Estela, no bairro Paraíso, em São Paulo, talvez não imagine que uma casa de fachada verde guarde 26 anos de história. Localizado no número 257, o imóvel dá vida ao Kaeru Foods, um pequeno negócio aberto pelo casal nissei Masao e Ana Ishii. 

Desde 2019, contam com o filho Rafael, de 35 anos, para gerenciar a loja de salgados e doces. Descendente de terceira geração, começou a ter ligação com a cultura nipônica quando era criança pela comida que sua mãe fazia, bastante influenciada pelo nihonshoku (“culinária japonesa tradicional”).

Durante a vida inteira, sua mãe – nascida em Porecatu, Paraná – participou de karaokê. “Ela é bastante enraizada no aspecto cultural”. Além de falar japonês como o marido e os filhos, sabe ler e escrever.

Hoje a família não cultiva nenhum costume típico tradicional. “Já levamos uma vida bem abrasileirada”. [risos] Por outro lado, preservam valores como o respeito aos mais velhos e aos outros, e o sentimento de gratidão, seja por eventos bons ou ruins do dia a dia.

Um projeto em conjunto

Natural de Valparaíso, São Paulo, Masao trabalhou como advogado até o início dos anos 1990 no mercado automobilístico, em grandes montadoras, até aposentar-se. Ana foi comissária de bordo e teve uma boutique de roupa. No entanto, parou de trabalhar para cuidar dos dois filhos.

Na época, atendia alguns pedidos de amigos e vizinhos. “Lembro que minha mãe ficava em casa, fazendo doces, bolo”, relata. “Acabou juntando o útil ao agradável e eles tiveram a ideia de abrir essa loja em conjunto”. Logo, em agosto de 1994, realizam a inauguração do Kaeru Cakes, após investir em equipamentos e reformas.

Quem é quem 

Dona Ana “é a gran masterchef”. “Meu pai é muito mais comunicativo que a minha mãe. Ele fica na parte mais comercial, de vendas, e é responsável administrativo”, explica. “O coração do Kaeru é a minha mãe, porque realmente graças aos produtos que a gente tem [todos com receita dela] que o Kaeru perdura até hoje, tem certa fama entre quem já experimentou. Mas a cara do Kaeru é o meu pai, porque fica na linha de frente atendendo todo o mundo”.

“Ele gosta de falar, mais que tudo. Quer contar as histórias dele, várias e várias vezes, mais para puxar papo mesmo”, comenta. E continua: “ele é bem curioso, sabe? Como ele quer ser simpático, para cada um, ele faz um questionário [pergunta o que faz, onde mora, da família, se namora ou é solteiro]. [risos] Quem conhece já acha bem característico dele”.

É natural imaginar que Rafael começou a trabalhar na loja logo quando cresceu. Porém, não era exatamente um interesse de quando era pequeno. “Eu encarava como obrigação. Criança, né? Só vivia reclamando e resmungando sobre essas ajudas”, confessa. “Porque meus pais ficavam 24 horas aqui, então eu não tinha com quem ficar. Queria ver televisão, mas vira e mexe meus pais pediam a minha ajuda”.

Um tempo depois, na época da faculdade, quis atuar na área de formação, Publicidade e Propaganda. Até que, em maio de 2019, decidiu trabalhar em definitivo no Kaeru e começar a operar com entregas por aplicativos. “Minha função é abrir um pouco o canal digital, porque meus pais – como já são de idade – não têm muita afinidade com a tecnologia”. Já o publicitário, pelo contrário, diz que se identifica com o mundo tech e que por isso surgiu a vontade de ajudar o pai e a mãe, inclusive no marketing da empresa.

Dos bolos para os salgados

“O sonho da minha mãe era ter uma doceria-cafeteria. Só que o ponto que eles [pais] escolheram, em frente ao Colégio Bandeirantes, não deixou muito que eles seguissem nessa ideia”, conta o sansei paulistano. O maior público são os alunos, de 90 a 95% da clientela, que “saem para o intervalo, com fome, não querem comer só doce”.

Assim, “para se adaptar, minha mãe começou a fazer os salgados que passaram a vender mais que os bolos e os doces. Até que eventualmente o Kaeru ficou muito mais conhecido pelos salgados – e principalmente pela coxinha – do que propriamente pelos bolos”. Portanto, o nome deixou de se referir à confeitaria apenas e ganhou um sentido mais amplo ao mudar para Kaeru Foods.

Em família

Por causa da convivência diária, o trio briga “bastante”. Talvez seja inevitável, principalmente pela intimidade de família.

“Minha mãe é a mais boazinha e sobram para ela as bordoadas. Eu e meu pai estamos longe de ser pessoas tranquilas”, revela Rafael. E justifica por que o pai se irrita mais fácil. “Ele já tem o fator idade: fica mais teimoso e quer brigar mais ainda com todo o mundo”. “Mas acho que puxei muito, muito ele, eu consigo ver isso” [risos], entrega. Porque afirma que, às vezes, também se estressa com pessoas próximas.

Cultura viva

Uma importante forma de poder contribuir para perpetuar a cultura japonesa entre as novas gerações é através da alimentação. Algo que sempre deixou e ainda deixa Ishii inconformado “como descendente de japoneses é a questão de muitos brasileiros olharem para a gastronomia japonesa como sushi, sashimi, temaki”. Por essa razão, “acho bem legal e importante não só a gente como todo o mundo que oferece alimentos que fogem dessa parte possa mostrar melhor a diversidade da culinária japonesa”. O sansei se declara “bem satisfeito” por divulgar o karê pan, que é “uma comida japonesa diferente”. [risos]

Além disso, Rafael destaca a criação, educação tradicional comum entre descendentes e a questão de respeito. Entretanto, ao mesmo tempo, “poderia ter um equilíbrio”. “Porque japonês, por um lado, pode ser muito educado, expressar muita gratidão. Por outro lado, é muito introvertido, o que acho ruim. Como eu nasci e cresci aqui no Brasil, o povo é super caloroso, super extrovertido, super simpático – me identifico muito com isso hoje. Poderia ter essa mescla, de também ser divertido, simpático, caloroso”.

 

© 2020 Tatiana Maebuchi

Brazil Kaeru Foods nisei